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Psicanálise

Terapia de Casal, quando buscar?

Por | Conflitos no relacionamento, Crises conjugais, Dinâmicas conjugais, Relacionamentos disfuncionais, Terapia de Casal | Nenhum Comentário

 

Um dos principais ideais de relacionamento que tendemos a alimentar, encontra-se profunda e inconscientemente associado ao ideal infantil de perfeição. Naturalmente, a meta de perfeição no relacionamento amoroso produz um dilema: Por quê o meu parceiro não entende o que eu preciso e não se esforça em preencher as minhas lacunas de afeto, intimidade, sexo, romantismo, compreensão e aceitação absolutas? Quando um casal busca uma terapia, pode ser compelido por diversas motivações individuais, desde provar para o terapeuta que as suas teorias e explicações a respeito do parceiro são as mais corretas, até buscar uma parceria com o terapeuta para reafirmar ao parceiro que ele funciona como a única fonte dos conflitos em comum. Na minha longa experiência com terapia de casais, uma das afirmações mais comuns que tenho escutado logo na primeira entrevista refere-se a uma grandiosa descoberta dos casais em crise: “Descobrimos o quanto somos diferentes!!” Uau!! O que esta afirmação poderia nos revelar em um primeiro momento? Haveria uma fantasia, uma ilusão, um desejo, ou um ideal de que, em um relacionamento, os parceiros pudessem se entender tão completamente e tão perfeitamente, que nada pudesse quebrar o sonho de uma harmonia perfeita e indestrutível, ideal suavemente configurado no breve e fugaz momento da paixão? O sonho do amor perfeito começa a se desfigurar frente a subsequentes tentativas de resgatar o que fora perdido no contato com o lado desconhecido de si mesmo e do outro, nas diversas maneiras de se confrontarem com as suas diferenças individuais. O que poderia ser um incentivo para uma relação mais criativa transforma-se agora em rigidez, repetição e afastamento progressivo.

A ficção de um ideal de perfeição surge desde a mais tenra infância, no processo de identificação com as figuras materna e paterna,  na fase da estruturação do psiquismo, porém, ela se mantém inconsciente e tende a se manifestar mais eficientemente quando o sujeito se depara com uma profunda frustração. A vida a dois eventualmente leva o casal a se deparar com frustrações sequenciadas ao longo de uma jornada, e a nossa cultura coloca à disposição dos casais inúmeras tecnologias, farmacologias e terapias que propõem soluções práticas e rápidas para superar tais frustrações. Entretanto, as opções de tratamento rápido nada mais produzem do que uma intensificação da frustração e uma desesperança no relacionamento e em si próprio, por não acessarem as questões subjetivas, os mecanismos e limites construídos na relação, sua história e seus traumas.

Todo o contexto de uma terapia conjugal torna-se profundamente desafiador quando o terapeuta propõe uma revisão das interpretações que invadem o dia a dia de um casal, aquelas que se cristalizaram ao longo do relacionamento gerando profundas barreiras não somente ao nível da comunicação e do encontro sexual, mas de uma intimidade que foi se tornando cada vez mais pobre e rara. Seus efeitos são especialmente desastrosos e podem desencadear doenças psicossomáticas, doenças psíquicas como depressões, queda na autoestima, na autoimagem, na autoconfiança e uma total descrença em si e no outro.

Muitos traumas podem estar associados à dificuldade de uma entrega profunda ao outro, traumas que marcaram o sujeito na sua infância ou adolescência, que o levaram a desenvolver posturas extremamente defendidas, como se estivesse sempre vulnerável a um ataque iminente, tendo que lutar contra esta vulnerabilidade utilizando mecanismos de defesa nada eficazes para o momento atual, como negação, racionalização, e até mesmo padrões agressivos de reagir a qualquer estímulo que venha do outro. Um contexto como este tende a eliminar a possibilidade de prazer, de intimidade, de conexão emocional, de bom humor e de alegria, elementos necessários e essenciais para sustentar o equilíbrio entre um relacionamento saudável e suas crises eventuais.

Vivências difíceis de lidar como infidelidade, sentimento de abandono, sentimentos de solidão, ausência de diálogo e falta de conexão  física e emocional, podem ser extremamente ameaçadoras para a  saúde individual e do casal. Estas vivências evidenciam que o casal chegou a um limite difícil de ultrapassar, e a tentativa de manterem a relação em um nível razoavelmente sustentável, exige, ainda que haja uma forte resistência, uma postura corajosa de ambos para enxergarem, aceitarem e providenciarem uma ajuda terapêutica. A terapia de casal pode funcionar como um espelho, em que cada um se surpreende ao enxergar algo de si que não era bem percebido anteriormente e que estaria inevitavelmente associado às dinâmicas e padrões reacionais que se tornaram automáticos, repetitivos e ineficazes no processo de feed-back contínuo, cujo padrão principal de interação estaria baseado na “ação e reação”. Orientar e ajudar a analisar e repensar sobre toda esta complexidade das dinâmicas conjugais é função primordial do psicanalista e terapeuta de casais.

 

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapeuta de Casais
Email: contato@psicatarina.com   

Atos Falhos e a Psicopatologia da Vida Cotidiana

Por | Lembranças encobridoras, Parapraxias, Psicanalise, Psicopatologia, Transtornos de ansiedade, Transtornos psíquicos, Tratamento psicanalítico | Nenhum Comentário

No livro “A Psicopatologia da Vida Cotidiana”, publicado em 1901, Freud nos apresenta uma teorização sobre a importância dos fatos cotidianos que erramos “sem querer”…, que não compreendemos ou que nos surpreendem por uma aparente falta de lógica. Freud nos alerta sobre esquecimentos de palavras, lapsos de memória, lapsos de fala, de leitura e escrita, atos descuidados e erros sintomáticos, agrupando-os todos em uma categoria que denominou como psicopatologia da vida cotidiana.

