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Abordagem psicanalítica

Interpretação de Sonhos e Autoconhecimento

Por | Interpretação de sonhos, Psicanálise, Psicanalista, Psicoterapia presencial e online, Resiliência, Resiliência e autoconhecimento, Sonhos, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

Olhar de frente para si mesmo
requer ousadia e serenidade.

Os processos de psicoterapia são compreendidos como processos de autoconhecimento, entretanto, para quem nunca fez uma terapia, este conceito parece estranho e muito vago. O que seria o autoconhecimento na área da saúde mental? Segundo a abordagem psicanalítica, o autoconhecimento vai muito além de conhecer as próprias emoções e controlá-las quando necessário. Implica descobrir sob quais mecanismos inconscientes está regido o psiquismo, identificar os pontos de conflitos, elaborar as vivências dolorosas do passado e alcançar uma integração do eu mais harmônica. A partir de um trabalho rigoroso de escuta do discurso do paciente, o psicanalista pode ajudá-lo a trabalhar os conteúdos inconscientes que funcionam como motivadores para reações, sintomas e sentimentos que frequentemente não são compreendidos, ou mesmo, aceitos pelo próprio paciente.

Segundo a teoria freudiana as leis do inconsciente funcionam sob os mecanismos da condensação e do deslocamento sobre as estruturas linguísticas e lógicas que se sobrepõem à logica da consciência, gerando os sonhos, os sintomas, os chistes e os atos falhos, fazendo parte das ambivalências e contradições tão presentes no cotidiano. O inconsciente é uma instância psíquica que nos move frente ao complexo universo dos afetos, desejos, ideais e emoções, e que nos leva a reagir de maneira automática e repetitiva quando os conflitos internos e as vivências traumáticas não puderam ser bem elaborados. Independentemente do tempo em que estes registros de memória foram arquivados, o inconsciente os traz à tona na atualidade de maneira distorcida, de forma a esconder da consciência quaisquer vestígios, o que faz com que um sonho ou um sintoma tenham que ser analisados para serem compreendidos e interpretados.

O sonho foi para Freud o caminho, por excelência, da descoberta do inconsciente e seus mecanismos. O sonho, segundo o olhar psicanalítico permite um acesso a conteúdos reprimidos que aparecem nas imagens visuais e linguísticas cujas representações deslocadas e condensadas se configuram nas cenas do sonho como representações de desejos, conflitos e suas repressões. O sonho se realiza como uma verdadeira produção teatral, porém, com um valor tão intenso de experiência real, que aquilo que é vivido de uma maneira alucinatória no sonho, parece ter acontecido verdadeiramente quando acordamos no meio de um sonho. Tanto os personagens do sonho, como as situações vividas e alguns detalhes do sonho podem ter uma relação muito íntima com os conteúdos simbólicos reprimidos, o que permite serem interpretados analiticamente. Ou seja, o sonho, do ponto de vista psicanalítico, pode revelar muito do funcionamento inconsciente de quem sonha. Mesmo com as distorções próprias ao relato de um sonho devido às dificuldades de memorizá-lo fielmente, é possível analisá-lo e interpretá-lo, desde que o analista conheça a história do seu paciente. Isso nos alerta para os “decifradores” de sonhos, que não fazem nada além de especulações interpretativas, ao desconsiderarem a história do sujeito, o que leva a interpretações de sonhos padronizadas e descontextualizadas.

Olhar para si mesmo é um processo ousado?
Pode ser, na medida em que implica colocar em questão as certezas sobre si mesmo e reavaliar as próprias justificativas para o perfil emocional e comportamental. Todos nós construímos histórias que nos levam a justificar como sentimos, pensamos e agimos. A psicanálise pode facilitar ao paciente enxergar os pontos cegos na sua maneira de ser e se relacionar. Também pode contribuir na elaboração de traumas e vivências dolorosas passadas que se mantêm provocando ao longo do tempo tristezas, angústias e insatisfações que são desproporcionais às situações vividas na atualidade, por serem, na realidade, reatualizações de conflitos mal resolvidos do passado.

A iguana verde é um réptil dócil e extremamente tranquilo. É capaz de ficar horas na mesma posição contemplando o ambiente ao seu redor. Ela é mais verde quando jovem e vai mudando de cor conforme a idade até ficar totalmente acinzentada. A iguana pode ser lembrada como um bom exemplo de escuta analítica, aquela que permite ao paciente aprender também a se escutar melhor em direção ao amadurecimento e autoconhecimento. A análise pode permitir reconhecer os efeitos da história nas próprias fraquezas e fragilidades e, quem sabe, a partir deste processo, alcançar o amadurecimento tão desejado com um novo olhar para a vida, menos rancoroso, mais paciente, mais esperançoso, autoconfiante e com uma autoimagem mais positiva.

