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Estruturas sociais

“De Corpo e Alma” (On Body and Soul – Ildiko Enyedi)

Por | Cultura | Nenhum Comentário

 

 

“De Corpo e Alma” trata-se de um filme eminentemente sensorial, capaz de produzir uma experiência de retorno à fase mais primária de cada um de nós, que é a da criança recém-nascida, aberta a todos os estímulos sensoriais do ambiente, porém, sem conseguir integrá-los num primeiro momento com os referenciais linguísticos da nossa cultura. Se por um lado, a socialização nos proporciona a convivência social e a entrada no mundo da cultura, por outro lado, somos destituídos do potencial desta sensibilidade mais genuína e exacerbada ao longo deste processo.

Este filme é assim, pura sensação, emoção e o desenrolar de uma história de amor com um desenvolvimento lento, permeado por poucas falas, um silêncio encantador, e a personagem principal, com o seu perfil autístico, nos leva a reconhecer a riqueza da construção de um laço nos detalhes de uma relação delicada, intensa e perigosa ao mesmo tempo.

A emoção conduz ao  desenvolvimento de um conteúdo profundo sobre uma relação que se inicia de forma não convencional e é tratada de uma forma extremamente cuidadosa pela diretora e escritora húngara Ildikó Enyedi, em “Corpo e Alma”. O filme ganhou o prêmio Urso de Ouro em Berlim em 2017 e foi indicado para o Oscar em 2018.

A escritora e diretora húngara traz ao público uma reflexão sobre as vicissitudes da sociedade pós-moderna quanto às dificuldades que enfrentamos para estabelecer laços de afeto, em uma sociedade que preza pela velocidade e consequente superficialidade dos encontros com o outro. O distanciamento e rigidez nas estratégias de defesas que criamos ao contato com o outro quase congelam as possibilidades de um encontro verdadeiramente afetivo. O filme nos convida, como se  pudéssemos em uma relação especular, reconhecer a nossa presença autística no mundo, a evitar feridas e a dor dos encontros e desencontros.

Trata-se de uma história de amor entre dois personagens marcados por um distanciamento inicial, personagens fechados no seu mundo interno por suas couraças, mas, que aos poucos, foram se abrindo para uma relação de profunda identificação. Através dos encontros que eram marcados inicialmente pela capacidade de sonharem os mesmos sonhos, e através desta descoberta em  sonhos, puderam romper as barreiras que os distanciavam e viver  intensamente as vicissitudes do amor, incluindo a dor do do ciúmes, da perda e a recompensa da entrega. Um verdadeiro filme de arte, amei!

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
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