Ao longo de todo o livro, como no caso do livro sobre sonhos e chistes, Freud nos apresenta um grande número de exemplos de jogos de palavras e suas extensas análises para demonstrar que o inconsciente se manifesta justamente onde aparecem os lapsos da linguagem, os esquecimentos e os atos falhos. Freud tinha uma predileção pelas parapraxias porque estas lhe permitiam estender as suas descobertas sobre o inconsciente dos pacientes com neurose, às pequenas falhas do cotidiano da vida mental normal.

Não somente as palavras esquecidas, mas aquelas que são erroneamente lembradas seguem a lei de funcionamento mental do deslocamento. O conteúdo psíquico simbólico reprimido inconsciente seria transportado de uma palavra para outra de tal forma que, ao nível da consciência, o sujeito daquele ato falho não teria acesso direto ao conteúdo inconsciente reprimido. Em grande quantidade de casos, quando um nome é esquecido e trocado por outro errôneo, este apresenta algum nível de semelhança, seja quanto à equivalência sonora, seja quanto a um significado simbólico, o que permitiu com que Freud associasse este fenômeno ao mecanismo semelhante observado nos sonhos. Freud nos revela: “Quase todas as vezes em que pude observar este fenômeno em mim mesmo, também fui capaz de explicá-lo no modo descrito acima, como se estivesse motivado pela repressão.” ( Cap. II).

No capítulo IV, Freud nos fala sobre as “lembranças encobridoras”, nome designado por ele neste estudo. Seriam aquelas lembranças que temos da infância como dados mnêmicos irrelevantes. Segundo o autor, há uma resistência que impede as lembranças realmente significativas de serem reproduzidas pela memória. Ao invés disso, as lembranças indiferentes são preservadas e podem ser reproduzidas, ao passarem pelo processo de deslocamento, em que há uma relação associativa entre um conteúdo próprio e um outro reprimido. Esta “falta de memória” teria como função proteger o psiquismo dos impactos causados por vivências mal elaboradas.

Segundo Freud, deveríamos dar mais importância ao que acontece na infância, período de estruturação do psiquismo, em que se organizam as pulsões, fase de intenso movimento psíquico e emocional, período de inúmeras transformações físicas e mentais, fenômenos sobre os quais se constroem  as noções do eu e da autoimagem. As experiências dolorosas e os eventos traumáticos da infância podem deixar marcas profundas no psiquismo, e apesar de não serem relembrados na sua integralidade, são capazes de provocar severos sintomas e psicopatologias importantes na vida adulta, pois permanecem vivos em estado de repressão inconsciente e são incompreensíveis à luz da razão e da lógica consciente.

 

 Você sabe distinguir uma flor de pessegueiro de uma flor de cerejeira? Explico sobre esta diferença na página Reflexões, publicada hoje neste site e no meu instagram: psicologacatarina.rabello 

Interpretação de Sonhos e Autoconhecimento

Por | Interpretação de sonhos, Psicanálise, Psicanalista, Psicoterapia presencial e online, Resiliência, Resiliência e autoconhecimento, Sonhos, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

Olhar de frente para si mesmo
requer ousadia e serenidade.

Os processos de psicoterapia são compreendidos como processos de autoconhecimento, entretanto, para quem nunca fez uma terapia, este conceito parece estranho e muito vago. O que seria o autoconhecimento na área da saúde mental? Segundo a abordagem psicanalítica, o autoconhecimento vai muito além de conhecer as próprias emoções e controlá-las quando necessário. Implica descobrir sob quais mecanismos inconscientes está regido o psiquismo, identificar os pontos de conflitos, elaborar as vivências dolorosas do passado e alcançar uma integração do eu mais harmônica. A partir de um trabalho rigoroso de escuta do discurso do paciente, o psicanalista pode ajudá-lo a trabalhar os conteúdos inconscientes que funcionam como motivadores para reações, sintomas e sentimentos que frequentemente não são compreendidos, ou mesmo, aceitos pelo próprio paciente.

Segundo a teoria freudiana as leis do inconsciente funcionam sob os mecanismos da condensação e do deslocamento sobre as estruturas linguísticas e lógicas que se sobrepõem à logica da consciência, gerando os sonhos, os sintomas, os chistes e os atos falhos, fazendo parte das ambivalências e contradições tão presentes no cotidiano. O inconsciente é uma instância psíquica que nos move frente ao complexo universo dos afetos, desejos, ideais e emoções, e que nos leva a reagir de maneira automática e repetitiva quando os conflitos internos e as vivências traumáticas não puderam ser bem elaborados. Independentemente do tempo em que estes registros de memória foram arquivados, o inconsciente os traz à tona na atualidade de maneira distorcida, de forma a esconder da consciência quaisquer vestígios, o que faz com que um sonho ou um sintoma tenham que ser analisados para serem compreendidos e interpretados.

O sonho foi para Freud o caminho, por excelência, da descoberta do inconsciente e seus mecanismos. O sonho, segundo o olhar psicanalítico permite um acesso a conteúdos reprimidos que aparecem nas imagens visuais e linguísticas cujas representações deslocadas e condensadas se configuram nas cenas do sonho como representações de desejos, conflitos e suas repressões. O sonho se realiza como uma verdadeira produção teatral, porém, com um valor tão intenso de experiência real, que aquilo que é vivido de uma maneira alucinatória no sonho, parece ter acontecido verdadeiramente quando acordamos no meio de um sonho. Tanto os personagens do sonho, como as situações vividas e alguns detalhes do sonho podem ter uma relação muito íntima com os conteúdos simbólicos reprimidos, o que permite serem interpretados analiticamente. Ou seja, o sonho, do ponto de vista psicanalítico, pode revelar muito do funcionamento inconsciente de quem sonha. Mesmo com as distorções próprias ao relato de um sonho devido às dificuldades de memorizá-lo fielmente, é possível analisá-lo e interpretá-lo, desde que o analista conheça a história do seu paciente. Isso nos alerta para os “decifradores” de sonhos, que não fazem nada além de especulações interpretativas, ao desconsiderarem a história do sujeito, o que leva a interpretações de sonhos padronizadas e descontextualizadas.