Um projeto de autoconhecimento através da análise exige uma escuta cuidadosa, serena e séria.
O aumento da capacidade de auto-observação e resiliência fazem parte das expectativas do processo
psicanalítico.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapia de abordagem psicanalítica a adultos, casais e famílias
Psicoterapia presencial e online

Consultório São Paulo:
(11) 971.121432
contato@psicatarina.com
Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

Terapia de Casais: Parceria e Conflito

Por | Ansiedade, Depressão, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Terapia de Casais Perdizes, Terapia de Casal, Terapia de casal online, Terapia de casal psicanalítica | Nenhum Comentário

A terapia de casais na abordagem psicanalítica envolve uma compreensão das dinâmicas interpessoais combinada com uma compreensão das dinâmicas intrapsíquicas individuais de cada um dos parceiros. Um relacionamento de casal é mais do que a soma de duas pessoas. É verdadeiramente, o resultante do que elas conseguem criar, integrando os aspectos conscientes e inconscientes em um misto de ideais e expectativas que vão se realizando ou simplesmente confirmando uma frustração e a reatualização de conflitos pessoais profundos. Freud identifica a raiz de conflitos inconscientes no momento da estruturação psíquica nos primeiros anos da infância. Partindo do princípio que os conflitos inconscientes poderão fazer parte ao longo de toda a vida do indivíduo, é na relação conjugal que temos um terreno fértil para o reaparecimento dos mesmos, reatualizados na convivência diária das dificuldades da parceria saudável, e muitas vezes, reconhecidos através do mecanismo da projeção, como sendo causados pelo parceiro. Se ambos apresentam muitas dificuldades psíquicas provenientes das falhas e carências emocionais de suas histórias familiares e dos traumas pessoais, a parceria pode tornar-se um imenso caldeirão de frustrações e mágoas sucessivas, ameaçadoras da saúde individual e da saúde do relacionamento. Podem surgir angústias insuportáveis, e o aparecimento de sintomas como depressão, ansiedade e doenças psicossomáticas.

A busca pela terapia de casais pode ser uma alternativa para um olhar mais profundo sobre as dinâmicas que o casal construiu e não estão sendo suficientemente boas para os dois. Se não tratadas e não analisadas, estas dinâmicas podem chegar a um estágio de insuficiência máxima, com o aparecimento de agressões verbais, e até mesmo, físicas, além de ameaças de abandono real e emocional. O terapeuta de casais com abordagem psicanalítica pode ajudar o casal a vencer algumas resistências e desenvolver um novo olhar para o relacionamento onde os parceiros possam reencontrar-se com os conflitos subjetivos que podem estar sendo perpetuados na teia das tensões conjugais. A terapia de casais, neste caso, busca reduzir o grau de disfuncionalidade da relação auxiliando na conscientização de mecanismos que se repetem e são inconscientes.

Toda a gama de conflitos interpessoais pode estar contaminada por conflitos subjetivos mal resolvidos da história pessoal de cada um. Neste estágio de percepção, a terapia da casal pode evoluir para uma terapia individual, onde cada parceiro com seu terapeuta distinto, possa se aprofundar nos modelos familiares internalizados que mobilizam tantas angústias e frustrações. O trabalho terapêutico, portanto, não finaliza na compreensão das dinâmicas interpessoais do casal. Pelo contrário, se inicia por aí, com uma conscientização sobre o que eles criaram como modelo de relacionamento, o que eles gostariam de criar, e qual a qualidade de dinâmica eles desejam construir após se depararem com seus limites, fragilidades e potencialidades, aspectos que precisam ser analisados e elaborados psiquicamente em uma análise individual.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicoterapia de Casais       Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapia individual e de casais online

Contato: (11) 971.121432
contato@psicatarina.com

Consultório: São Paulo- Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

Diálogos Prováveis / Psicanalista Catarina Rabello

Por | Abordagem psicanalítica, Diálogos em Psicanálise e Poesia, Dinâmicas de Relacionamento, Psicanálise, Psicoterapia de Casal, Simbolização e elaboração psíquica, Subjetividade e autoconhecimento, Terapia familiar sistêmica, Terapias de Casais | Nenhum Comentário

 

Entre mim e você
Centenas de milhares de quilômetros
Quase nada comparado ao cosmo
No tudo ou nada que nos une
Às vezes sou Terra
Às vezes sou Lua

Orbitamos o mesmo espaço
Suportamos marcas e crateras gigantes
Sob o calor do mesmo sol
Lado a lado caminhamos
As estrelas que admiramos
Seriam as mesmas que focamos?

O seu lado escuro
Tanto mistério para mim…
Por mais que eu me esforce
Não consigo ver em você
O que você vê em mim
Me desdobro em transparência
Você se mostra por inteiro
Porém só na aparência

Mas que paradoxo!
Tão maior e mais potente
Não consigo ultrapassar
Nem as linhas mais tênues
De um horizonte resistente

Relação leve vulnerável
Rígida e incógnita
Alusão e ilusão submersas
Tão familiar e estranha atração

Diálogo provável e improvável
No silêncio da escuridão
Segue eternamente estável
O mistério de uma relação

 

As dificuldades de relacionamento amoroso nem sempre são evidentes num primeiro momento. Em geral, após passado o momento da paixão, iniciam-se os conflitos e questionamentos, e quantas dúvidas aparecem sobre o lado que não estava tão acessível quanto ao outro e a si mesmo nesta relação, com dinâmicas específicas e difíceis de lidar, que podem gerar sofrimento e sintomas psíquicos e requerem a ajuda de um profissional especializado.

