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Psicanálise

O Trauma sob o olhar psicanalítico

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Trauma é um termo de origem grega (traûma) que significa ferida, dano ou avaria, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos danosos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico, prejudicando o seu funcionamento e a sua integração.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses, segundo Freud, encontramos traços de memória de experiências traumáticas inconscientes que surgem no discurso do paciente em análise e que foram vividas em momentos precoces do seu desenvolvimento infantil, quando a linguagem ainda incipiente, ou o psiquismo ainda imaturo, não dispunham de recursos suficientes para elaborar a intensidade do impacto psíquico produzido pelo trauma.

Sinais mnêmicos da experiência traumática, como sinais de angústia, medos, sintomas de depressão e ansiedade, segundo o olhar psicanalítico, podem passar a fazer parte integrante do psiquismo produzindo efeitos que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado, já que o inconsciente é uma instância psíquica atemporal.

O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente associada a uma memória emocional que não  se manifesta necessariamente vinculada aos fatos que a geraram, profundamente marcada no aparelho psíquico, passe a ser contornada pela linguagem e passe a fazer parte de um conteúdo psíquico com representação simbólica.  Desta forma, cria-se na análise uma oportunidade  de trabalhar o conteúdo psíquico traumático e o trauma pode deixar de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia sem nomeação, para tornar-se um registro simbolizado de vivências que podem agora, ao invés de serem repetidas de forma contínua e patológica, serem elaboradas e reintegradas de maneira a permitir um funcionamento psíquico saudável.

 

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

 Assim como as formações do inconsciente reatualizam um trauma que foi vivido há muito tempo atrás, em uma linguagem metafórica, os fósseis representam os elos que nos indicam as pistas do modo de vida de seres extintos há milhões de anos. Os fósseis são os vestígios de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram se cristalizando e fazendo parte integrante das rochas, permitindo com que os paleontólogos através dos seus estudos, possam concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta, podendo recolher, reorganizar e analisar os sinais dos eventos ocorridos em uma era em que a humanidade ainda não dispunha de recursos tecnológicos para registrá-los.

O psicanalista por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, mantêm-se vivos no inconsciente, produzindo efeitos atualizados através de sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas psíquicos. Em um processo psicanalítico, através da escuta e análise do discurso do paciente, das interpretações e intervenções psicanalíticas, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente. No texto “Recordar, Repetir e Elaborar” (1914), Freud  situa-nos frente aos três pilares fundamentais do trabalho da análise, indicando os caminhos pelos quais o paciente percorre em um processo analítico para elaborar as suas vivências traumáticas, libertar-se das fixações que o aprisionam e tratar bloqueios, sintomas e inibições que em alguns momentos críticos da sua história de vida, puderam ocasionar dificuldades e transtornos.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicoterapeuta adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Coach de Carreira membro da Sociedade Brasileira de Coaching


Consultório São Paulo:   (11) 970434427

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Perdizes e Tatuapé: Psicanálise e Neuroplasticidade

Por | Neurociências, Neuropsicanálise, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso se recompor, alterar a sua anatomia ou a sua função. O neurocientista Prof. Fúlvio Scorza, da Universidade Federal de São Paulo, em entrevista à Revista Brasileira de Psicanálise, já considerava, em 2009, a influência da psicanálise sobre a neurogênese cerebral em pacientes com depressão ou portadores de estresse pós-traumático. A influência de fatores externos ou ambientais sobre a capacidade do cérebro se regenerar já vem sendo estudada há muito tempo, mas somente após a aproximação entre neurocientistas e psicanalistas nas últimas décadas, está sendo possível desenvolver uma nova ciência, a neuropsicanálise, que se propõe a estabelecer os elos científicos entre o funcionamento cérebro/mente.

A planária é um exemplo metafórico de neuroplasticidade. Ela é capaz de regenerar-se após sofrer lesões ou até mesmo se tiver a sua cabeça cortada, e seus mecanismos genéticos de regeneração estão sendo aplicados em estudos de células-tronco. O médico e psicanalista membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise Yusaku Soussumi e fundador da Sociedade Internacional de Neuropsicanálise afirma que Freud já pensava sobre a interlocução entre o funcionamento cérebro/mente, já que foi neurologista e criador da psicanálise, mas não dispunha dos recursos de pesquisa sobre os efeitos terapêuticos da psicanálise sobre o funcionamento cerebral e sobre a capacidade de incidir na  neuroplasticidade, estudos que só foram desenvolvidos por mais de meio século após a elaboração da sua teoria.