Olhar para si mesmo é um processo ousado?
Pode ser, na medida em que implica colocar em questão as certezas sobre si mesmo e reavaliar as próprias justificativas para o perfil emocional e comportamental. Todos nós construímos histórias que nos levam a justificar como sentimos, pensamos e agimos. A psicanálise pode facilitar ao paciente enxergar os pontos cegos na sua maneira de ser e se relacionar. Também pode contribuir na elaboração de traumas e vivências dolorosas passadas que se mantêm provocando ao longo do tempo tristezas, angústias e insatisfações que são desproporcionais às situações vividas na atualidade, por serem, na realidade, reatualizações de conflitos mal resolvidos do passado.

A iguana verde é um réptil dócil e extremamente tranquilo. É capaz de ficar horas na mesma posição contemplando o ambiente ao seu redor. Ela é mais verde quando jovem e vai mudando de cor conforme a idade até ficar totalmente acinzentada. A iguana pode ser lembrada como um bom exemplo de escuta analítica, aquela que permite ao paciente aprender também a se escutar melhor em direção ao amadurecimento e autoconhecimento. A análise pode permitir reconhecer os efeitos da história nas próprias fraquezas e fragilidades e, quem sabe, a partir deste processo, alcançar o amadurecimento tão desejado com um novo olhar para a vida, menos rancoroso, mais paciente, mais esperançoso, autoconfiante e com uma autoimagem mais positiva.

Um projeto de autoconhecimento através da análise exige uma escuta cuidadosa, serena e séria.
O aumento da capacidade de auto-observação e resiliência fazem parte das expectativas do processo
psicanalítico.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapia de abordagem psicanalítica a adultos, casais e famílias
Psicoterapia presencial e online

Consultório São Paulo:
(11) 971.121432
contato@psicatarina.com
Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

Filme “O Carteiro e o Poeta” : Reflexões sobre Psicanálise

Por | Abordagem psicanalítica, Metáforas psicanalíticas, Psicanálise | Nenhum Comentário

O filme “O Carteiro e o Poeta” ( Il Postino, 1994, Italia) foi produzido a partir de uma adaptação do romance do escritor chileno Antonio Skarmeta, “Paciência Ardente” (1985). Dirigido por Michael Redford, o filme recebeu este título só na tradução em português, nos outros idiomas foi traduzido por “O Carteiro”. O co-diretor e personagem principal Massimo Troisi, era portador de uma cardiopatia grave e morreu ao final das filmagens. O Carteiro é um filme lindíssimo, com visual e trilha sonora maravilhosos, consegue transmitir com extrema sensibilidade e beleza a construção de uma relação de amizade entre o carteiro Mario e o poeta chileno Pablo Neruda, relação esta suficientemente forte para produzir uma verdadeira transformação. O filme desenvolve-se em uma pequena ilha italiana na década de 50 onde Pablo Neruda teria ficado exilado e o carteiro Mario, pessoa simples e humilde, ao lhe entregar as cartas, passa a se interessar pela capacidade do poeta em dominar as palavras e em conquistar um novo mundo de idéias e desejos mobilizados por esse contato, que é bem restrito num primeiro momento, mas, que gradativamente vai se transformando em uma relação profunda de amizade mediada pela capacidade de empatia e de sentir cada detalhe, expressar em uma forma poética e conferir valor a tudo o que é vivido pelos sentidos.

O carteiro fica muito interessado em descobrir como Neruda consegue receber tantas cartas de  mulheres apaixonadas… qual seria a sua magia? E inicia-se aí uma linda jornada compartilhada  sobre o que o poeta lhe apresenta a respeito das metáforas. O carteiro lhe pergunta: “O que é metáfora?” O poeta responde: “Metáfora é dizer as coisas de outra maneira”. Então o carteiro diz: “Quer dizer que tudo pode virar uma metáfora?” e o poeta responde: “Sim, tudo pode ser transformado em metáfora”. O carteiro, que era filho de pescador, não gostava de pescar, e ficava enjoado com as ondas do mar, sente-se despertado a se reconectar com a beleza do mar, das ondas, do vento, e, aos poucos passa a ter um novo olhar à natureza que o cerca, conduzido pela capacidade de dar um sentido às sensações, podendo acrescentar uma forma linguística e simbólica às emoções, aos sentimentos, às suas percepções, aprendendo a transformar as palavras em metáforas, passando a acreditar que ele mesmo também poderia transformar-se em um poeta e vir a conquistar  uma mulher. Quando Neruda  questiona Mario por ter utilizado um poema dele para aproximar-se da moça que ele se apaixonara, Mario responde: “A poesia é de quem precisa dela”.

De metáfora em metáfora, poderíamos nós também fazermos este exercício de metaforizar a relação entre o carteiro e o poeta para uma relação entre o analisando e seu analista? Sim, com certeza. A  relação deles não estava isenta de uma ideologia. Neruda, em seu papel político e intelectual compartilhava uma ideologia socialista-comunista, que também despertou no carteiro uma posição crítica sobre as relações abusivas de poder político que permeavam a sociedade daquela pequena ilha onde vivia. Digamos que uma relação terapêutica psicanalítica também não está isenta de uma ideologia, já que a capacidade de falar sobre si mesmo amplia a visão como um todo, e naturalmente favorece uma consciência de si mesmo em relação ao meio, permite ao paciente perceber, ter consciência e situar-se melhor em dinâmicas de relacionamentos difíceis e favorece um olhar crítico em relação à sociedade mais ampla.

