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janeiro 2018

Família, estrutura social e escolhas individuais

Por | Família | Nenhum Comentário

A sociedade se compõe de estruturas e mecanismos sociais que regem o seu comportamento ao longo da história. O que permite com que uma estrutura se mantenha firme são os mecanismos de suas engrenagens. E o que vem a ser mecanismos? Tanto na vida social como nas profundezas da vida psíquica  somos movidos por mecanismos. Mecanismos são modos de funcionamento que seguem um padrão, se repetem e podem modificar-se, porém, muito lentamente. Tão lentamente, que parecem imutáveis.

Jon Elster, filósofo e cientista social contemporâneo norueguês tenta explicar os fenômenos sociais através de seus mecanismos e mudanças que envolvem os indivíduos que compõem um determinado grupo, com suas propriedades, suas crenças, seus valores e, consequentemente suas ações.

As estruturas sociais apresentam-se verticalizadas como podemos representá-las metaforicamente semelhantes às múltiplas camadas geológicas de um grande canyon; elas vão se sobrepondo por milhares de anos de tal forma que se torna impossível inverter a ordem das camadas, embora a paisagem possa modificar-se com a ação de fenômenos naturais ou sob a interferência humana.  Jon Elster, teórico preocupado em explicar o fenômeno social,  dá uma atenção especial ao papel das normas e valores que estão na base da motivação, dos interesses e das escolhas individuais, incluindo o papel das emoções. Segundo Elster, as emoções são negligenciadas nas ciências sociais contemporâneas. Mas como incluir as emoções em uma ciência, se emoção é tudo o que se imagina de imprevisível e irracional, e, que, portanto, não pode vir a ser incluído em uma lei científica?

Segundo Elster as emoções podem até incluir algo de racionalidade quando estudamos o que motiva uma pessoa a fazer as escolhas que faz, o que motiva seus interesses e suas condutas O que do social contamina o indivíduo e quais aspectos individuais se fortalecem  na interação grupal? A psicologia de grupos e a psicanálise apresentam elementos teóricos para este debate.

Sem dúvida, a verticalização do social interfere nas escolhas individuais, nos horizontes que podem ser almejados, nos olhares que cada pessoa lança individualmente em relação ao seu projeto de vida e às suas crenças dentro do universo da cultura. Tais horizontes eclodem da inter relação complexa entre o social, o cultural e o individual desde  a estrutura primária micro social que se revela na dinâmica familiar, desde que os seus integrantes comportam uma estrutura comprometida com o macrossocial.

É no seio da família que um indivíduo se constitui como pessoa e cidadão e constrói sua personalidade, seus mecanismos de ação e reação, suas defesas, seus valores e crenças. Estes são  alguns elementos fundamentais que vão permitir com que o indivíduo se insira nas estruturas verticais sociais humanas, com suas hierarquias e relações de poder, que vão organizar suas metas, suas intenções e suas projeções de vida. Um indivíduo resulta desta complexidade de interações e mecanismos que se iniciam desde o momento que um casal espera um bebê. Este, ao nascer já está amparado por uma estrutura macro e microssocial, já ocupa um lugar ideal no imaginário familiar e já carrega os laços e as heranças socioculturais das crenças e valores da família de origem.

Partindo-se das relações familiares, as possibilidades de interação eu/outro estendem-se para o social mais amplo à medida que o indivíduo alcança o amadurecimento físico, biológico, psíquico e social. Se este processo de escolhas individuais que regem os desejos e ações humanas pode ser compreendido de maneira mais ou menos racional, devemos lançar mão também das teorias  do funcionamento mental humano que incluem a interação de dois níveis do pensamento, o consciente e o inconsciente. Os mecanismos inconscientes encontram-se como que submersos, porém compõem a base da estrutura mental do sujeito, o qual, da mesma forma como o fenômeno social, também se apóia nos mecanismos que os sustentam.

Entre a abordagem da psicanálise e a abordagem sistêmica encontramos um ponto em comum: a psicanálise estuda os mecanismos inconscientes do funcionamento mental e a teoria sistêmica familiar estuda os mecanismos que regem os sistemas familiares, porém,  ambas enfocam que a estrutura do ser  está inserida e profundamente marcada pelo seu contexto histórico, social e cultural.