Os efeitos das experiências traumáticas, sejam por influências internas ou externas, causam modificações no cérebro que podem ser severas e duradouras e as pesquisas atuais tentam descobrir por quais mecanismos as sessões terapêuticas são capazes de recuperar aspectos do psiquismo que foram prejudicados pelos traumas. Sob o olhar da psicanálise, quanto mais precoce uma experiência traumática, mais intensos os seus efeitos, já que o psiquismo ainda muito jovem e em estado de estruturação, possui poucas estratégias e mecanismos de defesa contra uma experiência traumática severa. Freud descobriu a importância da “talking cure” associada à possibilidade da análise e da interlocução contínua entre corpo e mente, cujas marcas desta se fixam ao longo do desenvolvimento psíquico.

A interface entre os estudos de neurociência e da neuropsicanálise do desenvolvimento tendem a encontrar as respostas que vão corroborar os achados clínicos que Freud já havia descoberto em 1900, quando escreveu “A Interpretação dos Sonhos”, como um tratado sobre o funcionamento psíquico e as leis do inconsciente, o que trará um avanço à ciência dos processos neuropsíquicos relacionados aos afetos, às fantasias, às emoções, ao desejo inconsciente e à interlocução destes com a linguagem. 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/03
Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapeuta de Casais e Famílias
Neuroeducadora CEFAC

Consultório São Paulo
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Depressão e Psicoterapia

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Um novo estudo canadense sobre depressão publicado no periódico “The Lancet Psychiatry” nesta segunda-feira revela que a depressão crônica altera as células cerebrais da glia, as microglias , que são células responsáveis pelo suporte e proteção do sistema nervoso central. O estudo liderado pelo neurocientista Jeff  Meyer aponta para a presença maior de inflamação nas microglias em pacientes com depressão crônica por mais de dez anos, que não receberam tratamento com psicofármacos.

No livro “Integrando Psicoterapia e Psicofarmacologia – Manual para Clínicos” (2015) o Doutor em Neurociências Irismar Reis de Oliveira apresenta vários estudos comprovando a eficácia das psicoterapias associadas às terapias farmacológicas, quanto ao potencial de modificarem de forma significativa as sinapses neuronais. Estudos envolvendo  as abordagens psicoterapêuticas tanto cognitivo-comportamentais como psicodinâmicas comprovam que os efeitos terapêuticos incidem diretamente no funcionamento cerebral dos pacientes estudados.

Nas terapias psicodinâmicas inclui-se a psicanálise, que é uma abordagem psicoterápica que enfoca a reelaboração de experiências traumáticas, permitindo uma reorganização psíquica que leva o paciente a reintegrar-se com sua história e com seus potenciais de desenvolvimento. Estes fatores sendo trabalhados produzem efeitos semelhantes a um novo aprendizado nas áreas cerebrais associadas à aprendizagem e à memória.  Os estudos concluíram que pacientes com depressão moderada se beneficiavam com a associação dos tratamentos psicoterápico e psicofarmacológico, e os pacientes com depressão leve poderiam ser tratados apenas com psicoterapia.

Certamente o avanço das pesquisas em neurociências tende a aproximar cada vez mais as diferentes abordagens de tratamento nos casos das depressões e outros transtornos psiquiátricos. A partir de um olhar psicanalítico, observo que os pacientes com casos de depressão que fazem análise concomitantemente ou não com o tratamento farmacológico, dependendo da gravidade do caso, desenvolvem maiores recursos psíquicos, utilizam melhor os seus mecanismos de defesa, modificam  o olhar frente às vicissitudes da vida, tendem a elaborar as angústias do passado e passam a se situar melhor no momento presente e com maior grau de resiliência. Estes efeitos terapêuticos têm uma repercussão direta nas características da depressão, já que esta psicopatologia por essência, torna o paciente fixado às vivências de perdas e desencadeia uma série de sintomas relacionados à tendência ao isolamento e suas consequências.

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06

Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae Neuroeducadora CEFAC

Interlocuções entre psicanálise e coaching

Por | Coaching, Cultura, Psicanálise | Nenhum Comentário

Estou comemorando 10 anos do meu blog e este é o meu primeiro post do novo site. Aproveito este espaço para apresentá-lo  a você e o convido a visitá-lo!