A ampliação da capacidade de simbolizar e criar novas interpretações para os afetos, emoções e experiências faz com que a pessoa torne-se um agente cada vez mais ativo de seu próprio destino, sujeito de seu próprio desejo, capaz de sair de uma posição de vítima de um destino pré-determinado para uma posição ativa em direção aos seus ideais, às suas crenças e ao seu desejo. A análise é um processo terapêutico fundamentado também pela capacidade de metaforizar, selecionar, triar o que pode ser extraído das vivências pessoais, o que contribui para a elaboração psíquica e consolidação de uma subjetividade que permite lidar melhor com a própria história, seus traumas e carências. Ao acrescentar novos sentidos ao vivido, modifica-se a cadeia circular de pensamentos e sentimentos. A capacidade de incluir palavras e simbolizar as questões que emanam de uma forma inconsciente à consciência, pode gerar novos circuitos entre as emoções e sentimentos e, desta forma, libertar o ser de uma repetição contínua, queixosa e sem vida, como é comum aos pacientes portadores de sintomas psíquicos, mentais ou psicossomáticos. Libertar-se de padrões doentios e repetitivos de sentimentos, pensamentos e relacionamentos pressupõe um longo trabalho mental, e o analista, assim como o poeta, pode assumir o papel de um fio condutor a uma abertura ao mundo da consciência de si próprio em relação ao outro e ao meio, podendo situar-se melhor nesta zona fronteiriça e de difícil acesso, que se coloca como desafio de equilíbrio e subjetividade, entre o eu e o outro. O trabalho de análise das experiências dolorosas, de traumas e de sintomas mentais é árduo, porém, potencialmente rico da capacidade de ampliação do ser para uma nova possibilidade de posicionamento em relação à própria vida e fonte de transformação real.

 

 

Catarina Rabello
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Crp 30103/06

Contato: (11) 971121432
Consultório: Perdizes: R. Ministro Godoy, 1301
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Inconsciente, um lugar secreto

Por | Abordagem psicanalítica, Inconsciente, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

No filme “Jardim Secreto” (1993), direção de Agnieszka Holland, clássico do cinema adaptado do conto infanto-juvenil escrito por Francis Burnett em 1911, uma frase se destaca entre todas as representações e se impõe como um mote: “Se você olhar bem, verá que todo mundo é um jardim”. Toda a nossa vida é um jardim potencialmente apto a germinar e crescer, desde que lhe sejam oferecidos os cuidados e requisitos essenciais, assim como um bebê em sua condição de dependência absoluta não sobreviveria em meio a um desamparo na sua radicalidade mais concreta. No filme as imagens arquivadas do jardim secreto trazem as lembranças da balança que causou a queda e por consequência o óbito da mãe ainda grávida. Esta cena congelada transformou o jardim em um lugar inacessível, proibido e duramente abandonado. No momento em que ocorre o nascimento do filho e este coincide com a morte materna, desencadeia-se uma sequência de situações que marcam uma interrupção à vida de relações, e a criança fica à mercê do isolamento e das fantasias paternas de ameaça de morte. O menino passa então a ser “protegido” e fica resguardado em seu próprio quarto como se estivesse em uma prisão ou em uma bolha, onde até mesmo a luz do sol passa a ser interpretada como uma séria ameaça à sua saúde e à sua vida.

O abandono neste filme é retratado como uma experiência comum a vários personagens, tanto crianças como adultos, mas em especial, às crianças, que vão descobrindo pouco a pouco, formas de sobreviverem ao desamparo. Cada um deles se organiza de maneira particular, e em meio a tanta aridez afetiva, surgem quase como que em um passe de mágica, soluções ora sintomáticas, ora criativas para superar a dor do abandono, do desamparo e da solidão. A aridez afetiva na infância pode desencadear poderosas e rígidas couraças que passam a se transformar em verdadeiras estruturas defensivas para pensar e interpretar o real. Felizmente em “Jardim Secreto” também escondem-se novas possibilidades e o jardim não sucumbe apenas porque o jardineiro da família, mesmo sem autorização, continua cuidando do jardim fechado e trancado, de forma secreta. Ainda restava muita vida naquele jardim aparentemente morto, e o jardineiro sabia que deveria ser discreto para não ser visto apenas como um funcionário desobediente às ordens de seu patrão e correr o risco ser afastado de sua função, já que sabia da importância da sua atuação e vivia intensamente o seu trabalho como uma verdadeira missão.

Todos somos vítimas de experiências traumáticas em momentos precoces da vida em maior ou menor grau e, de uma forma ou outra, em torno delas criamos armaduras de proteção, ora suficientes, ora exageradas, ora congruentes, ora desajustadas. Estas soluções encontramos através de equações simbólicas inconscientes, e assim criamos  mecanismos que nos permitem viver em estado de alerta permanente. O psicanalista argentino Luis Chiozza define três níveis da vida de relação; a vida pública, a vida íntima e a vida secreta. Circulamos continuamente por estes três níveis de relação, sendo a vida pública aquela que nos retrata e nos identifica de maneira seletiva para o outro em geral. A vida íntima é aquela que nos permite sermos conhecidos mais profundamente somente por poucas pessoas com as quais temos um relacionamento íntimo, e a vida secreta envolve todo um universo de experiências, sensações e pensamentos que faz parte de um mundo secreto subjetivo, em parte consciente e em grande parte inconsciente, que não é compartilhado com ninguém.