 

Catarina Rabello
Psicanalista Psicóloga Crp 30103/06
Psicoterapeuta de Casais e Famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Consultório São Paulo: (11) 971121432
Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48
Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

 

Terapia de Casal, uma colcha de retalhos?

Por | Abordagem psicanalítica, Dinâmicas disfuncionais, Metáforas psicanalíticas, Psicanálise, Simbolização e elaboração psíquica, Terapia de Casal, Trabalho do Sonho | Nenhum Comentário

Se, em um primeiro momento, podemos observar o trabalho finalizado de uma colcha de retalhos como uma produção elaborada de arte que nos transmite uma harmonia e até uma tranquilidade ao olhar, num segundo momento, podemos nos perguntar: qual foi o segredo para chegar a este resultado tão complexo?

Sob diversos pontos de vista podemos estabelecer metáforas entre o processo psicanalítico/psicoterápico e os passos do trabalho artesanal que envolvem o costurar uma colcha de retalhos, lembrando-nos que esta é uma arte antiga passada de geração a geração e que não morre apesar de toda a facilidade que temos em adquirir uma colcha industrializada. A arte manual carrega um valor especial por excelência, pois jamais será possível nem desejável produzir uma outra peça de arte idêntica à original. A integração entre o criador e a sua arte é única,  assim como cada encontro humano jamais poderá ser reproduzido substituindo-se uma pessoa por outra, ou com a mesma pessoa em momentos diferentes de uma mesma história.

Se pudermos seguir todos os passos desta criação artesanal, iniciamos pensando nas etapas que organizam o processo de fabricação até chegarmos ao trabalho final, como a escolha dos tecidos, das formas, das cores, dos tamanhos, da disposição dos retalhos, enfim, pensamos em todos os detalhes técnicos da produção. Se quisermos transformar este momento de produção criativa em um ato terapêutico,  podemos acrescentar uma leitura simbólica deste fazer, e, com toda a possibilidade de integrar sentidos aos pequenos passos deste trabalho, agregamos vida, sentimento, desejo, emoção, força,  potencial, e tudo o que for passível de ser projetado neste rico trabalho artesanal.

A possibilidade de  agregar sentidos a um ato de criação transforma-o por si só em um veículo de elaboração de vivências tanto objetivas quanto subjetivas. Objetivo é o ato de costurar, porém, nada mais subjetivo do que poder costurar as vivências internas, aquelas que especialmente transbordam quaisquer limites se não forem bem organizadas e costuradas pelo psiquismo adulto. O ato da costura é por demais dolorido porque é precedido por inúmeros cortes, e nem sempre é fácil escolher o ângulo e a dimensão do corte… às vezes cortamos demais, às vezes de menos. Fazer parte de um processo terapêutico exige uma crença de que a dupla terapeuta/paciente, analista/analisando, seja mais habilidosa para lidar com os cortes e costuras do que empreender-se neste processo solitariamente. A agulha e a linha são os suportes fundamentais a uma costura bem feita, firme e resistente, porém, não basta o momento do planejamento, da idealização, do desejo de criar algo novo. É fundamental por a mão na massa, começar a recortar os retalhos conforme eles forem aparecendo a cada dia, e fazer algo semelhante ao que a nossa mente realiza nos sonhos noturnos, ela se propõe justamente a dar uma forma e um enredo a tantos traços de percepções irregulares e contraditórias, que não se sabe a princípio qual a origem, qual o tema, muito menos quem é o principal personagem do sonho. Entretanto, em questão de segundos, entre um insight e outro,  toda uma configuração interpretativa de um sonho pode reorganizar o seu enredo. Este é um trabalho altamente complexo de análise, de síntese e de elaboração mental, um verdadeiro trabalho artesanal de ligação ponto a ponto, delicado e único da arte de costurar. Uma analogia a esta reflexão podemos considerar com a temática do filme “Colcha de Retalhos”, no original “How to Make an American Quilt” (1995) em que as histórias de amor se entrelaçam com as variadas possibilidades de reconstrução e ressignificação com resultados inéditos, tudo em um enredo leve e marcado por histórias de encontros e desencontros amorosos, ao longo de uma composição grupal que permite um contorno bem cuidadoso de cada retalho que compõe a representação viva do todo, integrando passado e presente em uma composição ao mesmo tempo estética e simbólica.

 

Trechos do filme “How to Make an American Quilt”:

Como Ana disse,
para fazer uma colcha…
deve escolher os retalhos com cuidado.
Se escolher bem, dará destaque à obra…
se escolher mal, as cores ficam sem vida e tiram a sua beleza.

Não há regras a serem seguidas.
Deve-se seguir o instinto e ser corajosa.

