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Neurociências

Perdizes e Tatuapé: Psicanálise e Neuroplasticidade

Por | Neurociências, Neuropsicanálise, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Neuroplasticidade é a capacidade do sistema nervoso se recompor, alterar a sua anatomia ou a sua função. O neurocientista Prof. Fúlvio Scorza, da Universidade Federal de São Paulo, em entrevista à Revista Brasileira de Psicanálise, já considerava, em 2009, a influência da psicanálise sobre a neurogênese cerebral em pacientes com depressão ou portadores de estresse pós-traumático. A influência de fatores externos ou ambientais sobre a capacidade do cérebro se regenerar já vem sendo estudada há muito tempo, mas somente após a aproximação entre neurocientistas e psicanalistas nas últimas décadas, está sendo possível desenvolver uma nova ciência, a neuropsicanálise, que se propõe a estabelecer os elos científicos entre o funcionamento cérebro/mente.

A planária é um exemplo metafórico de neuroplasticidade. Ela é capaz de regenerar-se após sofrer lesões ou até mesmo se tiver a sua cabeça cortada, e seus mecanismos genéticos de regeneração estão sendo aplicados em estudos de células-tronco. O médico e psicanalista membro efetivo da Sociedade Brasileira de Psicanálise Yusaku Soussumi e fundador da Sociedade Internacional de Neuropsicanálise afirma que Freud já pensava sobre a interlocução entre o funcionamento cérebro/mente, já que foi neurologista e criador da psicanálise, mas não dispunha dos recursos de pesquisa sobre os efeitos terapêuticos da psicanálise sobre o funcionamento cerebral e sobre a capacidade de incidir na  neuroplasticidade, estudos que só foram desenvolvidos por mais de meio século após a elaboração da sua teoria.

Os efeitos das experiências traumáticas, sejam por influências internas ou externas, causam modificações no cérebro que podem ser severas e duradouras e as pesquisas atuais tentam descobrir por quais mecanismos as sessões terapêuticas são capazes de recuperar aspectos do psiquismo que foram prejudicados pelos traumas. Sob o olhar da psicanálise, quanto mais precoce uma experiência traumática, mais intensos os seus efeitos, já que o psiquismo ainda muito jovem e em estado de estruturação, possui poucas estratégias e mecanismos de defesa contra uma experiência traumática severa. Freud descobriu a importância da “talking cure” associada à possibilidade da análise e da interlocução contínua entre corpo e mente, cujas marcas desta se fixam ao longo do desenvolvimento psíquico.

A interface entre os estudos de neurociência e da neuropsicanálise do desenvolvimento tendem a encontrar as respostas que vão corroborar os achados clínicos que Freud já havia descoberto em 1900, quando escreveu “A Interpretação dos Sonhos”, como um tratado sobre o funcionamento psíquico e as leis do inconsciente, o que trará um avanço à ciência dos processos neuropsíquicos relacionados aos afetos, às fantasias, às emoções, ao desejo inconsciente e à interlocução destes com a linguagem. 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/03
Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapeuta de Casais e Famílias
Neuroeducadora CEFAC

Consultório São Paulo
(11) 970434427
contato@psicatarina.com

Perdizes: R. Ministro Godói, 1301
Tatuapé:  R. Serra de Botucatu, 48

 

Depressão e Psicoterapia

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Um novo estudo canadense sobre depressão publicado no periódico “The Lancet Psychiatry” nesta segunda-feira revela que a depressão crônica altera as células cerebrais da glia, as microglias , que são células responsáveis pelo suporte e proteção do sistema nervoso central. O estudo liderado pelo neurocientista Jeff  Meyer aponta para a presença maior de inflamação nas microglias em pacientes com depressão crônica por mais de dez anos, que não receberam tratamento com psicofármacos.

No livro “Integrando Psicoterapia e Psicofarmacologia – Manual para Clínicos” (2015) o Doutor em Neurociências Irismar Reis de Oliveira apresenta vários estudos comprovando a eficácia das psicoterapias associadas às terapias farmacológicas, quanto ao potencial de modificarem de forma significativa as sinapses neuronais. Estudos envolvendo  as abordagens psicoterapêuticas tanto cognitivo-comportamentais como psicodinâmicas comprovam que os efeitos terapêuticos incidem diretamente no funcionamento cerebral dos pacientes estudados.

Nas terapias psicodinâmicas inclui-se a psicanálise, que é uma abordagem psicoterápica que enfoca a reelaboração de experiências traumáticas, permitindo uma reorganização psíquica que leva o paciente a reintegrar-se com sua história e com seus potenciais de desenvolvimento. Estes fatores sendo trabalhados produzem efeitos semelhantes a um novo aprendizado nas áreas cerebrais associadas à aprendizagem e à memória.  Os estudos concluíram que pacientes com depressão moderada se beneficiavam com a associação dos tratamentos psicoterápico e psicofarmacológico, e os pacientes com depressão leve poderiam ser tratados apenas com psicoterapia.