O inconsciente habita o nosso mundo secreto com suas leis gerais da lógica do inconsciente produzindo inúmeras teorias que são comprovadas a partir de cálculos e experimentações que misturam o presente e o passado, com seus traços de memória e suas representações psíquicas, o que resulta em uma lógica com características diversas da lógica da razão. São tão complexos estes cálculos, que uma vez estabelecidos, cristalizam-se como verdades absolutas regendo linhas de pensamento e de conduta reativa a tudo o que afeta o ser, de maneira muito particular. Em nosso mundo secreto só temos acesso a uma pequena parte desses cálculos, e o que nos apresenta para nós mesmos são resultantes de tentativas de busca de um apaziguamento entre estas tantas linhas teóricas de pensamento que a mente é capaz de produzir. Habita este mundo secreto também a vida das emoções, percepções, devaneios e fantasias, um misto de imaginário e realidade, um universo onírico que, de forma semelhante ao jardineiro do “Jardim Secreto”, não aceita nem ordens nem proibições, mas se mantém alimentando e cuidando do jardim à sua maneira. A vida mental secreta desenvolve-se às vezes sem limites e por este motivo corre o risco de interferir no crescimento saudável do ser e na harmonia entre os três níveis de relações, podendo manter os incontáveis conflitos intrapsíquicos em um nível tão elevado que são capazes de produzir efeitos psicopatológicos graves, severo desgaste do equilíbrio mente/corpo e supressão da energia vital.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

Psicoterapia, resiliência e saúde mental

Por | Abordagem psicanalítica, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Terapia de casais, Terapia familiar | Nenhum Comentário

Assim como o girassol busca pela iluminação do sol para crescer e florescer, a busca pela saúde encontra-se intrínseca ao ser humano. Desde que nenhuma condição atmosférica, do solo ou da própria planta prejudique o seu desenvolvimento, o girassol mantém o seu potencial criativo e estético pelas suas cores vibrantes e seu porte radiante. Acontece que algumas situações específicas e danosas podem  gerar retração, pontos de fixação e até mesmo bloqueio do desenvolvimento que, a princípio, deveria ser saudável.

O mesmo podemos observar ao longo  do desenvolvimento psíquico. Algo vivido da ordem traumática como experiências e vivências infantis que podem causar danos ao psiquismo, podem transformar-se em um obstáculo radical ao pleno desenvolvimento do indivíduo, à paralisação de sua potencialidade criativa, ao não florescimento de sua capacidade de resiliência, e cristalizar-se como um impedimento ao processo natural de busca do bem-estar consigo mesmo e com o ambiente.

Muitas vezes um broto de um girassol não consegue se desenvolver pela falta de algumas condições ambientais adequadas, porém, quem se interessa pela produção do girassol, naturalmente estuda detalhadamente todos os aspectos que possam interferir no seu processo de cultivo e crescimento.

Quando pensamos no processo de aprendizagem infantil, costumamos lembrar com maior foco das questões da aprendizagem escolar e esquecemos, não raras vezes, que a criança está passando por um processo de aprendizagem global, inclusive das habilidades necessárias à socialização, da capacidade de resiliência para a superação de conflitos e frustrações. Todo este desenvolvimento exige dos educadores um conhecimento profundo do que representa o psiquismo infantil, suas nuances psico-afetivas, sua possibilidade de gerenciar emoções, seu potencial de percepção, processamento e absorção do mundo adulto, com todas as suas razões e incoerências. Entretanto, quando os educadores se vêem obrigados a olhar as dificuldades que uma criança vem enfrentando no seu dia-a-dia, passam a dar mais valor a esta etapa do desenvolvimento e precisam mudar seus hábitos e condutas educativas, sentem-se impotentes para reverter situações familiares que já mostram sinais de adoecimento. A falta de conhecimento sobre a psicologia infantil pode levar a erros grosseiros dos educadores que podem prejudicar a construção da autoestima e autoimagem infantil, podem levar ao cultivo de medos e terrores, à inibição da criatividade, e até à impossibilidade de auto-aceitação, se não souberem lidar com equilíbrio com as falhas infantis.

Pais e educadores que repetem os modelos educativos nos quais moldaram suas personalidades resistem a questionamentos de suas incoerências, e, ao não conseguirem estabelecer um equilíbrio entre as demandas pessoais e as demandas geradas pelas dinâmicas familiares, sentem-se perdidos e atuam como se estivessem em um laboratório, onde o ensaio-e-erro é permitido. Dinâmicas familiares em que se perdem os referenciais de equilíbrio emocional podem prejudicar o desenvolvimento da capacidade infantil e futuramente do adulto, de resiliência. Entretanto, as questões que permeiam uma convivência familiar estão impregnadas de vivências e experiências mal resolvidas que marcaram as histórias dos pais e/ou educadores e mantêm-se arquivadas em redutos da memória inconsciente. Os conflitos transgeracionais tendem a se repetir até que algum evento muito impactante na história familiar possa reorganizar os elos desta cadeia de repetições incorrigíveis e inconscientes, aos quais os pais também foram expostos de maneira imperativa e indefesa.

Sem dúvida, hoje a psicanálise e as neurociências detêm muita informação para colaborar para um conhecimento mais aprofundado dos requisitos essenciais para o desenvolvimento psíquico infantil com saúde, qualidade e construção de valores e ferramentas necessárias à condução de um adulto saudável, resiliente e capaz de alcançar o bem-estar. A psicoterapia familiar e a psicoterapia de casais também podem representar possibilidades valiosas que contribuem para a reordenação das dinâmicas familiares, tanto no âmbito de tratamento como de prevenção. Casais e famílias que encontram um espaço terapêutico para elaborarem suas percepções, dúvidas e questionamentos, podem construir ambientes  emocionais mais favoráveis ao desenvolvimento familiar e individual de seus integrantes com mais equilíbrio e fluidez nas relações de afeto.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Psicanalista Crp 30103/06

Psicanálise e Psicoterapia
Terapia de Casais
Terapia Familiar

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Adolescência, riscos e conflitos

Por | Abordagem psicanalítica, Adolescentes, Depressão do adolescente, Prevenção ao suicídio, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Terapia familiar | Nenhum Comentário

