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Terapia de Casal

Terapia de Casal, quando buscar?

Por | Conflitos no relacionamento, Crises conjugais, Dinâmicas conjugais, Relacionamentos disfuncionais, Terapia de Casal | Nenhum Comentário

 

Um dos principais ideais de relacionamento que tendemos a alimentar, encontra-se profunda e inconscientemente associado ao ideal infantil de perfeição. Naturalmente, a meta de perfeição no relacionamento amoroso produz um dilema: Por quê o meu parceiro não entende o que eu preciso e não se esforça em preencher as minhas lacunas de afeto, intimidade, sexo, romantismo, compreensão e aceitação absolutas? Quando um casal busca uma terapia, pode ser compelido por diversas motivações individuais, desde provar para o terapeuta que as suas teorias e explicações a respeito do parceiro são as mais corretas, até buscar uma parceria com o terapeuta para reafirmar ao parceiro que ele funciona como a única fonte dos conflitos em comum. Na minha longa experiência com terapia de casais, uma das afirmações mais comuns que tenho escutado logo na primeira entrevista refere-se a uma grandiosa descoberta dos casais em crise: “Descobrimos o quanto somos diferentes!!” Uau!! O que esta afirmação poderia nos revelar em um primeiro momento? Haveria uma fantasia, uma ilusão, um desejo, ou um ideal de que, em um relacionamento, os parceiros pudessem se entender tão completamente e tão perfeitamente, que nada pudesse quebrar o sonho de uma harmonia perfeita e indestrutível, ideal suavemente configurado no breve e fugaz momento da paixão? O sonho do amor perfeito começa a se desfigurar frente a subsequentes tentativas de resgatar o que fora perdido no contato com o lado desconhecido de si mesmo e do outro, nas diversas maneiras de se confrontarem com as suas diferenças individuais. O que poderia ser um incentivo para uma relação mais criativa transforma-se agora em rigidez, repetição e afastamento progressivo.

A ficção de um ideal de perfeição surge desde a mais tenra infância, no processo de identificação com as figuras materna e paterna,  na fase da estruturação do psiquismo, porém, ela se mantém inconsciente e tende a se manifestar mais eficientemente quando o sujeito se depara com uma profunda frustração. A vida a dois eventualmente leva o casal a se deparar com frustrações sequenciadas ao longo de uma jornada, e a nossa cultura coloca à disposição dos casais inúmeras tecnologias, farmacologias e terapias que propõem soluções práticas e rápidas para superar tais frustrações. Entretanto, as opções de tratamento rápido nada mais produzem do que uma intensificação da frustração e uma desesperança no relacionamento e em si próprio, por não acessarem as questões subjetivas, os mecanismos e limites construídos na relação, sua história e seus traumas.

Todo o contexto de uma terapia conjugal torna-se profundamente desafiador quando o terapeuta propõe uma revisão das interpretações que invadem o dia a dia de um casal, aquelas que se cristalizaram ao longo do relacionamento gerando profundas barreiras não somente ao nível da comunicação e do encontro sexual, mas de uma intimidade que foi se tornando cada vez mais pobre e rara. Seus efeitos são especialmente desastrosos e podem desencadear doenças psicossomáticas, doenças psíquicas como depressões, queda na autoestima, na autoimagem, na autoconfiança e uma total descrença em si e no outro.

Muitos traumas podem estar associados à dificuldade de uma entrega profunda ao outro, traumas que marcaram o sujeito na sua infância ou adolescência, que o levaram a desenvolver posturas extremamente defendidas, como se estivesse sempre vulnerável a um ataque iminente, tendo que lutar contra esta vulnerabilidade utilizando mecanismos de defesa nada eficazes para o momento atual, como negação, racionalização, e até mesmo padrões agressivos de reagir a qualquer estímulo que venha do outro. Um contexto como este tende a eliminar a possibilidade de prazer, de intimidade, de conexão emocional, de bom humor e de alegria, elementos necessários e essenciais para sustentar o equilíbrio entre um relacionamento saudável e suas crises eventuais.