Quando emitimos opiniões, estabelecemos metas, investimos em uma profissão, fazemos escolhas sobre o que vamos adquirir, visualizamos horizontes, sonhamos e lutamos por ideais,  estamos vivenciando algo que é um traço constitucional do humano, ou seja, a capacidade de agir com liberdade e autonomia. Entretanto, se abandonarmos as visões ingênuas de que um indivíduo caminha livre por si mesmo ao longo da vida, faremos parte de um grupo que acredita que somos afetados pelas macro e micro estruturas sociais, como todas as engrenagens e mecanismos de uma enorme máquina, tendo ou não consciência das mesmas. É interessante notarmos que, segundo Jon Elster, a motivação para qualquer ação humana resulta do escalonamento de todos estes níveis de interação, do mais superficial ao mais profundo, do mais biológico e irracional ao que chamamos de inteligência humana racional e vida social.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
(11) 970434427
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“Encontro das Águas” e metáforas psicanalíticas

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

No Estado do Amazonas o Encontro das Águas entre o Rio Negro e o Rio Solimões é um fenômeno natural tão importante e tão  especial da bacia fluvial amazônica, que foi tombado como patrimônio cultural brasileiro em 2010 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Amazonas. A linha nítida de cores diferentes que divide as águas dos dois rios próximo à cidade de Manaus, mostra-nos como o Rio Negro e o Rio Solimões conseguem seguir juntos por cerca de 10 Km sem misturarem-se entre si. Suas águas se misturam após km de distância, quando o Rio Solimões recebe o nome de Amazonas e vai desaguar no Oceano Atlântico, sendo reconhecido por sua extensão e volume de água como o maior rio do planeta.

O Encontro das Águas pode ser visto em vários pontos da região norte do Brasil, mas o ponto mais marcante deste encontro ocorre próximo à cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Em uma viagem de barco a uma hora e meia de Manaus esta paisagem belíssima deixa-nos intrigados sobre como dois rios com características tão diversas conseguem seguir juntos mantendo as suas identidades próprias por tão longa extensão sem causar grandes conflitos entre si.

As águas negras, transparentes, menos densas e mais quentes do Rio Negro se juntam às águas do Solimões, de cor de barro clara, mais densa, de temperatura mais fria e com velocidade

mais rápida do que o seu parceiro de viagem.  O Encontro das Águas na maior bacia fluvial do mundo, nos oferece a olho nu, sem a necessidade de nenhum aparelho ótico ou tecnologia acessória, um verdadeiro espetáculo visual. O rio Solimões segue então o seu trajeto, agora recebendo o nome de Rio Amazonas até encontrar-se com o Oceano Atlântico. Este fenômeno natural requer mesmo uma  ampla proteção contra os impactos ambientais, e o seu tombamento como patrimônio imaterial brasileiro visa preservar a riqueza histórica e cultural entranhada nas margens deste encontro e nas histórias das populações ribeirinhas, onde apenas há poucos anos atrás foram encontrados traços arqueológicos,  revelando-nos a história sobre as origens, mitos e costumes da ocupação indígena desta região.

Conhecendo o Encontro das Águas em Manaus, pensei em uma poderosa metáfora: haveria melhor imagem visual para pensarmos o quanto ainda podemos  aprender  sobre a nossa própria história, sobre encontros e desencontros, sobre os difíceis relacionamentos que enfrentamos ao longo da vida e sobre a difícil tarefa de conciliarmos aspectos tão divergentes e contraditórios da convivência, tanto ao nível dos relacionamentos interpessoais quanto ao nível dos conflitos internos e tendências opostas da nossa própria personalidade?

A dualidade sempre presente entre o bem e o mal e amor e ódio nos contos de fadas infantis representam os conflitos internos que vivemos no dia a dia, nas dualidades de desejos opostos, nas oposições entre o princípio do prazer e o princípio da realidade e nas ambiguidades de sentimentos que às vezes nos desconcertam. Com certeza eles fazem parte da natureza humana, mas podem ser trabalhados, contornados, elaborados.