O período da adolescência requer cuidados tão específicos que, muitas vezes, os pais sentem-se desorientados quanto à melhor forma de abordagem para  ajudar os seus filhos. O processo de amadurecimento do adolescente segue um ritmo marcado pelas condições do ambiente biopsicossocial, envolve aspectos da história que são permeados pelo contexto das dinâmicas familiares, suas falhas, seus padrões de comunicação e modos de interagir, está sujeito às influências  socioculturais que incidem nos valores e costumes familiares, e sofre os efeitos da turbulência de pulsões e conflitos inconscientes. Se o adolescente passa a sofrer demais com os desafios que lhe são impostos, se ele é acometido por situações de bullying ou abusos, se a sua autoimagem e autoestima vão sendo rebaixadas por vivências frustradas, mal sucedidas ou traumáticas e ele passa a ter dificuldades em relacionar-se com amigos e familiares,  este período pode  transformar-se em um grande obstáculo à conquista de espaço, com dificuldades no estabelecimento de sua identidade, podendo surgir bloqueios, inibições e sintomas de depressão, ansiedade, pânico, condutas agressivas consigo mesmo e com o outro. Neste momento não podemos negar que o adolescente necessita uma ajuda, mesmo que, a princípio, tente esconder ou não revele os seus sentimentos e dificuldades explicitamente. Este período exige uma energia tão grande do adolescente para processar todas as suas transformações, ideais e frustrações, que, em certos momentos, parece ser mais frágil e infantil do que realmente é. Por outro lado os pais ou responáveis,  ao  observarem que seus filhos estão mudando radicalmente de comportamento com mudanças significativas de humor, condutas agressivas ou estão cada vez mais fechados em um profundo isolamento afetivo, ao não compreenderem o que está acontecendo, perguntam-se a si mesmos onde foi que eles erraram, sentindo-se culpados, mas não sabendo como ajudá-los. Muitas vezes as dinâmicas familiares não favorecem o diálogo, o que torna a convivência familiar com o adolescente  ainda mais difícil e desoladora.

Os conflitos dos adolescentes podem estar associados a questões de identidade pessoal e sexual, dificuldades de autoaceitação, dificuldades com o próprio corpo, problemas de relacionamento com o grupo da mesma faixa etária, baixa estima, compulsões, inibições, sintomas psicossomáticos, dependências, e conflitos extremamente difíceis de serem elaborados por envolverem as questões de relacionamento consigo mesmo dependente da estrutura psíquica e dos mecanismos do funcionamento inconsciente. Em função da grande invasão da internet já muito cedo na vida de crianças e adolescentes,  alguns têm se tornado reféns de propostas, desafios e comentários de redes sociais que podem ser prejudiciais e até desagregadores da saúde mental. Dado um grau elevado de vulnerabilidade emocional do adolescente, em estado de sofrimento, em isolamento ou em conflito com a sua autoestima, pode tornar-se uma presa fácil para  crenças, fantasias e cultivo de um imaginário onde o desejado desafio proposto pela internet possa levar a sérios riscos de envolvimento com pessoas, condutas e comportamentos doentios, estando em risco de compartilhar e ser incentivado, como outros adolescentes, a comportamentos patológicos associados a transtornos psiquiátricos, como o cortar-se, o autoflagelo, a anorexia, e até mesmo o suicídio, como uma forma de sentir-se aceito por uma comunidade que lhe promete um compartilhamento de uma dor que não consegue expressar de outra forma.

Aos primeiros sinais de depressão ou alterações de comportamento do adolescente, como aumento do isolamento, irritabilidade, dificuldades de concentração e aprendizagem, desânimo ou agressividade, deve-se procurar a ajuda de um profissional da saúde mental capacitado para avaliar e tratar, considerando que, o adolescente inserido no contexto das dinâmicas familiares com seus problemas e suas disfuncionalidades, pode ser atendido também por uma abordagem de terapia familiar.  Uma das tentativas iniciais seria ajudar o adolescente a aceitar uma ajuda terapêutica, pela qual pudesse sentir-se acolhido em seu sofrimento e posteriormente pudesse situar-se criticamente em um mundo que, ao mesmo tempo que o seduz com promessas libertadoras, pode produzir experiências de bloqueio e aprisionamento irreversíveis. Tais riscos podem ser evitados com uma observação cuidadosa e uma postura de proteção efetiva à saúde global do adolescente. O adolescente merece ser ouvido em sua integralidade, ser respeitado em sua individualidade, sentir-se amado, protegido e acolhido em suas dúvidas e vulnerabilidades, entretanto, isso nem sempre é possível no ambiente familiar. Ao mesmo tempo em que vive em busca constante de aceitação, tem que lidar com enormes conflitos, instabilidades e inseguranças generalizadas. A escuta cuidadosa, o diálogo atento e uma atitude acolhedora  por parte de uma equipe de saúde constituem um dos enormes pilares para ajudar o adolescente na sua busca de segurança, afeto e integração saudável consigo mesmo.

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista
contato@psicatarina.com

Psicoterapia x psicanálise: um modo de lapidar o ser

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Psicoterapia Perdizes, Psicoterapia Tatuapé, Terapia de Casais Perdizes, Terapia de Casais Tatuapé, Terapia familiar sistêmica | Nenhum Comentário

Lapidação é um processo complexo que visa potencializar as características de beleza e valor das pedras preciosas, gemas e diamantes. Os diamantes estão entre as gemas mais valiosas que encontramos na natureza. Eles apresentam formas geométricas em sua forma bruta, porém, a riqueza e o valor do diamante se tornam cada vez maiores, quanto maior o grau de pureza e maior o número de facetas lapidadas na pedra bruta, produzindo efeitos de luz e  brilho que a pedra pode refletir. A lapidação brilhante significa que um diamante apresenta 58 facetas, ou seja, sofreu 58 cortes até definir a qualidade do seu brilho ímpar, que lhe confere a sua  identidade característica.

