No Estado do Amazonas o Encontro das Águas entre o Rio Negro e o Rio Solimões é um fenômeno natural tão importante e tão especial da bacia fluvial amazônica, que foi tombado como patrimônio cultural brasileiro em 2010 pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) do Amazonas. A linha nítida de cores diferentes que divide as águas dos dois rios próximo à cidade de Manaus, mostra-nos como o Rio Negro e o Rio Solimões conseguem seguir juntos por cerca de 10 Km sem misturarem-se entre si. Suas águas se misturam após km de distância, quando o Rio Solimões recebe o nome de Amazonas e vai desaguar no Oceano Atlântico, sendo reconhecido por sua extensão e volume de água como o maior rio do planeta.
O Encontro das Águas pode ser visto em vários pontos da região norte do Brasil, mas o ponto mais marcante deste encontro ocorre próximo à cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas. Em uma viagem de barco a uma hora e meia de Manaus esta paisagem belíssima deixa-nos intrigados sobre como dois rios com características tão diversas conseguem seguir juntos mantendo as suas identidades próprias por tão longa extensão sem causar grandes conflitos entre si.
As águas negras, transparentes, menos densas e mais quentes do Rio Negro se juntam às águas do Solimões, de cor de barro clara, mais densa, de temperatura mais fria e com velocidade
mais rápida do que o seu parceiro de viagem. O Encontro das Águas na maior bacia fluvial do mundo, nos oferece a olho nu, sem a necessidade de nenhum aparelho ótico ou tecnologia acessória, um verdadeiro espetáculo visual. O rio Solimões segue então o seu trajeto, agora recebendo o nome de Rio Amazonas até encontrar-se com o Oceano Atlântico. Este fenômeno natural requer mesmo uma ampla proteção contra os impactos ambientais, e o seu tombamento como patrimônio imaterial brasileiro visa preservar a riqueza histórica e cultural entranhada nas margens deste encontro e nas histórias das populações ribeirinhas, onde apenas há poucos anos atrás foram encontrados traços arqueológicos, revelando-nos a história sobre as origens, mitos e costumes da ocupação indígena desta região.
Conhecendo o Encontro das Águas em Manaus, pensei em uma poderosa metáfora: haveria melhor imagem visual para pensarmos o quanto ainda podemos aprender sobre a nossa própria história, sobre encontros e desencontros, sobre os difíceis relacionamentos que enfrentamos ao longo da vida e sobre a difícil tarefa de conciliarmos aspectos tão divergentes e contraditórios da convivência, tanto ao nível dos relacionamentos interpessoais quanto ao nível dos conflitos internos e tendências opostas da nossa própria personalidade?
A dualidade sempre presente entre o bem e o mal e amor e ódio nos contos de fadas infantis representam os conflitos internos que vivemos no dia a dia, nas dualidades de desejos opostos, nas oposições entre o princípio do prazer e o princípio da realidade e nas ambiguidades de sentimentos que às vezes nos desconcertam. Com certeza eles fazem parte da natureza humana, mas podem ser trabalhados, contornados, elaborados.
Contudo a imagem do Encontro das Águas nos incita a uma reflexão: quais elementos estariam faltando nesta análise para uma evolução mais saudável antes que pudéssemos conviver bem com as diferenças do outro e com as próprias dualidades? Como conviver com aspectos tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo? Se a nossa psique se espelhasse no Encontro da Águas talvez descobríssemos que é preciso ter um certo grau de maturidade para encarar as diferenças individuais e que, apesar de vivermos em conflitos de idéias, origens, cores, constituição e mesmo de ritmo e velocidade de crescimento, poderíamos aprender a conviver de uma maneira menos destrutiva, não negando as questões das subjetividades individuais e as diferenças de poder e de liderança, presentes também no meio ambiente.
Se, por um lado, os dois rios com cores, densidade e constituição química e física diferentes, conseguem não se misturar, por outro lado, compartilham o mesmo leito, exemplo do respeito mútuo e beleza de um encontro em que um respeita o limite do outro. As culturas indígenas, com suas características específicas encontraram nos rios e na floresta amazônica as fontes de inspiração para a criação de sua mitologia, de sua arte, com seus rituais e representações que organizaram a maneira dos indígenas conviverem com a natureza sem tantos problemas. Com olhares diversos das culturas originais, surgiu o pensamento da não cooperação, surgiu a competição pelo espaço e pela exploração sempre crescente. Instalou-se o caos e a convivência tornou-se uma fonte de crises e destruição. Seria o princípio da cooperação e respeito mútuos um fator essencial a ser trabalhado na Terapia de Casais e Famílias? Acredito que sim. E em uma análise individual? Talvez o fator essencial fosse reconhecer e aceitar que a aparente contradição faz parte da natureza humana e é possível conviver com ela se nos dispusermos a conhecer a complexidade da natureza psíquica de maneira mais profunda e real através de uma análise.
Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae
Consultório São Paulo
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