 

Catarina Rabello

Psicóloga e Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
E-mail: contato@psicatarina.com

 

Fotografia: José Murilo – Colcha de Retalhos de Tecido (Paraty – RJ)

 

 

Psicoterapia, resiliência e saúde mental

Por | Abordagem psicanalítica, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Terapia de casais, Terapia familiar | Nenhum Comentário

Assim como o girassol busca pela iluminação do sol para crescer e florescer, a busca pela saúde encontra-se intrínseca ao ser humano. Desde que nenhuma condição atmosférica, do solo ou da própria planta prejudique o seu desenvolvimento, o girassol mantém o seu potencial criativo e estético pelas suas cores vibrantes e seu porte radiante. Acontece que algumas situações específicas e danosas podem  gerar retração, pontos de fixação e até mesmo bloqueio do desenvolvimento que, a princípio, deveria ser saudável.

O mesmo podemos observar ao longo  do desenvolvimento psíquico. Algo vivido da ordem traumática como experiências e vivências infantis que podem causar danos ao psiquismo, podem transformar-se em um obstáculo radical ao pleno desenvolvimento do indivíduo, à paralisação de sua potencialidade criativa, ao não florescimento de sua capacidade de resiliência, e cristalizar-se como um impedimento ao processo natural de busca do bem-estar consigo mesmo e com o ambiente.

Muitas vezes um broto de um girassol não consegue se desenvolver pela falta de algumas condições ambientais adequadas, porém, quem se interessa pela produção do girassol, naturalmente estuda detalhadamente todos os aspectos que possam interferir no seu processo de cultivo e crescimento.

Quando pensamos no processo de aprendizagem infantil, costumamos lembrar com maior foco das questões da aprendizagem escolar e esquecemos, não raras vezes, que a criança está passando por um processo de aprendizagem global, inclusive das habilidades necessárias à socialização, da capacidade de resiliência para a superação de conflitos e frustrações. Todo este desenvolvimento exige dos educadores um conhecimento profundo do que representa o psiquismo infantil, suas nuances psico-afetivas, sua possibilidade de gerenciar emoções, seu potencial de percepção, processamento e absorção do mundo adulto, com todas as suas razões e incoerências. Entretanto, quando os educadores se vêem obrigados a olhar as dificuldades que uma criança vem enfrentando no seu dia-a-dia, passam a dar mais valor a esta etapa do desenvolvimento e precisam mudar seus hábitos e condutas educativas, sentem-se impotentes para reverter situações familiares que já mostram sinais de adoecimento. A falta de conhecimento sobre a psicologia infantil pode levar a erros grosseiros dos educadores que podem prejudicar a construção da autoestima e autoimagem infantil, podem levar ao cultivo de medos e terrores, à inibição da criatividade, e até à impossibilidade de auto-aceitação, se não souberem lidar com equilíbrio com as falhas infantis.

Pais e educadores que repetem os modelos educativos nos quais moldaram suas personalidades resistem a questionamentos de suas incoerências, e, ao não conseguirem estabelecer um equilíbrio entre as demandas pessoais e as demandas geradas pelas dinâmicas familiares, sentem-se perdidos e atuam como se estivessem em um laboratório, onde o ensaio-e-erro é permitido. Dinâmicas familiares em que se perdem os referenciais de equilíbrio emocional podem prejudicar o desenvolvimento da capacidade infantil e futuramente do adulto, de resiliência. Entretanto, as questões que permeiam uma convivência familiar estão impregnadas de vivências e experiências mal resolvidas que marcaram as histórias dos pais e/ou educadores e mantêm-se arquivadas em redutos da memória inconsciente. Os conflitos transgeracionais tendem a se repetir até que algum evento muito impactante na história familiar possa reorganizar os elos desta cadeia de repetições incorrigíveis e inconscientes, aos quais os pais também foram expostos de maneira imperativa e indefesa.

Sem dúvida, hoje a psicanálise e as neurociências detêm muita informação para colaborar para um conhecimento mais aprofundado dos requisitos essenciais para o desenvolvimento psíquico infantil com saúde, qualidade e construção de valores e ferramentas necessárias à condução de um adulto saudável, resiliente e capaz de alcançar o bem-estar. A psicoterapia familiar e a psicoterapia de casais também podem representar possibilidades valiosas que contribuem para a reordenação das dinâmicas familiares, tanto no âmbito de tratamento como de prevenção. Casais e famílias que encontram um espaço terapêutico para elaborarem suas percepções, dúvidas e questionamentos, podem construir ambientes  emocionais mais favoráveis ao desenvolvimento familiar e individual de seus integrantes com mais equilíbrio e fluidez nas relações de afeto.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Psicanalista Crp 30103/06

Psicanálise e Psicoterapia
Terapia de Casais
Terapia Familiar

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Adolescência, riscos e conflitos

Por | Abordagem psicanalítica, Adolescentes, Depressão do adolescente, Prevenção ao suicídio, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Terapia familiar | Nenhum Comentário