Quando tratamos de um texto escrito, também podemos lapidá-lo, encontrando as melhores palavras e buscando os melhores meios de expressão, mais claros, mais belos e mais valiosos. E quanto ao ser bruto que encontramos em nossas escondidas cavernas psíquicas, permeadas de restos e poeiras do passado, que prejudicam o nosso brilho e o aproveitamento de nossos valores mais preciosos?

Encontrar-se com a psicoterapia psicanalítica pode ser um processo tão valioso e complexo como o processo da lapidação brilhante, exigindo da dupla terapeuta e paciente um cuidado especial neste trabalho, que requer muita técnica, experiência, manejo adequado, delicadeza, paciência, mas muita firmeza e determinação em um manejo, que, de certa forma, assemelha-se ao trabalho do artesão na tarefa de ajudar o paciente a lapidar o que lhe impede de extrair o melhor de si mesmo.

Conhecer a si próprio e encontrar-se com o que pode haver de mais bruto e originário em si mesmo pode causar uma certa dor, uma certa angústia, um sentimento de insegurança frente ao novo, assim como uma resistência do paciente em acreditar que o processo de “lapidação” psíquica em uma análise possa ajudá-lo a recuperar um brilho perdido. A lapidação consiste basicamente em um processo de finos cortes que potencializam a irradiação da luz, e no psiquismo, analogamente, poderíamos pensar em como modificar e ajudar o paciente a se libertar de alguns mecanismos de defesa não mais eficientes, insuficientes ou que contribuem para o  aprisionamento da sua identidade e subjetividade. Em alguns casos o abandonar mecanismos mais primitivos e arraigados, que vem ofuscar o brilho de uma relação mais positiva com a vida, com o outro e consigo mesmo, pode ser interpretado como uma perda de identidade. Vivemos sob os reflexos de experiências dolorosas do passado, que podem se reproduzir em novas fontes de sofrimento, porém, já sem o contato consciente com as memórias antigas, acreditamos que sofremos pelas situações de vida atuais, e então todo o brilho que se esconde atrás de marcas e restos de rochas, se ofusca  e se cristaliza como barreiras impedindo a projeção do ser de maneira saudável no mundo.

As gemas minerais são resultantes de transformações geológicas de milhões de anos. Daí a famosa frase de Jules Roger Sauer: “Pedras preciosas: uma colheita que jamais se repete”.  A transformação da pedra bruta em pedra polida, porém, requer a interferência humana, de alguém que se especializou  no ofício da lapidação e na busca do brilho perfeito. Se pensarmos que este brilho já existe em potencial, poderemos delegar ao profissional da lapidação apenas uma parte do mérito do resultado final do brilhante ou do diamante lapidado. Enfim, não basta saber lapidar, é preciso encontrar-se com o diamante que se esconde entranhado nas rochas, é preciso empreender em todo um processo de garimpagem, filtragem e limpeza gradativa até o processo final de lapidação. É preciso acreditar que um tratamento psicoterápico psicanalítico possa aliar-se ao mais valioso e profundo brilho de um ser que se mostra muito opacificado pelos insucessos, frustrações e repetições sintomáticas sobre algo que não se desfaz sozinho. Pelo contrário, algo que se cristaliza a cada dia como uma desesperança, requer decisivamente a intervenção precisa de um outro com habilidades específicas e especializadas no processo de recuperação da saúde psíquica.

No mês do Janeiro Branco vamos contribuir para que mais pessoas possam empreender em um processo de psicoterapia significativo, que facilite a auto-valorização pessoal e o reencontro com a subjetividade ampliando as possibilidades de ligações saudáveis com a vida. Observe sinais de depressão em pessoas conhecidas e não se omita em sugerir um acompanhamento em saúde mental.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/6
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Consultório: (11) 971121432
Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48
Perdizes: R. Ministro Godoy, 1301

O processo psicanalítico: sonhos, metáforas e reflexões

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Reflexões, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O processo psicanalítico, assim como o percurso de uma viagem ou até mesmo a interpretação de um sonho envolve muitos momentos que não são estáticos, pelo contrário, o movimento que se produz e que é impulsionado na dinâmica terapêutica é o que permite ao paciente a evolução em sua caminhada de conhecimento, reconhecimento e elaboração de suas dúvidas, angústias e conflitos.

Acessar os mecanismos psíquicos exige uma abertura para um olhar de maneira ampla. Assim como uma viagem nos proporciona olhares através de diferentes ângulos e profundidades e os seus registros podem ser revelados por tomadas fotográficas nos seus mínimos detalhes e pormenores, assim a análise permite rever alguns pontos específicos onde a memória ficou cristalizada em suas distorcidas interpretações e possibilita reordená-las, quando e onde quer que seja desejado, dirigindo a estas um foco diferente e uma iluminação própria. Simultaneamente, é  importante valorizar as imagens que já puderam ser tratadas, cuidadas, que apresentam um bom resultado e desvendam capacidades que se encontravam adormecidas, assim como fazemos quando temos a oportunidade de obter tomadas fotográficas em horários diferentes do dia, os seus coloridos se modificam conforme a incidência da luz do sol, e tudo parece estar diferente, apesar de ser o registro de um mesmo ambiente. Estar disponível a esta viagem ao inconsciente e verificar quais as possibilidades de reorganizar e dar sentido às imagens que surgem desconexas como em um sonho, não é uma tarefa fácil, mas exige esta mesma disponibilidade que precisamos ter ao empreender em uma longa viagem, a capacidade de aceitar um tanto de surpresas e incertezas e despertar a capacidade de lidar com o novo, pois o viver exige-nos sermos capazes de lidar com o novo, e esta é uma vertente da verdadeira resiliência.