Certamente o avanço das pesquisas em neurociências tende a aproximar cada vez mais as diferentes abordagens de tratamento nos casos das depressões e outros transtornos psiquiátricos. A partir de um olhar psicanalítico, observo que os pacientes com casos de depressão que fazem análise concomitantemente ou não com o tratamento farmacológico, dependendo da gravidade do caso, desenvolvem maiores recursos psíquicos, utilizam melhor os seus mecanismos de defesa, modificam  o olhar frente às vicissitudes da vida, tendem a elaborar as angústias do passado e passam a se situar melhor no momento presente e com maior grau de resiliência. Estes efeitos terapêuticos têm uma repercussão direta nas características da depressão, já que esta psicopatologia por essência, torna o paciente fixado às vivências de perdas e desencadeia uma série de sintomas relacionados à tendência ao isolamento e suas consequências.

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06

Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae Neuroeducadora CEFAC

Sobre a Consciência: “E o Cérebro Criou o Homem” Antonio Damásio

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O neurocientista Antonio Damásio em seu livro  “E o Cérebro Criou o Homem” (2009) propõe-se a descrever a neurobiologia da consciência e utiliza-se do termo “testemunha” para referir-se à qualidade da mente consciente. Segundo o autor, a consciência funciona como uma testemunha da mente e esta, resultante dos processos cerebrais, compõe juntamente com a linguagem o que chamamos de self ou imagem de si mesmo. As imagens não se referem apenas ao plano visual , mas a todas as imagens sensoriais que resultam de diferentes fontes de percepção, como auditivas, olfativas, cinestésicas ou táteis, bem como provenientes de diferentes processamentos cerebrais, como linguísticos, lógicos ou matemáticos.

Para compreendermos como o cérebro torna a mente consciente Damásio utiliza-se da biologia evolucionária, explicando que a mente consciente tem passado também por um processo evolutivo sujeito a especializações necessárias e aprendizagens decorrentes da seleção natural. O corpo é a estrutura de base para a formação da consciência, que se desenvolve a partir das imagens formadas no cérebro em forma de mapas representacionais.

Como se originam os sentimentos? Damásio nos alerta: os primeiros sentimentos originam-se do tronco cerebral e não do córtex cerebral e estão relacionados ao sentimentos mais elementares como o sentimento de estar acordado ou de estar vivo. O segundo nível de self refere-se ao self central, ou seja, a relação da consciência com tudo que esteja ligado a um contexto central e atual. Por último, Damásio descreve o self autobiográfico, aquele que confere à imagem de si mesmo um olhar histórico-temporal das imagens do passado e do presente para antever o futuro, incluindo as interpretações subjetivas das experiências vividas.

O autor refere-se à consciência como uma grandiosa “obra sinfônica” capaz de coordenar informações e funções provenientes de vários níveis cerebrais e de suas relações entre o corpo, o córtex cerebral e as estruturas subcorticais. O funcionamento da consciência somente é interrompido pelo sono, por anestesia, por disfunção cerebral ou pela morte.

 

Mecanismos para administrar e preservar a vida não são exclusivos dos humanos. Pelo contrário, estão presentes inclusive entre seres unicelulares. Porém, a consciência humana confere ao homem a capacidade de criar novas maneiras de conviver nas esferas da sociedade e da cultura. A vasta capacidade da consciência permite que o ser humano faça escolhas. Mesmo que, em boa parte, suas escolhas estejam permeadas por complexos níveis inconscientes de funcionamento mental, o ser humano é capaz de afirmar o seu livre arbítrio.

A partir dos estudos sobre a consciência abre-se um vasto campo de pesquisas e novas possibilidades de articulação entre as neurociências e outras áreas da ciência e da cultura, incluindo-se a psicanálise com o seu olhar sobre os efeitos do inconsciente na estrutura do psiquismo, nas escolhas individuais, nas visões de mundo e de self, e, inclusive, sobre a consciência! A interrelação entre consciência e o funcionamento inconsciente da mente, segundo a abordagem da psicanálise, é o que permite a cada pessoa o acesso à sua subjetividade particular, ao seu perfil emocional e aos seus mecanismos de defesa através do tratamento psicanalítico.

 

 

Ao celebrar mais um ano do meu blog, agora completando o décimo ano, estou reinaugurando o meu site, que agora está mais bonito, mais moderno e mais fácil de entrar em contato comigo! Estou escrevendo novas postagens e também reatualizando as postagens antigas que foram mais significativas e que contribuíram para a compreensão de vários temas relacionados à saúde mental.