Escolhi o tema “Interlocuções entre Psicanálise e Coaching” aproveitando o momento atual em que se discute nas redes sociais a questão polêmica sobre os limites entre a atuação do coaching e as psicoterapias em geral. O coaching como  metodologia de desenvolvimento pessoal tem se expandido em progressão geométrica na sociedade brasileira e as vertentes de sua aplicação têm se tornado cada vez mais amplas. A metodologia do coaching passou a dialogar com outros campos do saber, em especial, com o saber psicológico e  sua atuação na área clínica. Na medida em que o objeto do coaching visa a mudança de comportamento dirigida à realização de desejos, sonhos, ideais e metas, ele se aproxima bastante das abordagens em psicologia clínica que também visam a mudança de comportamento, inclusive utilizando conceitos teóricos da TCC (terapia cognitivo-comportamental).

Por outro lado, conhecendo o objeto da psicanálise, o inconsciente e suas vicissitudes, os psicanalistas se perguntam: haveria uma  maneira de detectar os limites entre uma dificuldade pessoal trabalhada em um processo de coaching e as dificuldades que fazem parte de uma estrutura psíquica mais ampla?

Em minha experiência profissional de mais de vinte e cinco anos como psicóloga e psicanalista, penso que o limite é tênue entre a metodologia do coaching e as metodologias das psicoterapias, no que se refere à escuta e condução do profissional que as aplica, já que ambas trabalham com os potenciais humanos que precisam ser desenvolvidos, ampliados, tratados e/ou aperfeiçoados, e estas nuances, na atuação prática e no vínculo com o cliente, podem se confundir.

Por exemplo, ao utilizarmos a técnica e ferramenta poderosa do coaching para uma análise pessoal de potencialidades, que é a análise de SWOT, nos defrontamos com um dos aspectos mais difíceis de analisar da natureza humana, que são os pontos fracos de uma pessoa que busca o sucesso. Os  pontos fracos em um processo de coaching devem ser conduzidos com a utilização de técnicas objetivas pelo coach a partir da sua constatação, a fim de ajudar o seu cliente, o coachee a sanar as suas dificuldades e superar os obstáculos.

E quanto a um processo de análise psicanalítica? Os pontos fracos do cliente se espalham como os galhos de uma árvore frondosa e aparecem pelos meandros do discurso, distribuídos em suas mais diversas formas, chegando até às raízes e delineando o que nós, os psicanalistas, chamamos de subjetividade. Os pontos fracos podem ser identificados desde dificuldades que podem parecer simples, como por exemplo, uma dificuldade em elencar prioridades e estabelecer metas, até uma dificuldade a nível mais complexo, como uma baixa autoestima. Se compreendermos que um problema de autoestima está intimamente ligado a uma autoimagem que foi construída ao longo do  desenvolvimento psíquico de uma pessoa e suas raízes se apresentam nos registros inconscientes provenientes da infância, vemos que estamos diante de questões bem complexas do psiquismo. E estas, para serem tratadas, exigem uma análise mais aprofundada.

Então quais seriam os limites entre uma atuação e outra, já que toda a promoção de bem-estar da pessoa consigo mesma pode ser considerada terapêutica? Aqui vale a distinção entre os termos terapêutico e psicoterapêutico. Psicoterapia é uma metodologia de tratamento psíquico e pode ser aplicada somente pelo psicólogo e pelo médico psiquiatra, ao passo que terapêutica é toda prática que promove melhores níveis de saúde. Um processo de coaching que promove realização pessoal pode ser considerado terapêutico, na medida em que o cliente, ao alcançar as suas metas, pode ter os seus níveis de qualidade de vida e de saúde ampliados.

Talvez um bom critério a ser observado neste debate seja: Quando o coach  propõe-se a ajudar o seu coachee a progredir e consegue identificar que as dificuldades do seu cliente extrapolam o âmbito da objetividade ou percebe que este não responde bem às técnicas e ferramentas utilizadas no processo de coaching, este pode ser o momento certo de encaminhar este cliente para uma psicoterapia. Quem sabe este debate possa favorecer um diálogo mais aberto e uma parceria  mais eficaz nas condutas dos profissionais  envolvidos, a fim de ajudarem os seus clientes nos objetivos a serem alcançados.