Contudo a imagem do Encontro das Águas nos incita a uma reflexão: quais elementos estariam faltando nesta análise para uma evolução mais saudável antes que pudéssemos conviver bem com as diferenças do outro e com as próprias dualidades?  Como conviver com aspectos tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo? Se a nossa psique se espelhasse no Encontro da Águas talvez descobríssemos que é preciso ter um certo grau de maturidade para encarar as diferenças individuais e que, apesar de vivermos em conflitos de idéias, origens, cores, constituição e mesmo de ritmo e velocidade de crescimento, poderíamos aprender a conviver de  uma maneira menos destrutiva,  não negando as questões das subjetividades individuais e as diferenças de poder e de liderança, presentes também no meio ambiente.

Se, por um lado, os dois rios com cores, densidade e constituição química e física diferentes, conseguem não se misturar, por outro lado, compartilham o mesmo leito, exemplo do  respeito mútuo e beleza de um encontro em que um respeita o limite do outro. As culturas indígenas, com suas características específicas encontraram nos rios e na floresta amazônica as fontes de inspiração para a criação de sua mitologia, de sua arte, com seus rituais e representações que organizaram a maneira dos indígenas conviverem com a natureza  sem tantos problemas. Com olhares diversos das culturas originais, surgiu o pensamento da não cooperação, surgiu a competição pelo espaço e pela exploração sempre crescente. Instalou-se o caos e a convivência tornou-se uma fonte de crises e destruição. Seria o princípio da cooperação e respeito mútuos um fator essencial a ser trabalhado na Terapia de Casais e Famílias? Acredito que sim. E em uma análise individual? Talvez o fator essencial fosse reconhecer e aceitar que a aparente contradição faz parte da natureza humana e é possível conviver com ela se nos dispusermos a conhecer a complexidade da natureza psíquica de maneira mais profunda e real através de uma análise.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Resiliência e Subjetividade na Cultura dos Alebrijes Mexicanos

Por | Cultura | Nenhum Comentário

Circulando pela cultura  mexicana descobri algo bem interessante sobre o simbolismo dos alebrijes, aquelas representações artísticas em forma de pequenas ou grandes esculturas de madeira e papel machê simbolizando pássaros, aves, animais ferozes, serpentes ou dragões multi coloridos, com pinturas essencialmente vibrantes e alegres. Os alebrijes condensam muitas formas animais ao mesmo tempo, como se pudéssemos reunir em uma única forma híbrida de vida animal todos os poderes contidos na diversidade das espécies, necessários e essenciais para o ser humano sentir-se protegido e enfrentar com segurança os perigos da vida.

Faz parte das crenças mexicanas  proveniente dos grupos indígenas nativos encontrar-se com o seu próprio alebrije, figura mítica e única que deve acompanhar a pessoa desde o dia do seu nascimento até a morte. Cada pessoa tem o seu alebrije único e ímpar, diferente de todos os outros, e que pode ser descoberto ao longo da vida. Os alebrijes quando personificados em figuras de animais contém em seus detalhes os elementos simbólicos necessários que promovem proteção e defesa ao seu portador, sendo como um guia de cuidados e prosperidade à pessoa que o recebe a partir do nascimento.

A cultura dos alebrijes contém em si uma parte importante da história do povo mexicano, relacionado ao universo simbólico cultural e espiritual transmitido de geração em geração. Podemos observar nos alebrijes a presença constante de alguns elementos básicos, como a alegria promovida pela beleza das formas e cores da natureza, a força, a garra e a auto-defesa dos animais selvagens na luta pela sobrevivência representado, por exemplo,  pela língua proeminente das serpentes e a presença muito frequente de asas, mesmo naquelas representações de animais que naturalmente não  as contém. As asas representam a liberdade, não exatamente relacionada a uma liberdade incondicional, mas a uma liberdade que se realiza  ao nível do pensar e do sentir.