Sinto-me orgulhosa por ter conseguido cuidar do meu blog até hoje como uma mãe coruja, que não descuida da sua prole, mantendo-se alerta e permanentemente consciente de sua responsabilidade. Agradeço aos leitores por compartilharem este espaço com comentários que ampliam a nossa capacidade de reflexão e compreensão sobre o bom funcionamento do psiquismo, com idéias e informações que venham acolher as necessidades de cada um e contribuir para uma qualidade de vida melhor.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
(11) 970434427
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SP zona oeste:    Perdizes  R. Ministro Godoi, 1301
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Os Pais como Espelho e Neurônios-espelho

Por | Família, Neurociências | Nenhum Comentário

O que são neurônios-espelho?

 São aqueles neurônios que nos permitem apreender o mundo pela observação e constitui uma das formas mais simples e eficazes de aprendizado, esta que se dá pelo processo de imitação. Com as crianças menores esse processo de aprendizagem é bem perceptível. A criança utiliza os neurônios-espelho para aprender a assimilar os comportamentos do adulto. Entretanto, quando a criança reproduz um comportamento que é inaceitável para o seu educador e passa a ser repreendida pelo mesmo, não compreende o porquê da repreensão e percebe uma incongruência na pessoa que a educa. Ela descobre precocemente que o adulto nem sempre faz o que ele ensina e isto pode dificultar a aprendizagem dos valores e princípios éticos aos quais está sendo exposta. Esta ambivalência na postura dos adultos pode gerar conflitos intrapsíquicos na criança e confusões nos seus critérios de avaliação entre o certo e o errado, dificultando o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional.

Há inúmeros motivos que podem deixar os pais irritados e estressados, porém, os pais que não conseguem controlar a sua agressividade perante os filhos, seja em atos ou em palavras, estão se colocando como um espelho prejudicial à criança. Quando ela expressa e reproduz a agressividade utilizando-se de determinados comportamentos e palavras próprias do adulto, é fácil identificar que houve um aprendizado. Mas o adulto, no papel de educador evita reconhecer a sua função de espelho na formação do psiquismo infantil, porque isto exige necessariamente uma reflexão sobre a sua postura, a forma de se expressar e a necessidade de mudança de atitudes que ele manifesta frente à criança. Os pais e educadores que reconhecem que as crianças tem o adulto como a sua referência máxima e o seu modelo primordial como espelho na formação do psiquismo, desde o início do processo educativo, tendem a desenvolver uma consciência mais plena e a assumir um cuidado maior sobre as suas falas, reações e atitudes frente à criança. Desta forma, podem conduzir melhor a apreensão dos valores éticos e morais, elementos primordiais para uma boa socialização infantil. Estes valores são transmitidos pelas falas, atitudes dos adultos e pelas suas reações emocionais. Devido a estes fatores, fique em alerta: uma criança pode estar aprendendo com você um modelo por vezes incongruente de como se relacionar e se situar no mundo nos momentos de descontrole emocional. 

E quanto à autoestima? Um conceito tão utilizado no cotidiano social, mas as pessoas costumam esquecer que as bases da autoestima e autoimagem formam-se desde a mais tenra infância! A partir de tudo o que a criança ouve e percebe sobre a imagem que os pais e educadores formam sobre ela e expressam em forma de elogios, críticas, repreensões e desabafos quando estão saturados de problemas, ela vai compondo a sua autoimagem porque ela acredita no que é transmitido a ela. É necessário ter mais consciência da função educativa do adulto como um verdadeiro espelho à criança!! 

Se os neurônios-espelho são tão importantes para o aprendizado das funções sociais, a sua deficiência pode causar severos transtornos neste aprendizado. Estudos e pesquisas com crianças portadoras do transtorno do espectro autista indicam que elas podem apresentar deficiência nos neurônios-espelho, o que representa um fator importante no deficit de desenvolvimento
da criança autista para uma interação social de qualidade e aprendizagem por imitação.

 O adulto que tem condições emocionais de oferecer-se como um bom espelho à criança está contribuindo pra ela construir uma autoimagem positiva. Seja um espelho limpo ou um espelho com distorções, a criança assimilará o seu comportamento, aprenderá com o seu exemplo e reproduzirá as condutas que revelam um padrão adulto de ser.

Como assim?? Os valores éticos, as expressões de afeto, os preconceitos, as atitudes agressivas, os humores, as reações negativas, as formas de se relacionar com o outro e com o ambiente são aprendidos pela criança a partir de um modelo oferecido pelo adulto e reproduzido pelos neurônios-espelho?

As neurociências indicam que sim!! E a psicanálise confirma e acrescenta que os traços de memórias inconscientes registrados pela criança ajudam a compor o que se tornará na fase adulta a sua subjetividade.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
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