O período da adolescência requer cuidados tão específicos que, muitas vezes, os pais sentem-se desorientados quanto à melhor forma de abordagem para  ajudar os seus filhos. O processo de amadurecimento do adolescente segue um ritmo marcado pelas condições do ambiente biopsicossocial, envolve aspectos da história que são permeados pelo contexto das dinâmicas familiares, suas falhas, seus padrões de comunicação e modos de interagir, está sujeito às influências  socioculturais que incidem nos valores e costumes familiares, e sofre os efeitos da turbulência de pulsões e conflitos inconscientes. Se o adolescente passa a sofrer demais com os desafios que lhe são impostos, se ele é acometido por situações de bullying ou abusos, se a sua autoimagem e autoestima vão sendo rebaixadas por vivências frustradas, mal sucedidas ou traumáticas e ele passa a ter dificuldades em relacionar-se com amigos e familiares,  este período pode  transformar-se em um grande obstáculo à conquista de espaço, com dificuldades no estabelecimento de sua identidade, podendo surgir bloqueios, inibições e sintomas de depressão, ansiedade, pânico, condutas agressivas consigo mesmo e com o outro. Neste momento não podemos negar que o adolescente necessita uma ajuda, mesmo que, a princípio, tente esconder ou não revele os seus sentimentos e dificuldades explicitamente. Este período exige uma energia tão grande do adolescente para processar todas as suas transformações, ideais e frustrações, que, em certos momentos, parece ser mais frágil e infantil do que realmente é. Por outro lado os pais ou responáveis,  ao  observarem que seus filhos estão mudando radicalmente de comportamento com mudanças significativas de humor, condutas agressivas ou estão cada vez mais fechados em um profundo isolamento afetivo, ao não compreenderem o que está acontecendo, perguntam-se a si mesmos onde foi que eles erraram, sentindo-se culpados, mas não sabendo como ajudá-los. Muitas vezes as dinâmicas familiares não favorecem o diálogo, o que torna a convivência familiar com o adolescente  ainda mais difícil e desoladora.

Os conflitos dos adolescentes podem estar associados a questões de identidade pessoal e sexual, dificuldades de autoaceitação, dificuldades com o próprio corpo, problemas de relacionamento com o grupo da mesma faixa etária, baixa estima, compulsões, inibições, sintomas psicossomáticos, dependências, e conflitos extremamente difíceis de serem elaborados por envolverem as questões de relacionamento consigo mesmo dependente da estrutura psíquica e dos mecanismos do funcionamento inconsciente. Em função da grande invasão da internet já muito cedo na vida de crianças e adolescentes,  alguns têm se tornado reféns de propostas, desafios e comentários de redes sociais que podem ser prejudiciais e até desagregadores da saúde mental. Dado um grau elevado de vulnerabilidade emocional do adolescente, em estado de sofrimento, em isolamento ou em conflito com a sua autoestima, pode tornar-se uma presa fácil para  crenças, fantasias e cultivo de um imaginário onde o desejado desafio proposto pela internet possa levar a sérios riscos de envolvimento com pessoas, condutas e comportamentos doentios, estando em risco de compartilhar e ser incentivado, como outros adolescentes, a comportamentos patológicos associados a transtornos psiquiátricos, como o cortar-se, o autoflagelo, a anorexia, e até mesmo o suicídio, como uma forma de sentir-se aceito por uma comunidade que lhe promete um compartilhamento de uma dor que não consegue expressar de outra forma.

Aos primeiros sinais de depressão ou alterações de comportamento do adolescente, como aumento do isolamento, irritabilidade, dificuldades de concentração e aprendizagem, desânimo ou agressividade, deve-se procurar a ajuda de um profissional da saúde mental capacitado para avaliar e tratar, considerando que, o adolescente inserido no contexto das dinâmicas familiares com seus problemas e suas disfuncionalidades, pode ser atendido também por uma abordagem de terapia familiar.  Uma das tentativas iniciais seria ajudar o adolescente a aceitar uma ajuda terapêutica, pela qual pudesse sentir-se acolhido em seu sofrimento e posteriormente pudesse situar-se criticamente em um mundo que, ao mesmo tempo que o seduz com promessas libertadoras, pode produzir experiências de bloqueio e aprisionamento irreversíveis. Tais riscos podem ser evitados com uma observação cuidadosa e uma postura de proteção efetiva à saúde global do adolescente. O adolescente merece ser ouvido em sua integralidade, ser respeitado em sua individualidade, sentir-se amado, protegido e acolhido em suas dúvidas e vulnerabilidades, entretanto, isso nem sempre é possível no ambiente familiar. Ao mesmo tempo em que vive em busca constante de aceitação, tem que lidar com enormes conflitos, instabilidades e inseguranças generalizadas. A escuta cuidadosa, o diálogo atento e uma atitude acolhedora  por parte de uma equipe de saúde constituem um dos enormes pilares para ajudar o adolescente na sua busca de segurança, afeto e integração saudável consigo mesmo.