A expressão da liberdade está contida na subjetividade do ser humano, mas precisa ser conquistada e trabalhada. Quando a subjetividade humana em seu desenvolvimento sofre algum processo de repressão, trauma ou inibição, podem surgir conflitos, sintomas ou bloqueios que prejudicam o pleno desenvolvimento da individualidade e dos potenciais humanos, levando a pessoa a sentir-se frágil, desamparada ou incapaz de transpor as barreiras que poderiam ser transpostas se ela se sentisse mais segura e autoconfiante. A crença nos alebrijes pode ser compreendida como uma força espiritual e até mesmo simbolicamente terapêutica, que vai de encontro às necessidades do psiquismo, que impede com que a pessoa se sinta totalmente só e indefesa em função dos problemas da vida, e siga fortalecida, enfrentando os desafios com uma resiliência suficientemente forte e capaz de conduzir à auto-realização. Podemos ver no filme de animação mexicano “Coco” recém lançado pela Pixel/Disney várias cenas onde o personagem principal, Miguel, recebe a ajuda do seu alebrije para enfrentar as situações de perigo, e consegue ir em busca de seus sonhos e ideais, apesar de todas as resistências impostas pelo meio. Se compreendermos a mitologia da cultura mexicana expressa na arte dos alebrijes, poderemos ter um olhar bem mais cuidadoso a estas representações simbólicas e até mesmo poderíamos fazer um exercício de criatividade para ter um maior acesso à subjetividade e ao inconsciente: Como poderia ser construído o meu alebrije e quais os elementos ele deveria conter para que eu me sentisse mais forte, capaz e protegido?

 

Catarina Rabello
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Terapia de Casal e Efeito Cascata

Por | Terapias de Casais | Nenhum Comentário

O efeito cascata retrata uma dinâmica típica de casais em crise, com discussões que iniciam-se por motivos banais e vão avolumando-se a ponto de gerar ostensivas e violentas queixas e acusações relacionadas a eventos recentes ou passados que são relembrados constantemente. O efeito cascata tem o poder de transportar uma alta carga de energia com estresse e irritabilidade, transformando queixas e acusações em agressões verbais, podendo chegar até à agressão física, com alto poder destrutivo do controle racional e do próprio relacionamento, com manifestações ostensivas de raiva e ressentimento.

Como uma terapia pode ajudar os casais em crise?

O trabalho terapêutico com casais envolve técnicas que ajudam a melhorar a comunicação, o diálogo e, consequentemente, restaurar ou desenvolver a capacidade de se autoperceber e perceber melhor o outro com mais reflexão e sensibilidade.

Casais que não deixam uma crise permanecer por muito tempo, e buscam uma ajuda terapêutica antes de cristalizarem os conflitos têm  mais chances de recuperar a relação.

Aprender a conviver com o parceiro exige uma alta dose de sensibilidade e empatia. A capacidade de se colocar no lugar do outro pode ser desenvolvida à medida que o processo terapêutico avança, ampliando a autopercepção e a percepção do outro para seus limites, dificuldades  e potenciais.

O desejo de cuidar de um relacionamento, seja qual for a sua natureza, envolve a necessidade de olhar o outro como alguém que apresenta aspectos positivos a oferecer, mas também tem os seus limites, cuja proximidade pode voltar a ser prazerosa e portanto, vale a pena esforçar-se para tratar e reconduzir a relação para um caminho mais saudável.

Refletindo sobre o efeito cascata 

Lembre-se: As discussões contínuas e constantes não contribuem para uma relação melhor, nem resolvem o conflito em questão! Pelo contrário, são especialmente repetitivas, podem ser muito destrutivas para a relação, criam um distanciamento cada vez mais intenso, cristalizam mágoas profundas e levam embora o que havia sido construído de positivo na relação.

O efeito cascata em um casal em crise pode ser um fator desencadeante de brigas constantes, repetição de situações de perda do equilíbrio emocional, criando um ambiente hostil e perturbador  com consequências emocionais e psíquicas desastrosas para todos os envolvidos no conflito tanto para os casais em crise como para os filhos e outros membros da família que convivem no mesmo ambiente.