Sobre a Consciência: “E o Cérebro Criou o Homem” Antonio Damásio

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

O neurocientista Antonio Damásio em seu livro  “E o Cérebro Criou o Homem” (2009) propõe-se a descrever a neurobiologia da consciência e utiliza-se do termo “testemunha” para referir-se à qualidade da mente consciente. Segundo o autor, a consciência funciona como uma testemunha da mente e esta, resultante dos processos cerebrais, compõe juntamente com a linguagem o que chamamos de self ou imagem de si mesmo. As imagens não se referem apenas ao plano visual , mas a todas as imagens sensoriais que resultam de diferentes fontes de percepção, como auditivas, olfativas, cinestésicas ou táteis, bem como provenientes de diferentes processamentos cerebrais, como linguísticos, lógicos ou matemáticos.

Para compreendermos como o cérebro torna a mente consciente Damásio utiliza-se da biologia evolucionária, explicando que a mente consciente tem passado também por um processo evolutivo sujeito a especializações necessárias e aprendizagens decorrentes da seleção natural. O corpo é a estrutura de base para a formação da consciência, que se desenvolve a partir das imagens formadas no cérebro em forma de mapas representacionais.

Como se originam os sentimentos? Damásio nos alerta: os primeiros sentimentos originam-se do tronco cerebral e não do córtex cerebral e estão relacionados ao sentimentos mais elementares como o sentimento de estar acordado ou de estar vivo. O segundo nível de self refere-se ao self central, ou seja, a relação da consciência com tudo que esteja ligado a um contexto central e atual. Por último, Damásio descreve o self autobiográfico, aquele que confere à imagem de si mesmo um olhar histórico-temporal das imagens do passado e do presente para antever o futuro, incluindo as interpretações subjetivas das experiências vividas.

O autor refere-se à consciência como uma grandiosa “obra sinfônica” capaz de coordenar informações e funções provenientes de vários níveis cerebrais e de suas relações entre o corpo, o córtex cerebral e as estruturas subcorticais. O funcionamento da consciência somente é interrompido pelo sono, por anestesia, por disfunção cerebral ou pela morte.

 

Mecanismos para administrar e preservar a vida não são exclusivos dos humanos. Pelo contrário, estão presentes inclusive entre seres unicelulares. Porém, a consciência humana confere ao homem a capacidade de criar novas maneiras de conviver nas esferas da sociedade e da cultura. A vasta capacidade da consciência permite que o ser humano faça escolhas. Mesmo que, em boa parte, suas escolhas estejam permeadas por complexos níveis inconscientes de funcionamento mental, o ser humano é capaz de afirmar o seu livre arbítrio.

A partir dos estudos sobre a consciência abre-se um vasto campo de pesquisas e novas possibilidades de articulação entre as neurociências e outras áreas da ciência e da cultura, incluindo-se a psicanálise com o seu olhar sobre os efeitos do inconsciente na estrutura do psiquismo, nas escolhas individuais, nas visões de mundo e de self, e, inclusive, sobre a consciência! A interrelação entre consciência e o funcionamento inconsciente da mente, segundo a abordagem da psicanálise, é o que permite a cada pessoa o acesso à sua subjetividade particular, ao seu perfil emocional e aos seus mecanismos de defesa através do tratamento psicanalítico.

 

 

Ao celebrar mais um ano do meu blog, agora completando o décimo ano, estou reinaugurando o meu site, que agora está mais bonito, mais moderno e mais fácil de entrar em contato comigo! Estou escrevendo novas postagens e também reatualizando as postagens antigas que foram mais significativas e que contribuíram para a compreensão de vários temas relacionados à saúde mental.

Sinto-me orgulhosa por ter conseguido cuidar do meu blog até hoje como uma mãe coruja, que não descuida da sua prole, mantendo-se alerta e permanentemente consciente de sua responsabilidade. Agradeço aos leitores por compartilharem este espaço com comentários que ampliam a nossa capacidade de reflexão e compreensão sobre o bom funcionamento do psiquismo, com idéias e informações que venham acolher as necessidades de cada um e contribuir para uma qualidade de vida melhor.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
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Olhar de frente para si mesmo Requer ousadia e serenidade

Por | Cultura, Família, Psicanálise, Reflexões | Nenhum Comentário

Os processos de psicoterapia são compreendidos como processos de autoconhecimento. Entretanto, para quem nunca fez uma terapia, este conceito parece estranho e muito vago. O que seria o autoconhecimento na área psíquica? Segundo a abordagem psicanalítica, o autoconhecimento vai muito além de conhecer as suas emoções e controlá-las quando necessário, implica descobrir sob quais mecanismos inconscientes está regido o seu psiquismo. A partir de um trabalho rigoroso de escuta do discurso do paciente o psicanalista pode ajudá-lo a descobrir as representações simbólicas que são arquivadas no inconsciente e funcionam como as motivações de suas emoções, sentimentos, pensamentos, sonhos e sintomas.