Vivências difíceis de lidar como infidelidade, sentimento de abandono, sentimentos de solidão, ausência de diálogo e falta de conexão  física e emocional, podem ser extremamente ameaçadoras para a  saúde individual e do casal. Estas vivências evidenciam que o casal chegou a um limite difícil de ultrapassar, e a tentativa de manterem a relação em um nível razoavelmente sustentável, exige, ainda que haja uma forte resistência, uma postura corajosa de ambos para enxergarem, aceitarem e providenciarem uma ajuda terapêutica. A terapia de casal pode funcionar como um espelho, em que cada um se surpreende ao enxergar algo de si que não era bem percebido anteriormente e que estaria inevitavelmente associado às dinâmicas e padrões reacionais que se tornaram automáticos, repetitivos e ineficazes no processo de feed-back contínuo, cujo padrão principal de interação estaria baseado na “ação e reação”. Orientar e ajudar a analisar e repensar sobre toda esta complexidade das dinâmicas conjugais é função primordial do psicanalista e terapeuta de casais.

 

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapeuta de Casais
Email: contato@psicatarina.com   

Terapia de Casais: Parceria e Conflito

Por | Ansiedade, Depressão, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Terapia de Casais Perdizes, Terapia de Casal, Terapia de casal online, Terapia de casal psicanalítica | Nenhum Comentário

A terapia de casais na abordagem psicanalítica envolve uma compreensão das dinâmicas interpessoais combinada com uma compreensão das dinâmicas intrapsíquicas individuais de cada um dos parceiros. Um relacionamento de casal é mais do que a soma de duas pessoas. É verdadeiramente, o resultante do que elas conseguem criar, integrando os aspectos conscientes e inconscientes em um misto de ideais e expectativas que vão se realizando ou simplesmente confirmando uma frustração e a reatualização de conflitos pessoais profundos. Freud identifica a raiz de conflitos inconscientes no momento da estruturação psíquica nos primeiros anos da infância. Partindo do princípio que os conflitos inconscientes poderão fazer parte ao longo de toda a vida do indivíduo, é na relação conjugal que temos um terreno fértil para o reaparecimento dos mesmos, reatualizados na convivência diária das dificuldades da parceria saudável, e muitas vezes, reconhecidos através do mecanismo da projeção, como sendo causados pelo parceiro. Se ambos apresentam muitas dificuldades psíquicas provenientes das falhas e carências emocionais de suas histórias familiares e dos traumas pessoais, a parceria pode tornar-se um imenso caldeirão de frustrações e mágoas sucessivas, ameaçadoras da saúde individual e da saúde do relacionamento. Podem surgir angústias insuportáveis, e o aparecimento de sintomas como depressão, ansiedade e doenças psicossomáticas.

A busca pela terapia de casais pode ser uma alternativa para um olhar mais profundo sobre as dinâmicas que o casal construiu e não estão sendo suficientemente boas para os dois. Se não tratadas e não analisadas, estas dinâmicas podem chegar a um estágio de insuficiência máxima, com o aparecimento de agressões verbais, e até mesmo, físicas, além de ameaças de abandono real e emocional. O terapeuta de casais com abordagem psicanalítica pode ajudar o casal a vencer algumas resistências e desenvolver um novo olhar para o relacionamento onde os parceiros possam reencontrar-se com os conflitos subjetivos que podem estar sendo perpetuados na teia das tensões conjugais. A terapia de casais, neste caso, busca reduzir o grau de disfuncionalidade da relação auxiliando na conscientização de mecanismos que se repetem e são inconscientes.

Toda a gama de conflitos interpessoais pode estar contaminada por conflitos subjetivos mal resolvidos da história pessoal de cada um. Neste estágio de percepção, a terapia da casal pode evoluir para uma terapia individual, onde cada parceiro com seu terapeuta distinto, possa se aprofundar nos modelos familiares internalizados que mobilizam tantas angústias e frustrações. O trabalho terapêutico, portanto, não finaliza na compreensão das dinâmicas interpessoais do casal. Pelo contrário, se inicia por aí, com uma conscientização sobre o que eles criaram como modelo de relacionamento, o que eles gostariam de criar, e qual a qualidade de dinâmica eles desejam construir após se depararem com seus limites, fragilidades e potencialidades, aspectos que precisam ser analisados e elaborados psiquicamente em uma análise individual.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicoterapia de Casais       Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapia individual e de casais online

Contato: (11) 971.121432
contato@psicatarina.com

Consultório: São Paulo- Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

Terapia de Casal, uma colcha de retalhos?