Vale a pena tentar compreender os mecanismos que permeiam as severas crises conjugais e buscar os recursos para uma convivência mais saudável e equilibrada ou, se necessário, para uma separação menos traumática através da ajuda da Terapia de Casal. Através do trabalho terapêutico com abordagens psicanalítica  e sistêmica é possível tentar reverter o efeito cascata e reorganizar os padrões de interação conjugal e familiar.

 

Catarina Rabello
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Tatuapé e Perdizes: Terapia de Casal e os espinhos do casamento

Por | Dinâmicas disfuncionais, Família, Psicoterapia, Terapias de Casais | Nenhum Comentário

..………..Em botânica, os espinhos das plantas são os elementos de defesa contra insetos e agressões do ambiente externo. Tanto em botânica como no relacionamento conjugal, maiores serão as defesas quanto maiores forem as probabilidades de ataque…………Em botânica, as defesas são transformações fisiológicas que se mantém permanentes e acabam fazendo parte da estrutura vital. Quanto ao relacionamento conjugal, pode ocorrer algo semelhante…

 

Toda defesa humana supõe um ataque iminente. Como compreender o trabalho da Terapia de Casais:

 

Identificar e modificar a dinâmica de defesa e ataque, no que diz respeito a  ligações simbólicas decorrentes de vários momentos da história conjugal, onde os espinhos foram as defesas necessárias à sobrevivência do casal ou dos parceiros individualmente, representa uma importante função da terapia de casais. 

Entretanto, se os espinhos se mantiveram rígidos,  mesmo na ausência de uma ameaça de ataque iminente, eles se manifestam como armaduras de proteção. Ocorre que prolongam um episódio de crises e conflitos, enrijecem o distanciamento afetivo conjugal,  e submetem o casal a altos níveis de angústia, sofrimento e estresse psicológico.

Na dinâmica de um casal em crise não se sabe mais qual dos dois parceiros assume primeiro a posição de ataque ou defesa agressiva. No interjogo da dinâmica conjugal conflitiva, os parceiros buscam  soluções às vezes de forma não tão consciente para fugir de um profundo sentimento de abandono pelo outro que se distanciou. Os espinhos da relação podem se manifestar de diferentes maneiras e até de maneiras opostas. Podem desenvolver desde a indiferença mútua, pouco contato físico, sexual, afetivo, evitações de diálogos e aproximação cada vez menor, até cultivar o hábito de iniciar brigas homéricas com elevado nível de agressividade e ausência total de diálogo. Tanto o cultivo do silêncio quanto da voz hostil, o grito e falas agressivas e ofensivas com muita frequência, podem transformar a relação em um vínculo patológico e insustentável. O estresse constante e permanente de um casal em crise pode levar a sintomas de depressão, ansiedade, doenças psicossomáticas e outras sintomatologias associadas à tristeza e insatisfação.

Vale a pena tratar as feridas provocadas pelos espinhos de uma convivência dolorosa, de uma relação em crise ou de um relacionamento doentio. A acomodação a uma situação de sofrimento na relação conjugal pode levar a um adoecimento psicológico gradativo e sujeito a sequelas. O atendimento a casais em crise se propõe a resgatar os aspectos saudáveis necessários para que cada parceiro consiga reencontrar-se consigo mesmo e procure soluções mais saudáveis e eficazes para a relação, no intuito de manter a saúde mental individual e conjugal, caso encontrem uma possibilidade de continuidade da relação.

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes

Terapeuta de Casais e Famílias
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Subjetividade e Família no filme “Coco”

Por | Família | Nenhum Comentário

Coco é o mais novo filme de animação da Pixar/Disney e é mais do que um presente ao povo mexicano, é uma linda produção que propõe um retorno às raízes culturais e à valorização da história do México, desde o ponto mais íntimo da história de uma família mexicana em seus dias atuais até as marcas transgeracionais familiares e os mitos que orientam as crenças e valores do povo mexicano. Mas este filme não se restringe somente à cultura mexicana no que diz respeito aos conflitos e bloqueios familiares. Pelo contrário, traz à tona a importância da história familiar desde as suas raízes, de uma maneira em que todos nós, ao assistirmos o filme, podemos nos identificar,  deixando claro que as interpretações da história familiar com suas distorções e segredos têm um papel fundamental na construção de valores para as gerações seguintes.