Segundo a teoria freudiana as leis do inconsciente funcionam sob os mecanismos da condensação e do deslocamento, que são mecanismos linguísticos e lógicos que se sobrepõem à logica da consciência, gerando os conteúdos inconscientes, aqueles que foram de certa maneira ocultados  da consciência frente aos limites do mundo interno e externo, às ambivalências e contradições humanas. O inconsciente é uma instância psíquica que nos move frente ao complexo universo dos afetos, desejos, ideais e emoções, e que nos leva a reagir de maneira automática e repetitiva diante das tensões cotidianas.

O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente e dos seus mecanismos. Os sonhos para o olhar psicanalítico permitem um acesso a conteúdos reprimidos que aparecem em imagens visuais e linguísticas distorcidas que se configuram nas cenas do sonho, como se o sonho realizasse uma verdadeira produção teatral, porém, com valor de realidade, o real do inconsciente. Tanto os personagens como as situações vividas no sonho têm uma íntima relação com conteúdos simbólicos reprimidos que podem vir a ser interpretados analiticamente, ou seja, fazem parte do funcionamento mental e neurolinguístico que segue uma lógica determinada, a lógica do inconsciente. Estamos, portanto, próximos ao campo da lógica e da linguística no processo analítico do autoconhecimento.

Olhar para si mesmo é um processo ousado? 

Sim, porque implica colocar as certezas a respeito de si mesmo e as suas justificativas em dúvida. Todos nós compomos histórias que nos levam a justificar como somos. A psicanálise permite ao paciente enxergar os pontos cegos na sua maneira de ser e se relacionar. Também permite elaborar psiquicamente as dores que se mantém provocando tristezas, angústias, ansiedades ou sintomas que são, por vezes, incapacitantes.

A iguana verde é um réptil dócil e extremamente tranquilo. É capaz de ficar horas na mesma posição contemplando o ambiente ao seu redor. Ela é mais verde quando jovem e vai mudando de cor conforme a idade até ficar totalmente acinzentada. A iguana sofre transformações com a idade, o que injustamente a leva a ser alvo de exemplos pejorativos no imaginário social quando chamamos alguém de “camaleão”. Na verdade, é saudável que possamos mudar a nossa autoimagem, que possamos reconhecer os efeitos da nossa história nas nossas falhas e possamos ressignificar algumas experiências difíceis, pois este processo pode coincidir com o amadurecimento tão desejado e com um novo olhar para a vida, menos rancoroso, mais paciente, mais esperançoso e mais autoconfiante.

Um projeto de autoconhecimento através da análise exige
serenidade e ousadia, 
persistência, escuta e observação.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Psicologia em casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral)

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O paciente acometido pelo AVC (Acidente Vascular Cerebral) pode apresentar sequelas motoras, alterações de linguagem e distúrbios psíquicos. Os danos psicológicos mais comuns do AVC estão ligados a sintomas depressivos, como apatia, desânimo, tristeza, irritabilidade, baixa tolerância a frustrações e perda da autoestima, o que leva o paciente a perder a esperança na recuperação plena de suas funções e reduzir os seus esforços para o processo de reabilitação. Os sintomas de linguagem compreendem desde um quadro de afasia até alterações na movimentação dos órgãos fono-articulatórios gerando dificuldades de fala, mastigação, deglutição, alterações de memória, compreensão e expressão.

Sintomas depressivos e alterações do humor

Os sintomas depressivos podem retardar o processo de recuperação na área funcional, cognitiva e motora, interferindo negativamente na recuperação da marcha, memória, fala e escrita. Os familiares podem observar alterações no comportamento do paciente que são difíceis de contornar, pois é comum o aumento da irritabilidade e agressividade frente às suas limitações físicas e motoras e às dificuldades da família em compreender e encontrar maneiras adequadas para lidar com o paciente. O sucesso da reabilitação depende de múltiplos fatores como gravidade e extensão da lesão, faixa etária,  estrutura psíquica do paciente, estrutura familiar e fatores sócio/econômico/culturais.