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista
contato@psicatarina.com

Psicanálise, interpretação e linguagem

Por | Atendimento psicanalítico, Linguagem, Linguagem e inconsciente, Psicanálise, Psicanálise e linguagem | Nenhum Comentário

 

Somos seres de linguagem, interpretantes e interpretados, e isto ocorre continuamente, mesmo em casos em que o silêncio prepondera. Analisar e compreender os caminhos que levam às angústias e sofrimentos humanos não se torna uma tarefa fácil de desenvolver, visto a complexidade dos atalhos e tramas simbólicas que envolvem o ser desde o seu nascimento até a morte.

Freud, Lacan e Saussure percorreram uma jornada teórica distinta ao mundo da linguagem humana para nos oferecer um contorno à análise e compreensão deste fenômeno tão essencial que nos confere a qualidade de humanos. A qualidade humana de criar signos e transformá-los em linguagens e culturas tão diversas, nos caracteriza como seres diferenciados no mundo animal. Ferdinand Saussure, o linguista e filósofo suíço, falecido em 22 de fevereiro de 1913, nos apresentou a tese básica da linguagem e a relação simbólica significante/significado, propondo que a cada símbolo pertencente a uma determinada língua, haveria uma relação entre a sua apresentação sonora ou visual (significante) e a sua significação (significado). De Saussure a Chomsky, teorias linguísticas a respeito da linguagem e seus efeitos na cultura, nas sociedades e na civilização, vêm sendo desenvolvidas a passos largos.

Dando um salto da linguística à psicanálise, encontramos em Sigmund Freud, a partir do final do século XIX uma teoria que tenta explicar os mecanismos do desenvolvimento e funcionamento psíquico a partir das experiências e vivências infantis, as quais são extremamente sensíveis e dependentes dos efeitos da linguagem do adulto sobre a mente infantil e como as suas marcas permanecem vivas no inconsciente e no psiquismo adulto. Freud considera não somente a linguagem comunicada por atos, gestos, sintomas e palavras, mas principalmente, aquela que subjaz ao conteúdo manifesto da linguagem, e se manifesta como efeitos do inconsciente, associada a diferentes intensidades e direcionamentos da energia psíquica. De Freud a Lacan temos um novo grande salto teórico, que nos permite integrar a linguística de Saussure à psicanálise de Freud, sendo proposta por Lacan uma verdadeira e impactante releitura teórica. Jacques Lacan, psicanalista e teórico francês, subverte a relação significante/significado, afirmando: “O inconsciente é estruturado como linguagem”, e como tal, se depara com uma sequência infindável de significantes que se ligam uns aos outros no percurso de uma história subjetiva, com seus conteúdos em redes complexas de possibilidades interpretativas, deixando na correlação com o significado apenas rastros e pistas indeléveis, cambiantes, sutis e pertencentes a uma lógica diferenciada da lógica convencional. Lacan nos impacta em sua afirmação, subvertendo a ordem cartesiana: “Penso onde não existo e existo onde não penso”. Ou seja, agora coloca a primazia do significante sobre o significado. O significado passa a ser, a partir de Lacan, apenas um efeito simbólico da cadeia de significantes infindáveis enredados e ramificados ao longo de toda uma vida.

Temos aqui um único e brevíssimo flash do que seria este labirinto em que nos encontramos ora perdidos, ora acreditando que encontramos uma saída: Somos seres apenas resultantes dos efeitos de linguagem que nos tornaram impregnados da imagem do outro ou existe algo que nos define em nossa singularidade? Como podemos nos situar entre tudo o que nos estrutura e tudo o que nos afeta no cotidiano, desde as questões mais íntimas até aquelas que nos envolvem no todo da coletividade? No espaço entre a percepção consciente e o que nos toca no mais profundo das emoções, entre a reflexão e a ação, vivemos em um labirinto de forças e influências, tanto provenientes do mundo interno psíquico como do mundo externo ao eu, todas permeadas por complexas redes de significação e valores. O que realmente deveríamos focar como prioridade humana e onde se encontra o significado que dá consistência ao viver e à existência humana?

Há que percorrer um labirinto pessoal, instintivo, racional, emocional, consciente, inconsciente, porém, insubstituível e definitivamente, intransferível em direção à construção de uma subjetividade que fundamente os requisitos para a auto-aceitação e a autovalorização, com a consistência psíquica que as vicissitudes da vida exigem de nós, seres de linguagem.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

Consultório: São Paulo (SP) Brasil
(11) 971.121432

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O processo psicanalítico: sonhos, metáforas e reflexões

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Reflexões, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O processo psicanalítico, assim como o percurso de uma viagem ou até mesmo a interpretação de um sonho envolve muitos momentos que não são estáticos, pelo contrário, o movimento que se produz e que é impulsionado na dinâmica terapêutica é o que permite ao paciente a evolução em sua caminhada de conhecimento, reconhecimento e elaboração de suas dúvidas, angústias e conflitos.