Coco traz à tona a lembrança de um hábito  muito esquecido às gerações atuais, o hábito de contar e ouvir histórias. Esquecemos do benefício fundamental sobre o hábito de contar histórias, e em especial, as histórias sobre os avós, bisavós e tataravós às nossas crianças em plena formação da sua estrutura psíquica. As crianças gostam de ouvir histórias e conseguem identificar-se com os aspectos valorizados dos seus antepassados.

A capacidade de linguagem da criança e suas habilidades cognitivas, sociais e emocionais necessitam de estímulos importantes para o seu desenvolvimento, permeados por um convívio familiar afetivo através de brincadeiras e atividades lúdicas como ouvir as histórias contadas pelos mais velhos. Porém, com o crescente uso e abuso de recursos tecnológicos por pais e filhos, o hábito de reunir a família para contar histórias foi se perdendo e reduzindo as oportunidades da criança para este tipo de vivência. Ao ouvir histórias a criança pode se identificar com alguns personagens e processar simbolicamente os seus conflitos emocionais, seus medos e inseguranças de maneira lúdica e divertida. Por este motivo, é tão comum as crianças pedirem para ouvir uma determinada história inúmeras vezes, porque através da repetição elas estão processando os seus conteúdos emocionalmente.

Coco estreou no México no final de outubro/2017, próximo à importante data festiva para os mexicanos, o “Dia dos Mortos”. O filme se desenvolve em torno dos enigmas e traumas que envolvem a família de Miguel Rivera, um garoto de 12 anos que deseja ser músico,  mas que sofre todo tipo de proibição para realizar o  seu sonho. Seu tataravô  era músico e desapareceu após ter saído um certo dia levando o seu violão. Miguel visita o cemitério da cidade e encontra-se com uma vida alegre, divertida e colorida de esqueletos que o recebem em clima de festa e se apresentam assim: “Bem -vindo à terra dos seus antepassados, nós somos a sua família”.

O filme Coco expressa de uma maneira muito linda e real os dramas de uma família envoltos por segredos e interpretações distorcidas da história familiar, que são transmitidas transgeracionalmente e movidas por uma lógica predominantemente emocional, colocando a figura do pai e tataravô no lugar de vilão. A interpretação dada pela tataravó ao desaparecimento do marido foi movida por uma profunda mágoa chegando a ser cruel, fazendo com que todos os familiares daquela geração e das seguintes acreditassem de que o seu marido havia simplesmente abandonado a família e deixado a sua filha Coco ainda criança em prol do seu sonho de viver da música. Mas Miguel, o tataraneto de apenas 12 anos, não se contentou com esta explicação rasa dada pela família para a proibição maciça ao seu desejo de tornar-se músico como o tataravô. Sua bisavó Coco já apresentava sinais de Alzheimer e não conseguia ajudá-lo na busca de suas respostas a tanta rejeição familiar à figura do seu pai e ao sonho do bisneto. Miguel precisou pesquisar muito até que encontrou-se com o seu tataravô no mundo dos mortos e conheceu a verdadeira história sobre o seu desaparecimento. O filme apresenta uma complexidade profunda ligada ao conflito familiar, com um grau de relativa dificuldade para a compreensão das crianças menores que possam assisti-lo, pois mistura o mundo dos vivos e dos mortos em uma saga que traz à tona a ambivalência do bem e do mal na realização dos desejos humanos.

Este filme cuidadosamente elaborado a partir da cultura, do folclore, dos mitos e crenças mexicanas sobre o binômio vida e morte, nos traz uma bela representação sobre uma das questões mais essenciais à vida:  Ir em busca do seu sonho, conhecer a verdadeira história dos seus antepassados, elaborar as questões sobre a vida e a morte, construir o seu próprio mito particular e viver com alegria, não é definitivamente uma tarefa fácil!