Entre os profissionais que compõem a equipe de reabilitação do paciente pós- AVC encontramos o psicólogo, o fonoaudiólogo e o fisioterapeuta, os quais, em parceria, podem assumir uma postura única visando a potencialização de recursos internos do paciente para a aceitação dos limites e melhora da autoestima, fator coadjuvante e fundamental para a recuperação das funções motoras ligadas à marcha, às atividades de vida diária e à comunicação oral e escrita. Algumas limitações podem ser incapacitantes e duradouras, outras podem ser minimizadas com a reabilitação, contudo todas podem causar um enorme desgaste emocional para o paciente e sua família. Em casos em que os sintomas psíquicos perduram ou intensificam-se torna-se necessário um acompanhamento psiquiátrico associado à psicoterapia.

Orientação familiar e psicologia

A orientação familiar é fundamental para facilitar a aceitação e adaptação às novas condições de vida do paciente, agora com as sequelas e perdas decorrentes do AVC, o que pode interferir no comportamento do paciente e provocar conflitos de opiniões entre os familiares quanto à melhor conduta. A família está sujeita às mudanças impostas pelas sequelas do paciente acometido pelo AVC, sendo a perda da independência e autonomia do paciente um dos problemas mais difíceis de aceitar e administrar no meio familiar. Em especial, se a família já enfrentava conflitos de relacionamento com o paciente ou com os familiares entre si, as questões de como assumir os cuidados com o paciente podem se complicar ainda mais.

Como a Fonoaudiologia foi a minha primeira carreira profissional, tenho bastante experiência em casos de AVC. Não atendo mais como fonoaudióloga. Hoje o meu trabalho é direcionado para o atendimento psicológico e psicanalítico e orientação familiar em casos de alterações psíquicas associadas a transtornos neurológicos. Também utilizo a abordagem de Coaching para a reintegração social e profissional aos pacientes com sequelas neurológicas.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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“Encontro das Águas” e metáforas psicanalíticas

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No Estado do Amazonas o Encontro das Águas entre o Rio Negro e o Rio Solimões é um fenômeno natural tão importante e tão  especial da bacia fluvial amazônica, que foi tombado como patrimônio cultural brasileiro em 2010 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Amazonas. A linha nítida de cores diferentes que divide as águas dos dois rios próximo à cidade de Manaus, mostra-nos como o Rio Negro e o Rio Solimões conseguem seguir juntos por cerca de 10 Km sem misturarem-se entre si. Suas águas se misturam após km de distância, quando o Rio Solimões recebe o nome de Amazonas e vai desaguar no Oceano Atlântico, sendo reconhecido por sua extensão e volume de água como o maior rio do planeta.

O Encontro das Águas pode ser visto em vários pontos da região norte do Brasil, mas o ponto mais marcante deste encontro ocorre próximo à cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Em uma viagem de barco a uma hora e meia de Manaus esta paisagem belíssima deixa-nos intrigados sobre como dois rios com características tão diversas conseguem seguir juntos mantendo as suas identidades próprias por tão longa extensão sem causar grandes conflitos entre si.

As águas negras, transparentes, menos densas e mais quentes do Rio Negro se juntam às águas do Solimões, de cor de barro clara, mais densa, de temperatura mais fria e com velocidade

mais rápida do que o seu parceiro de viagem.  O Encontro das Águas na maior bacia fluvial do mundo, nos oferece a olho nu, sem a necessidade de nenhum aparelho ótico ou tecnologia acessória, um verdadeiro espetáculo visual. O rio Solimões segue então o seu trajeto, agora recebendo o nome de Rio Amazonas até encontrar-se com o Oceano Atlântico. Este fenômeno natural requer mesmo uma  ampla proteção contra os impactos ambientais, e o seu tombamento como patrimônio imaterial brasileiro visa preservar a riqueza histórica e cultural entranhada nas margens deste encontro e nas histórias das populações ribeirinhas, onde apenas há poucos anos atrás foram encontrados traços arqueológicos,  revelando-nos a história sobre as origens, mitos e costumes da ocupação indígena desta região.

