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Metáforas psicanalíticas

Diálogos Prováveis / Psicanalista Catarina Rabello

Por | Abordagem psicanalítica, Diálogos em Psicanálise e Poesia, Dinâmicas de Relacionamento, Psicanálise, Psicoterapia de Casal, Simbolização e elaboração psíquica, Subjetividade e autoconhecimento, Terapia familiar sistêmica, Terapias de Casais | Nenhum Comentário

 

Entre mim e você
Centenas de milhares de quilômetros
Quase nada comparado ao cosmo
No tudo ou nada que nos une
Às vezes sou Terra
Às vezes sou Lua

Orbitamos o mesmo espaço
Suportamos marcas e crateras gigantes
Sob o calor do mesmo sol
Lado a lado caminhamos
As estrelas que admiramos
Seriam as mesmas que focamos?

O seu lado escuro
Tanto mistério para mim…
Por mais que eu me esforce
Não consigo ver em você
O que você vê em mim
Me desdobro em transparência
Você se mostra por inteiro
Porém só na aparência

Mas que paradoxo!
Tão maior e mais potente
Não consigo ultrapassar
Nem as linhas mais tênues
De um horizonte resistente

Relação leve vulnerável
Rígida e incógnita
Alusão e ilusão submersas
Tão familiar e estranha atração

Diálogo provável e improvável
No silêncio da escuridão
Segue eternamente estável
O mistério de uma relação

 

As dificuldades de relacionamento amoroso nem sempre são evidentes num primeiro momento. Em geral, após passado o momento da paixão, iniciam-se os conflitos e questionamentos, e quantas dúvidas aparecem sobre o lado que não estava tão acessível quanto ao outro e a si mesmo nesta relação, com dinâmicas específicas e difíceis de lidar, que podem gerar sofrimento e sintomas psíquicos e requerem a ajuda de um profissional especializado.

 

Catarina Rabello
Psicanalista Psicóloga Crp 30103/06
Psicoterapeuta de Casais e Famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Consultório São Paulo: (11) 971121432
Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48
Perdizes: R. Ministro Godói, 1301

 

Filme “O Carteiro e o Poeta” : Reflexões sobre Psicanálise

Por | Abordagem psicanalítica, Metáforas psicanalíticas, Psicanálise | Nenhum Comentário

O filme “O Carteiro e o Poeta” ( Il Postino, 1994, Italia) foi produzido a partir de uma adaptação do romance do escritor chileno Antonio Skarmeta, “Paciência Ardente” (1985). Dirigido por Michael Redford, o filme recebeu este título só na tradução em português, nos outros idiomas foi traduzido por “O Carteiro”. O co-diretor e personagem principal Massimo Troisi, era portador de uma cardiopatia grave e morreu ao final das filmagens. O Carteiro é um filme lindíssimo, com visual e trilha sonora maravilhosos, consegue transmitir com extrema sensibilidade e beleza a construção de uma relação de amizade entre o carteiro Mario e o poeta chileno Pablo Neruda, relação esta suficientemente forte para produzir uma verdadeira transformação. O filme desenvolve-se em uma pequena ilha italiana na década de 50 onde Pablo Neruda teria ficado exilado e o carteiro Mario, pessoa simples e humilde, ao lhe entregar as cartas, passa a se interessar pela capacidade do poeta em dominar as palavras e em conquistar um novo mundo de idéias e desejos mobilizados por esse contato, que é bem restrito num primeiro momento, mas, que gradativamente vai se transformando em uma relação profunda de amizade mediada pela capacidade de empatia e de sentir cada detalhe, expressar em uma forma poética e conferir valor a tudo o que é vivido pelos sentidos.