Coco aponta para inúmeras  questões de vida, como a empatia, as importância das memórias familiares, a violência, a ética, a falta de escrúpulos, as dificuldades de se colocar no mundo com seus sonhos, suas marcas e inseguranças, as dificuldades de lidar com os enigmas da história familiar e seus vieses, ambiguidades e bloqueios e como construir a individualidade e subjetividade em um processo que é nitidamente elaborado a partir das representações simbólicas familiares transgeracionais e culturais, um verdadeiro tratado de terapia familiar sistêmica! Além destes aspectos, o filme faz uma ampla referência à arte mexicana, à sua riqueza nos estilos e expressões musicais, à  importante arte da pintura com Frida Khalo e Diego Rivera, e à riqueza das artes plásticas com os alebrijes e sua simbologia.

O final do filme é fantástico e emocionante e também reforça a importância da memória familiar, com a linda música “Remember”. Vale muito a pena assistir!

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Terapia de casal e suas Indicações

Por | Terapias de Casais | Nenhum Comentário

Tempo para tudo
“Tudo neste mundo tem o seu tempo; cada coisa tem a sua ocasião.

Há tempo de nascer e tempo de morrer; tempo de plantar e tempo de arrancar; tempo de derrubar e tempo de construir.
Há tempo de ficar triste e tempo de se alegrar; tempo de chorar e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras e tempo de ajuntá-las; tempo de abraçar e tempo de afastar.
Há tempo de procurar e tempo de perder; tempo de rasgar e tempo de remendar; tempo de ficar calado e tempo de falar.”                        (Eclesiastes 3 1-7)

Quando um casal prolonga demasiadamente uma crise, provavelmente os parceiros já não conseguem ouvir-se mutuamente, não conseguem expressar-se bem ou não respeitam mais a subjetividade um do outro. Há o tempo de se aproximar e o tempo de se afastar, porém, transportar esta sabedoria para a relação amorosa demanda observação, dedicação, maturidade, tempo, e uma boa dose de tolerância. Muitos casais em crise não se permitem passar pelo tempo do amadurecimento do amor, e ficam à mercê de estruturas frágeis de relacionamento que envolvem o ciúmes, a mágoa e a competitividade, como as ondas que se dissolvem ao sabor do vento e acabam por morrer na praia. Alguns relacionamentos também podem se dissolver prematuramente se o casal não receber o apoio necessário para aprender a lidar com as diferenças individuais e descobrir que há formas saudáveis de minimizar as tensões que se formam ao longo da convivência.

Quando indicar a terapia de casal

Refletir sobre os tempos necessários de cada um pode ser o início de um processo terapêutico bem intenso. Interessante observarmos que as pontuações do texto de Eclesiastes envolvem sempre uma circularidade, como se pudéssemos enxergar o que ocorreu somente após a passagem de um tempo entre diversas etapas da vida em um processo cíclico e constante. A terapia de casal pode facilitar o reconhecimento dos tempos necessários de cada um, suas nuances, as possibilidades de compartilhamento ou até mesmo de fechamento de um ciclo. A terapia permite um olhar mais amplo pelo que foi reconhecido como o tempo de espalhar pedras e o que pode ser compreendido como o tempo de reuni-las. Será o tempo de rasgar ou de remendar, de prevenir ou de tratar? Isto não pode ser definido a priori. Cada casal tem um tempo necessário para elaborar o seu conflito e este tempo precisa ser respeitado individualmente durante o processo da  terapia de casal.

Permitir-se olhar para si e para o outro com um novo olhar, compreender as leis implícitas que cada parceiro transporta inconscientemente para o relacionamento, compreender os valores que regem os padrões de comportamento individuais, eis o início de um processo de reencontro com a saúde e com o amadurecimento.

 

Catarina Rabello
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Trauma sob o olhar da Psicanálise

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

Trauma é um termo de origem grega que significa ferida, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses encontramos sinais de experiências traumáticas que foram vividas num momento  precoce da vida durante o desenvolvimento infantil quando a linguagem ainda incipiente não podia ser utilizada para traduzir a intensidade do impacto psíquico do trauma. Os traumas também podem associar-se a sintomas depressivos e de ansiedade, colocando-se como reforçadores dos transtornos de pânico, do estresse pós-traumático, das depressões e outras patologias.