Acessar os mecanismos psíquicos exige uma abertura para um olhar de maneira ampla. Assim como uma viagem nos proporciona olhares através de diferentes ângulos e profundidades e os seus registros podem ser revelados por tomadas fotográficas nos seus mínimos detalhes e pormenores, assim a análise permite rever alguns pontos específicos onde a memória ficou cristalizada em suas distorcidas interpretações e possibilita reordená-las, quando e onde quer que seja desejado, dirigindo a estas um foco diferente e uma iluminação própria. Simultaneamente, é  importante valorizar as imagens que já puderam ser tratadas, cuidadas, que apresentam um bom resultado e desvendam capacidades que se encontravam adormecidas, assim como fazemos quando temos a oportunidade de obter tomadas fotográficas em horários diferentes do dia, os seus coloridos se modificam conforme a incidência da luz do sol, e tudo parece estar diferente, apesar de ser o registro de um mesmo ambiente. Estar disponível a esta viagem ao inconsciente e verificar quais as possibilidades de reorganizar e dar sentido às imagens que surgem desconexas como em um sonho, não é uma tarefa fácil, mas exige esta mesma disponibilidade que precisamos ter ao empreender em uma longa viagem, a capacidade de aceitar um tanto de surpresas e incertezas e despertar a capacidade de lidar com o novo, pois o viver exige-nos sermos capazes de lidar com o novo, e esta é uma vertente da verdadeira resiliência.

Presenciar momentos de nitidez nas imagens que se sucedem em um percurso analítico produz uma sensação de completude muito parecida ao encontro e à comunicação que realizamos em uma viagem quando nos encontramos com paisagens surpreendentes. Somente após um longo percurso é que podemos olhar quantas foram as voltas que demos, quantas curvas perigosas por onde passamos, quantas subidas e descidas, quantas e quantas vezes paramos para olhar o infinito e nos permitimos sermos invadidos por uma sensação de encantamento diante da imensa complexidade da vida e do nosso mundo repleto de imagens que ora se integram, ora se complementam, formando um enredo e contando uma história muito particular! Esta viagem, sem dúvidas, não tem como nos trazer de volta ao que éramos antes, se, de fato… tomarmos os devidos cuidados. As metas da análise, assim como da interpretação de um sonho, ou de uma viagem, incluem encontrar-se com uma gestalt, que possa ser única, representável e capaz de elevar a capacidade de dar sentido e produzir uma fruição, assim como nos sentimos quando podemos fruir de uma obra de arte que realmente nos toca, pois diante deste contato, nos sentimos mais humanos e podemos dar mais valor aos sensíveis e delicados momentos de uma grande emoção.

Quais são os cuidados necessários? Assim como o condutor em uma viagem deve conhecer bem o caminho e ser habilitado perfeitamente a empreender em condições seguras uma viagem, assim se exige de um analista, que seja capaz de acompanhar seguramente o processo analítico de seu paciente, que conheça as leis do funcionamento mental, que esteja apto à condução segura em pontos arriscados e temerosos do seu percurso, que permita ao seu paciente escolher as imagens que ele queira tomar como significativas, que o motive a continuar descobrindo novos encontros com a sua subjetividade, e que o faça de maneira inédita, singular, profunda e em especial, resultante em sentidos que reforcem a alegria em desvendar-se a si mesmo e situar-se, ao mesmo tempo, na imensidão das possibilidades de construir o próprio percurso e traçar a sua própria trajetória.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae

Contato: (11) 97043 4427
contato@psicatarina.com

 

Filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain” (França/2001)

Por | Psicanálise e cinema, Psicanálise e cultura, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”, de Guillaume Laurant e direção de Jean-Pierre Jeunet ( França/2001) protagonizado por Audrey Tautou, é lindo, profundo e encantador. Reúne sensibilidade, humor, uma fotografia maravilhosa e uma história dramática de uma menina que tinha tudo para ser triste, mas que descobriu ao longo da vida a arte de expressar amor e  estabelecer vínculos afetivos, apesar dos sentimentos de solidão que permearam toda sua infância e adolescência. Amèlie tornou-se curiosa, imaginativa e muito empática, talvez fruto das vivências do profundo desamparo familiar, que marcou uma impossibilidade na infância de ser reconhecida como uma criança normal com necessidades de afeto, um olhar mais cuidadoso e experiências mais ricas de interação social.

Amèlie passou por todo um processo de autodescoberta de sua sensorialidade, sensualidade e sensibilidade amorosa, buscando respostas às vicissitudes da vida, o que a transformou em uma pessoa extremamente observadora, sensível, curiosa e empática a todos os dissabores daqueles de quem se aproximava, quer tivessem problemas de ordem amorosa, mental ou psicológica, quer fossem portadores de problemas e deficiências físicas, como a linda cena onde acompanha um cego ao atravessar uma rua e se permite ser os olhos dele ao caminhar, contando-lhe sobre os pormenores e sensações que o ambiente era capaz de lhe proporcionar.

O filme traz à tona uma possibilidade de circularmos entre o real e o imaginário, entre o sonho e a fantasia de forma leve, especialmente alegre, inusitada e profundamente criativa, em um roteiro muito delicadamente trabalhado e cativante de transformação pessoal, onde os personagens que carregavam as suas frustrações cristalizadas foram dissolvendo-as, cada um ao seu tempo e conforme o seu seu perfil psicológico particular, sempre com a ajuda de Amèlie.