O carteiro fica muito interessado em descobrir como Neruda consegue receber tantas cartas de  mulheres apaixonadas… qual seria a sua magia? E inicia-se aí uma linda jornada compartilhada  sobre o que o poeta lhe apresenta a respeito das metáforas. O carteiro lhe pergunta: “O que é metáfora?” O poeta responde: “Metáfora é dizer as coisas de outra maneira”. Então o carteiro diz: “Quer dizer que tudo pode virar uma metáfora?” e o poeta responde: “Sim, tudo pode ser transformado em metáfora”. O carteiro, que era filho de pescador, não gostava de pescar, e ficava enjoado com as ondas do mar, sente-se despertado a se reconectar com a beleza do mar, das ondas, do vento, e, aos poucos passa a ter um novo olhar à natureza que o cerca, conduzido pela capacidade de dar um sentido às sensações, podendo acrescentar uma forma linguística e simbólica às emoções, aos sentimentos, às suas percepções, aprendendo a transformar as palavras em metáforas, passando a acreditar que ele mesmo também poderia transformar-se em um poeta e vir a conquistar  uma mulher. Quando Neruda  questiona Mario por ter utilizado um poema dele para aproximar-se da moça que ele se apaixonara, Mario responde: “A poesia é de quem precisa dela”.

De metáfora em metáfora, poderíamos nós também fazermos este exercício de metaforizar a relação entre o carteiro e o poeta para uma relação entre o analisando e seu analista? Sim, com certeza. A  relação deles não estava isenta de uma ideologia. Neruda, em seu papel político e intelectual compartilhava uma ideologia socialista-comunista, que também despertou no carteiro uma posição crítica sobre as relações abusivas de poder político que permeavam a sociedade daquela pequena ilha onde vivia. Digamos que uma relação terapêutica psicanalítica também não está isenta de uma ideologia, já que a capacidade de falar sobre si mesmo amplia a visão como um todo, e naturalmente favorece uma consciência de si mesmo em relação ao meio, permite ao paciente perceber, ter consciência e situar-se melhor em dinâmicas de relacionamentos difíceis e favorece um olhar crítico em relação à sociedade mais ampla.

A ampliação da capacidade de simbolizar e criar novas interpretações para os afetos, emoções e experiências faz com que a pessoa torne-se um agente cada vez mais ativo de seu próprio destino, sujeito de seu próprio desejo, capaz de sair de uma posição de vítima de um destino pré-determinado para uma posição ativa em direção aos seus ideais, às suas crenças e ao seu desejo. A análise é um processo terapêutico fundamentado também pela capacidade de metaforizar, selecionar, triar o que pode ser extraído das vivências pessoais, o que contribui para a elaboração psíquica e consolidação de uma subjetividade que permite lidar melhor com a própria história, seus traumas e carências. Ao acrescentar novos sentidos ao vivido, modifica-se a cadeia circular de pensamentos e sentimentos. A capacidade de incluir palavras e simbolizar as questões que emanam de uma forma inconsciente à consciência, pode gerar novos circuitos entre as emoções e sentimentos e, desta forma, libertar o ser de uma repetição contínua, queixosa e sem vida, como é comum aos pacientes portadores de sintomas psíquicos, mentais ou psicossomáticos. Libertar-se de padrões doentios e repetitivos de sentimentos, pensamentos e relacionamentos pressupõe um longo trabalho mental, e o analista, assim como o poeta, pode assumir o papel de um fio condutor a uma abertura ao mundo da consciência de si próprio em relação ao outro e ao meio, podendo situar-se melhor nesta zona fronteiriça e de difícil acesso, que se coloca como desafio de equilíbrio e subjetividade, entre o eu e o outro. O trabalho de análise das experiências dolorosas, de traumas e de sintomas mentais é árduo, porém, potencialmente rico da capacidade de ampliação do ser para uma nova possibilidade de posicionamento em relação à própria vida e fonte de transformação real.