Por | Abordagem psicanalítica, Dinâmicas disfuncionais, Metáforas psicanalíticas, Psicanálise, Simbolização e elaboração psíquica, Terapia de Casal, Trabalho do Sonho | Nenhum Comentário

Se, em um primeiro momento, podemos observar o trabalho finalizado de uma colcha de retalhos como uma produção elaborada de arte que nos transmite uma harmonia e até uma tranquilidade ao olhar, num segundo momento, podemos nos perguntar: qual foi o segredo para chegar a este resultado tão complexo?

Sob diversos pontos de vista podemos estabelecer metáforas entre o processo psicanalítico/psicoterápico e os passos do trabalho artesanal que envolvem o costurar uma colcha de retalhos, lembrando-nos que esta é uma arte antiga passada de geração a geração e que não morre apesar de toda a facilidade que temos em adquirir uma colcha industrializada. A arte manual carrega um valor especial por excelência, pois jamais será possível nem desejável produzir uma outra peça de arte idêntica à original. A integração entre o criador e a sua arte é única,  assim como cada encontro humano jamais poderá ser reproduzido substituindo-se uma pessoa por outra, ou com a mesma pessoa em momentos diferentes de uma mesma história.

Se pudermos seguir todos os passos desta criação artesanal, iniciamos pensando nas etapas que organizam o processo de fabricação até chegarmos ao trabalho final, como a escolha dos tecidos, das formas, das cores, dos tamanhos, da disposição dos retalhos, enfim, pensamos em todos os detalhes técnicos da produção. Se quisermos transformar este momento de produção criativa em um ato terapêutico,  podemos acrescentar uma leitura simbólica deste fazer, e, com toda a possibilidade de integrar sentidos aos pequenos passos deste trabalho, agregamos vida, sentimento, desejo, emoção, força,  potencial, e tudo o que for passível de ser projetado neste rico trabalho artesanal.

A possibilidade de  agregar sentidos a um ato de criação transforma-o por si só em um veículo de elaboração de vivências tanto objetivas quanto subjetivas. Objetivo é o ato de costurar, porém, nada mais subjetivo do que poder costurar as vivências internas, aquelas que especialmente transbordam quaisquer limites se não forem bem organizadas e costuradas pelo psiquismo adulto. O ato da costura é por demais dolorido porque é precedido por inúmeros cortes, e nem sempre é fácil escolher o ângulo e a dimensão do corte… às vezes cortamos demais, às vezes de menos. Fazer parte de um processo terapêutico exige uma crença de que a dupla terapeuta/paciente, analista/analisando, seja mais habilidosa para lidar com os cortes e costuras do que empreender-se neste processo solitariamente. A agulha e a linha são os suportes fundamentais a uma costura bem feita, firme e resistente, porém, não basta o momento do planejamento, da idealização, do desejo de criar algo novo. É fundamental por a mão na massa, começar a recortar os retalhos conforme eles forem aparecendo a cada dia, e fazer algo semelhante ao que a nossa mente realiza nos sonhos noturnos, ela se propõe justamente a dar uma forma e um enredo a tantos traços de percepções irregulares e contraditórias, que não se sabe a princípio qual a origem, qual o tema, muito menos quem é o principal personagem do sonho. Entretanto, em questão de segundos, entre um insight e outro,  toda uma configuração interpretativa de um sonho pode reorganizar o seu enredo. Este é um trabalho altamente complexo de análise, de síntese e de elaboração mental, um verdadeiro trabalho artesanal de ligação ponto a ponto, delicado e único da arte de costurar. Uma analogia a esta reflexão podemos considerar com a temática do filme “Colcha de Retalhos”, no original “How to Make an American Quilt” (1995) em que as histórias de amor se entrelaçam com as variadas possibilidades de reconstrução e ressignificação com resultados inéditos, tudo em um enredo leve e marcado por histórias de encontros e desencontros amorosos, ao longo de uma composição grupal que permite um contorno bem cuidadoso de cada retalho que compõe a representação viva do todo, integrando passado e presente em uma composição ao mesmo tempo estética e simbólica.

 

Trechos do filme “How to Make an American Quilt”:

Como Ana disse,
para fazer uma colcha…
deve escolher os retalhos com cuidado.
Se escolher bem, dará destaque à obra…
se escolher mal, as cores ficam sem vida e tiram a sua beleza.

Não há regras a serem seguidas.
Deve-se seguir o instinto e ser corajosa.

 

Catarina Rabello

Psicóloga e Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
E-mail: contato@psicatarina.com

 

Fotografia: José Murilo – Colcha de Retalhos de Tecido (Paraty – RJ)