Presenciar momentos de nitidez nas imagens que se sucedem em um percurso analítico produz uma sensação de completude muito parecida ao encontro e à comunicação que realizamos em uma viagem quando nos encontramos com paisagens surpreendentes. Somente após um longo percurso é que podemos olhar quantas foram as voltas que demos, quantas curvas perigosas por onde passamos, quantas subidas e descidas, quantas e quantas vezes paramos para olhar o infinito e nos permitimos sermos invadidos por uma sensação de encantamento diante da imensa complexidade da vida e do nosso mundo repleto de imagens que ora se integram, ora se complementam, formando um enredo e contando uma história muito particular! Esta viagem, sem dúvidas, não tem como nos trazer de volta ao que éramos antes, se, de fato… tomarmos os devidos cuidados. As metas da análise, assim como da interpretação de um sonho, ou de uma viagem, incluem encontrar-se com uma gestalt, que possa ser única, representável e capaz de elevar a capacidade de dar sentido e produzir uma fruição, assim como nos sentimos quando podemos fruir de uma obra de arte que realmente nos toca, pois diante deste contato, nos sentimos mais humanos e podemos dar mais valor aos sensíveis e delicados momentos de uma grande emoção.

Quais são os cuidados necessários? Assim como o condutor em uma viagem deve conhecer bem o caminho e ser habilitado perfeitamente a empreender em condições seguras uma viagem, assim se exige de um analista, que seja capaz de acompanhar seguramente o processo analítico de seu paciente, que conheça as leis do funcionamento mental, que esteja apto à condução segura em pontos arriscados e temerosos do seu percurso, que permita ao seu paciente escolher as imagens que ele queira tomar como significativas, que o motive a continuar descobrindo novos encontros com a sua subjetividade, e que o faça de maneira inédita, singular, profunda e em especial, resultante em sentidos que reforcem a alegria em desvendar-se a si mesmo e situar-se, ao mesmo tempo, na imensidão das possibilidades de construir o próprio percurso e traçar a sua própria trajetória.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae

Contato: (11) 97043 4427
contato@psicatarina.com

 

Indicações da Psicanálise Perdizes e Tatuapé

Por | Abordagem psicanalítica, Autoimagem e autoestima, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Estamos sendo capturados a todo momento por um universo cujo volume incessante de imagens e informações direcionam, de certa forma, os nossos desejos, pensamentos, sonhos e emoções. Estar imerso neste mundo de riqueza de linguagens e velocidades diversas pode nos levar a uma maior vulnerabilidade psíquica e, consequentemente, à perda de contato com os aspectos mais subjetivos do ser.

As perguntas “Quem sou?” e “O que preciso para ser feliz?”  estão sendo respondidas a todo o momento por uma quantidade enorme de demandas externas que nos cercam. Entretanto, a linguagem interna dos sentimentos, sensações, desejos e emoções, muitas vezes não consegue ser capturada com tanta clareza como os signos linguísticos que nos invadem continuamente pelos meios da comunicação digital.

As sensações de angústia, tristeza, ansiedade, medo, incerteza e insatisfação podem ocupar o espaço interno mental sem que o indivíduo tenha consciência da importância da conexão consigo mesmo, com as suas questões subjetivas, ou com os efeitos das marcas de sua história de vida no psiquismo.

A falta de sintonia entre as demandas psíquicas internas e as demandas do mundo externo pode levar a idealizações dissociadas da realidade, produzindo um desgaste da autoimagem e autoestima. As dificuldades emocionais ligadas aos insucessos em lidar com os desafios da vida podem desencadear sintomas psíquicos associados às depressões, medos e ansiedades, que comprometem o desenvolvimento global do indivíduo e o processo de escolhas que remetem à realização de um sonho de felicidade almejada.

Poder falar de si mesmo em um processo terapêutico é uma oportunidade de reconectar-se com o ser subjetivo que encontra-se permeado de expectativas e frustrações por vezes muito intensas, contraditórias ou duradouras. De certa forma, o que possibilita com que uma pessoa conviva tanto tempo com um elevado grau de angústia, sofrimento e insatisfação está relacionado ao seu potencial de resiliência. Entretanto, o equilíbrio emocional pode tornar-se frágil e desgastado pela ineficácia das defesas internas, que já não conseguem suportar o nível de estresse psíquico. Ao surgirem sintomas de depressão, ansiedade, medo, pânico, ou sintomas de origem psicossomática, que prejudicam significativamente a qualidade de vida,  a pessoa se dirige finalmente à procura de uma ajuda terapêutica. Entretanto, se esta procura de ajuda é adiada por muito tempo e por diversos motivos, maiores se tornam os desdobramentos de uma falta de sintonia do paciente consigo mesmo, tornando mais complexas as suas dificuldades e mais cristalizadas as suas sintomatologias.

Na abordagem psicanalítica, os sintomas psíquicos ou psicossomáticos, aqueles que associam as questões inconscientes aos sintomas físicos, podem ser analisados e interpretados como indicativos de dificuldades importantes em conciliar os conflitos provenientes da luta entre as questões da subjetividade inconsciente.  Estes conflitos podem ter origem até nas vivências mais remotas da infância e as suas representações podem ser trazidas à consciência através da escuta analítica e serem trabalhadas através da análise.

A psicoterapia de abordagem psicanalítica pode ajudar o paciente a reconciliar-se consigo mesmo, com sua história de vida e seus traumas, identificar os valores que orientam a sua vida, resgatar os recursos psíquicos que lhe permitam lidar melhor com a sua subjetividade inconsciente, recuperar ou desenvolver a capacidade de manter o equilíbrio corpo/mente e seguir no desenvolvimento de seus potenciais para a auto-realização, saúde e bem-estar.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Neuroeducadora CEFAC

Consultório: São Paulo-SP
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