Conhecendo o Encontro das Águas em Manaus, pensei em uma poderosa metáfora: haveria melhor imagem visual para pensarmos o quanto ainda podemos  aprender  sobre a nossa própria história, sobre encontros e desencontros, sobre os difíceis relacionamentos que enfrentamos ao longo da vida e sobre a difícil tarefa de conciliarmos aspectos tão divergentes e contraditórios da convivência, tanto ao nível dos relacionamentos interpessoais quanto ao nível dos conflitos internos e tendências opostas da nossa própria personalidade?

A dualidade sempre presente entre o bem e o mal e amor e ódio nos contos de fadas infantis representam os conflitos internos que vivemos no dia a dia, nas dualidades de desejos opostos, nas oposições entre o princípio do prazer e o princípio da realidade e nas ambiguidades de sentimentos que às vezes nos desconcertam. Com certeza eles fazem parte da natureza humana, mas podem ser trabalhados, contornados, elaborados.

Contudo a imagem do Encontro das Águas nos incita a uma reflexão: quais elementos estariam faltando nesta análise para uma evolução mais saudável antes que pudéssemos conviver bem com as diferenças do outro e com as próprias dualidades?  Como conviver com aspectos tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo? Se a nossa psique se espelhasse no Encontro da Águas talvez descobríssemos que é preciso ter um certo grau de maturidade para encarar as diferenças individuais e que, apesar de vivermos em conflitos de idéias, origens, cores, constituição e mesmo de ritmo e velocidade de crescimento, poderíamos aprender a conviver de  uma maneira menos destrutiva,  não negando as questões das subjetividades individuais e as diferenças de poder e de liderança, presentes também no meio ambiente.

Se, por um lado, os dois rios com cores, densidade e constituição química e física diferentes, conseguem não se misturar, por outro lado, compartilham o mesmo leito, exemplo do  respeito mútuo e beleza de um encontro em que um respeita o limite do outro. As culturas indígenas, com suas características específicas encontraram nos rios e na floresta amazônica as fontes de inspiração para a criação de sua mitologia, de sua arte, com seus rituais e representações que organizaram a maneira dos indígenas conviverem com a natureza  sem tantos problemas. Com olhares diversos das culturas originais, surgiu o pensamento da não cooperação, surgiu a competição pelo espaço e pela exploração sempre crescente. Instalou-se o caos e a convivência tornou-se uma fonte de crises e destruição. Seria o princípio da cooperação e respeito mútuos um fator essencial a ser trabalhado na Terapia de Casais e Famílias? Acredito que sim. E em uma análise individual? Talvez o fator essencial fosse reconhecer e aceitar que a aparente contradição faz parte da natureza humana e é possível conviver com ela se nos dispusermos a conhecer a complexidade da natureza psíquica de maneira mais profunda e real através de uma análise.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Trauma sob o olhar da Psicanálise

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

Trauma é um termo de origem grega que significa ferida, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses encontramos sinais de experiências traumáticas que foram vividas num momento  precoce da vida durante o desenvolvimento infantil quando a linguagem ainda incipiente não podia ser utilizada para traduzir a intensidade do impacto psíquico do trauma. Os traumas também podem associar-se a sintomas depressivos e de ansiedade, colocando-se como reforçadores dos transtornos de pânico, do estresse pós-traumático, das depressões e outras patologias.

Sinais mnêmicos da experiência traumática podem passar a fazer parte do psiquismo produzindo sintomas que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado.  O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente emocional e profundamente marcada no aparelho psíquico passe a ser contornada pela linguagem. Desta forma, cria-se uma oportunidade  de reintegração do conteúdo psíquico traumático e o trauma deixa de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia e ansiedade sem nomeação para tornar-se um registro simbolizado do passado.

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

Assim como o trauma, os fósseis nos dão as pistas de um modo de vida de seres extintos há milhões de anos atrás. Os fósseis são os restos de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram enrijecendo e fazendo parte integrante das rochas, permitindo que os paleontólogos possam hoje, através dos seus estudos, concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta numa era em que os historiadores ainda não existiam.

O psicanalista, por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, se mantém vivos no inconsciente produzindo efeitos atualizados como sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas. Em um processo psicanalítico, através da escuta cuidadosa do discurso do paciente e das interpretações e intervenções do analista, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

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