Sinais mnêmicos da experiência traumática podem passar a fazer parte do psiquismo produzindo sintomas que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado.  O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente emocional e profundamente marcada no aparelho psíquico passe a ser contornada pela linguagem. Desta forma, cria-se uma oportunidade  de reintegração do conteúdo psíquico traumático e o trauma deixa de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia e ansiedade sem nomeação para tornar-se um registro simbolizado do passado.

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

Assim como o trauma, os fósseis nos dão as pistas de um modo de vida de seres extintos há milhões de anos atrás. Os fósseis são os restos de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram enrijecendo e fazendo parte integrante das rochas, permitindo que os paleontólogos possam hoje, através dos seus estudos, concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta numa era em que os historiadores ainda não existiam.

O psicanalista, por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, se mantém vivos no inconsciente produzindo efeitos atualizados como sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas. Em um processo psicanalítico, através da escuta cuidadosa do discurso do paciente e das interpretações e intervenções do analista, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Terapia de Casal: um labirinto a ser percorrido

Por | Terapias de Casais | Nenhum Comentário

Há momentos na vida conjugal em que podemos nos sentir trilhando um labirinto sem saída. Giramos, giramos e não encontramos o caminho certo para sair do emaranhado em que nos encontramos. Fogem-nos os parâmetros e perdem-se as referências sob as quais teríamos a melhor opção a seguir. Felizmente, é possível parar e analisar mais objetivamente este momento tão difícil. Talvez seja o momento de pedir e aceitar a ajuda de um terapeuta. Como poderíamos interpretar uma ajuda terapêutica para um casal em crise? Como um guia, um acompanhante, um tutor ou um mediador? 

O terapeuta de casais pode assumir variadas funções, mas deve restringir-se a acompanhar o casal em sua própria trajetória ao invés de dirigi-lo a um caminho pré-estabelecido. O terapeuta pode assumir eventualmente a função de um tradutor quando a comunicação entre os parceiros encontra-se prejudicada pelos vícios de expressão ou pelas inúmeras interpretações mal conduzidas. O terapeuta também pode ajudar o casal a recuperar aspectos essenciais do relacionamento que se perderam ao longo do caminho, como por exemplo, ajudar os parceiros a focarem um olhar e uma escuta mais cuidadosa sobre questões difíceis da história do casal e resgatar o respeito e a sensibilidade que se perderam ao longo das crises e conflitos conjugais. Entretanto, em algumas situações, torna-se difícil para o casal estar aberto a trilhar um caminho novo. Já distante  das tentativas esgotadas e pela repetição dos intermináveis desentendimentos, a terapia às vezes é vista como a última saída e última opção após um grande desgaste e quase total perda de esperanças. Nestes casos, o terapeuta representa um elemento fundamental no resgate da esperança de que é possível reencontrar um caminho mais harmônico e trazer de volta a saúde da relação, já que o desgaste emocional pode ser tão intenso capaz de desencadear sintomas e patologias como depressões e outros transtornos psíquicos e psicossomáticos. 

Desde que a caminhada passe a ser menos ameaçadora, pode ressurgir no casal o prazer em caminhar junto, ou,  por outro lado, os parceiros podem descobrir que não desejam mais seguirem juntos e podem trilhar trajetórias diferentes, sem se destruírem mutuamente. De qualquer forma, desenovelar um emaranhado de fatores que produzem angústia, estresse, mágoa e tristeza pode favorecer uma sensação muito positiva de alívio, tranquilidade e capacidade para decidir o que for melhor para ambos. Nem sempre o sonho de compartilhamento absoluto se realiza, especialmente quando os choques de opiniões, valores e posturas que não eram percebidos ou valorizados no início da relação passam a pesar na balança. Deparar-se com a frustração de ideais quanto a um relacionamento não é algo fácil de elaborar, porém, as decisões tomadas a partir de uma terapia de casal podem transformar-se em um ponto de partida para uma caminhada mais amadurecida e saudável. 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

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