Quando Amèlie se propõe a ajudar o outro a reconciliar-se com seu passado e sua  história, é pega de surpresa pela sua capacidade de apaixonar-se e descobre-se também no mesmo processo de reconciliação consigo mesma, com sua subjetividade e  com sua própria história. A partir daí Amèlie é capaz de abrir mão de suas defesas e sair do anonimato para poder expressar-se mais aberta e livremente em um processo lento e gradativo, onde vai delicadamente abandonando seus medos e inibições, aqueles que foram modelados por experiências  da infância em que não pode ser vista nem ouvida, onde o sentir-se amada como merecia precisou passar por uma reconstrução análoga a um quebra-cabeças de registros esparsos de pedaços de cenas, imagens e falas, que foram sendo pouco a pouco resignificados pelo impacto afetivo das novas relações que foram surgindo em sua vida. Descobre enfim que o amor pode ser compartilhado e não apenas vivido de maneira solitária, traçando uma trilha de buscas, encontros e descobertas.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Terapeuta de Casais, Famílias, Adolescentes e Adultos

Consultório São Paulo-SP
(11) 970434427

 

Indicações da Psicanálise Perdizes e Tatuapé

Por | Abordagem psicanalítica, Autoimagem e autoestima, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Estamos sendo capturados a todo momento por um universo cujo volume incessante de imagens e informações direcionam, de certa forma, os nossos desejos, pensamentos, sonhos e emoções. Estar imerso neste mundo de riqueza de linguagens e velocidades diversas pode nos levar a uma maior vulnerabilidade psíquica e, consequentemente, à perda de contato com os aspectos mais subjetivos do ser.

As perguntas “Quem sou?” e “O que preciso para ser feliz?”  estão sendo respondidas a todo o momento por uma quantidade enorme de demandas externas que nos cercam. Entretanto, a linguagem interna dos sentimentos, sensações, desejos e emoções, muitas vezes não consegue ser capturada com tanta clareza como os signos linguísticos que nos invadem continuamente pelos meios da comunicação digital.

As sensações de angústia, tristeza, ansiedade, medo, incerteza e insatisfação podem ocupar o espaço interno mental sem que o indivíduo tenha consciência da importância da conexão consigo mesmo, com as suas questões subjetivas, ou com os efeitos das marcas de sua história de vida no psiquismo.

A falta de sintonia entre as demandas psíquicas internas e as demandas do mundo externo pode levar a idealizações dissociadas da realidade, produzindo um desgaste da autoimagem e autoestima. As dificuldades emocionais ligadas aos insucessos em lidar com os desafios da vida podem desencadear sintomas psíquicos associados às depressões, medos e ansiedades, que comprometem o desenvolvimento global do indivíduo e o processo de escolhas que remetem à realização de um sonho de felicidade almejada.

Poder falar de si mesmo em um processo terapêutico é uma oportunidade de reconectar-se com o ser subjetivo que encontra-se permeado de expectativas e frustrações por vezes muito intensas, contraditórias ou duradouras. De certa forma, o que possibilita com que uma pessoa conviva tanto tempo com um elevado grau de angústia, sofrimento e insatisfação está relacionado ao seu potencial de resiliência. Entretanto, o equilíbrio emocional pode tornar-se frágil e desgastado pela ineficácia das defesas internas, que já não conseguem suportar o nível de estresse psíquico. Ao surgirem sintomas de depressão, ansiedade, medo, pânico, ou sintomas de origem psicossomática, que prejudicam significativamente a qualidade de vida,  a pessoa se dirige finalmente à procura de uma ajuda terapêutica. Entretanto, se esta procura de ajuda é adiada por muito tempo e por diversos motivos, maiores se tornam os desdobramentos de uma falta de sintonia do paciente consigo mesmo, tornando mais complexas as suas dificuldades e mais cristalizadas as suas sintomatologias.

Na abordagem psicanalítica, os sintomas psíquicos ou psicossomáticos, aqueles que associam as questões inconscientes aos sintomas físicos, podem ser analisados e interpretados como indicativos de dificuldades importantes em conciliar os conflitos provenientes da luta entre as questões da subjetividade inconsciente.  Estes conflitos podem ter origem até nas vivências mais remotas da infância e as suas representações podem ser trazidas à consciência através da escuta analítica e serem trabalhadas através da análise.

A psicoterapia de abordagem psicanalítica pode ajudar o paciente a reconciliar-se consigo mesmo, com sua história de vida e seus traumas, identificar os valores que orientam a sua vida, resgatar os recursos psíquicos que lhe permitam lidar melhor com a sua subjetividade inconsciente, recuperar ou desenvolver a capacidade de manter o equilíbrio corpo/mente e seguir no desenvolvimento de seus potenciais para a auto-realização, saúde e bem-estar.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Neuroeducadora CEFAC

Consultório: São Paulo-SP
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