 

 

Catarina Rabello
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Crp 30103/06

Contato: (11) 971121432
Consultório: Perdizes: R. Ministro Godoy, 1301
                         Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48

O processo psicanalítico: sonhos, metáforas e reflexões

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Reflexões, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O processo psicanalítico, assim como o percurso de uma viagem ou até mesmo a interpretação de um sonho envolve muitos momentos que não são estáticos, pelo contrário, o movimento que se produz e que é impulsionado na dinâmica terapêutica é o que permite ao paciente a evolução em sua caminhada de conhecimento, reconhecimento e elaboração de suas dúvidas, angústias e conflitos.

Acessar os mecanismos psíquicos exige uma abertura para um olhar de maneira ampla. Assim como uma viagem nos proporciona olhares através de diferentes ângulos e profundidades e os seus registros podem ser revelados por tomadas fotográficas nos seus mínimos detalhes e pormenores, assim a análise permite rever alguns pontos específicos onde a memória ficou cristalizada em suas distorcidas interpretações e possibilita reordená-las, quando e onde quer que seja desejado, dirigindo a estas um foco diferente e uma iluminação própria. Simultaneamente, é  importante valorizar as imagens que já puderam ser tratadas, cuidadas, que apresentam um bom resultado e desvendam capacidades que se encontravam adormecidas, assim como fazemos quando temos a oportunidade de obter tomadas fotográficas em horários diferentes do dia, os seus coloridos se modificam conforme a incidência da luz do sol, e tudo parece estar diferente, apesar de ser o registro de um mesmo ambiente. Estar disponível a esta viagem ao inconsciente e verificar quais as possibilidades de reorganizar e dar sentido às imagens que surgem desconexas como em um sonho, não é uma tarefa fácil, mas exige esta mesma disponibilidade que precisamos ter ao empreender em uma longa viagem, a capacidade de aceitar um tanto de surpresas e incertezas e despertar a capacidade de lidar com o novo, pois o viver exige-nos sermos capazes de lidar com o novo, e esta é uma vertente da verdadeira resiliência.

Presenciar momentos de nitidez nas imagens que se sucedem em um percurso analítico produz uma sensação de completude muito parecida ao encontro e à comunicação que realizamos em uma viagem quando nos encontramos com paisagens surpreendentes. Somente após um longo percurso é que podemos olhar quantas foram as voltas que demos, quantas curvas perigosas por onde passamos, quantas subidas e descidas, quantas e quantas vezes paramos para olhar o infinito e nos permitimos sermos invadidos por uma sensação de encantamento diante da imensa complexidade da vida e do nosso mundo repleto de imagens que ora se integram, ora se complementam, formando um enredo e contando uma história muito particular! Esta viagem, sem dúvidas, não tem como nos trazer de volta ao que éramos antes, se, de fato… tomarmos os devidos cuidados. As metas da análise, assim como da interpretação de um sonho, ou de uma viagem, incluem encontrar-se com uma gestalt, que possa ser única, representável e capaz de elevar a capacidade de dar sentido e produzir uma fruição, assim como nos sentimos quando podemos fruir de uma obra de arte que realmente nos toca, pois diante deste contato, nos sentimos mais humanos e podemos dar mais valor aos sensíveis e delicados momentos de uma grande emoção.

Quais são os cuidados necessários? Assim como o condutor em uma viagem deve conhecer bem o caminho e ser habilitado perfeitamente a empreender em condições seguras uma viagem, assim se exige de um analista, que seja capaz de acompanhar seguramente o processo analítico de seu paciente, que conheça as leis do funcionamento mental, que esteja apto à condução segura em pontos arriscados e temerosos do seu percurso, que permita ao seu paciente escolher as imagens que ele queira tomar como significativas, que o motive a continuar descobrindo novos encontros com a sua subjetividade, e que o faça de maneira inédita, singular, profunda e em especial, resultante em sentidos que reforcem a alegria em desvendar-se a si mesmo e situar-se, ao mesmo tempo, na imensidão das possibilidades de construir o próprio percurso e traçar a sua própria trajetória.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae

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