Assim como o girassol busca pela iluminação do sol para crescer e florescer, a busca pela saúde encontra-se intrínseca ao ser humano. Desde que nenhuma condição atmosférica, do solo ou da própria planta prejudique o seu desenvolvimento, o girassol mantém o seu potencial criativo e estético pelas suas cores vibrantes e seu porte radiante. Acontece que algumas situações específicas e danosas podem gerar retração, pontos de fixação e até mesmo bloqueio do desenvolvimento que, a princípio, deveria ser saudável.
O mesmo podemos observar ao longo do desenvolvimento psíquico. Algo vivido da ordem traumática como experiências e vivências infantis que podem causar danos ao psiquismo, podem transformar-se em um obstáculo radical ao pleno desenvolvimento do indivíduo, à paralisação de sua potencialidade criativa, ao não florescimento de sua capacidade de resiliência, e cristalizar-se como um impedimento ao processo natural de busca do bem-estar consigo mesmo e com o ambiente.
Muitas vezes um broto de um girassol não consegue se desenvolver pela falta de algumas condições ambientais adequadas, porém, quem se interessa pela produção do girassol, naturalmente estuda detalhadamente todos os aspectos que possam interferir no seu processo de cultivo e crescimento.
Quando pensamos no processo de aprendizagem infantil, costumamos lembrar com maior foco das questões da aprendizagem escolar e esquecemos, não raras vezes, que a criança está passando por um processo de aprendizagem global, inclusive das habilidades necessárias à socialização, da capacidade de resiliência para a superação de conflitos e frustrações. Todo este desenvolvimento exige dos educadores um conhecimento profundo do que representa o psiquismo infantil, suas nuances psico-afetivas, sua possibilidade de gerenciar emoções, seu potencial de percepção, processamento e absorção do mundo adulto, com todas as suas razões e incoerências. Entretanto, quando os educadores se vêem obrigados a olhar as dificuldades que uma criança vem enfrentando no seu dia-a-dia, passam a dar mais valor a esta etapa do desenvolvimento e precisam mudar seus hábitos e condutas educativas, sentem-se impotentes para reverter situações familiares que já mostram sinais de adoecimento. A falta de conhecimento sobre a psicologia infantil pode levar a erros grosseiros dos educadores que podem prejudicar a construção da autoestima e autoimagem infantil, podem levar ao cultivo de medos e terrores, à inibição da criatividade, e até à impossibilidade de auto-aceitação, se não souberem lidar com equilíbrio com as falhas infantis.
Pais e educadores que repetem os modelos educativos nos quais moldaram suas personalidades resistem a questionamentos de suas incoerências, e, ao não conseguirem estabelecer um equilíbrio entre as demandas pessoais e as demandas geradas pelas dinâmicas familiares, sentem-se perdidos e atuam como se estivessem em um laboratório, onde o ensaio-e-erro é permitido. Dinâmicas familiares em que se perdem os referenciais de equilíbrio emocional podem prejudicar o desenvolvimento da capacidade infantil e futuramente do adulto, de resiliência. Entretanto, as questões que permeiam uma convivência familiar estão impregnadas de vivências e experiências mal resolvidas que marcaram as histórias dos pais e/ou educadores e mantêm-se arquivadas em redutos da memória inconsciente. Os conflitos transgeracionais tendem a se repetir até que algum evento muito impactante na história familiar possa reorganizar os elos desta cadeia de repetições incorrigíveis e inconscientes, aos quais os pais também foram expostos de maneira imperativa e indefesa.
Sem dúvida, hoje a psicanálise e as neurociências detêm muita informação para colaborar para um conhecimento mais aprofundado dos requisitos essenciais para o desenvolvimento psíquico infantil com saúde, qualidade e construção de valores e ferramentas necessárias à condução de um adulto saudável, resiliente e capaz de alcançar o bem-estar. A psicoterapia familiar e a psicoterapia de casais também podem representar possibilidades valiosas que contribuem para a reordenação das dinâmicas familiares, tanto no âmbito de tratamento como de prevenção. Casais e famílias que encontram um espaço terapêutico para elaborarem suas percepções, dúvidas e questionamentos, podem construir ambientes emocionais mais favoráveis ao desenvolvimento familiar e individual de seus integrantes com mais equilíbrio e fluidez nas relações de afeto.
Catarina Rabello
Psicóloga Psicanalista Crp 30103/06
Psicanálise e Psicoterapia
Terapia de Casais
Terapia Familiar
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