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junho 2018

Filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain” (França/2001)

Por | Psicanálise e cinema, Psicanálise e cultura, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”, de Guillaume Laurant e direção de Jean-Pierre Jeunet ( França/2001) protagonizado por Audrey Tautou, é lindo, profundo e encantador. Reúne sensibilidade, humor, uma fotografia maravilhosa e uma história dramática de uma menina que tinha tudo para ser triste, mas que descobriu ao longo da vida a arte de expressar amor e  estabelecer vínculos afetivos, apesar dos sentimentos de solidão que permearam toda sua infância e adolescência. Amèlie tornou-se curiosa, imaginativa e muito empática, talvez fruto das vivências do profundo desamparo familiar, que marcou uma impossibilidade na infância de ser reconhecida como uma criança normal com necessidades de afeto, um olhar mais cuidadoso e experiências mais ricas de interação social.

Amèlie passou por todo um processo de autodescoberta de sua sensorialidade, sensualidade e sensibilidade amorosa, buscando respostas às vicissitudes da vida, o que a transformou em uma pessoa extremamente observadora, sensível, curiosa e empática a todos os dissabores daqueles de quem se aproximava, quer tivessem problemas de ordem amorosa, mental ou psicológica, quer fossem portadores de problemas e deficiências físicas, como a linda cena onde acompanha um cego ao atravessar uma rua e se permite ser os olhos dele ao caminhar, contando-lhe sobre os pormenores e sensações que o ambiente era capaz de lhe proporcionar.

O filme traz à tona uma possibilidade de circularmos entre o real e o imaginário, entre o sonho e a fantasia de forma leve, especialmente alegre, inusitada e profundamente criativa, em um roteiro muito delicadamente trabalhado e cativante de transformação pessoal, onde os personagens que carregavam as suas frustrações cristalizadas foram dissolvendo-as, cada um ao seu tempo e conforme o seu seu perfil psicológico particular, sempre com a ajuda de Amèlie.

Quando Amèlie se propõe a ajudar o outro a reconciliar-se com seu passado e sua  história, é pega de surpresa pela sua capacidade de apaixonar-se e descobre-se também no mesmo processo de reconciliação consigo mesma, com sua subjetividade e  com sua própria história. A partir daí Amèlie é capaz de abrir mão de suas defesas e sair do anonimato para poder expressar-se mais aberta e livremente em um processo lento e gradativo, onde vai delicadamente abandonando seus medos e inibições, aqueles que foram modelados por experiências  da infância em que não pode ser vista nem ouvida, onde o sentir-se amada como merecia precisou passar por uma reconstrução análoga a um quebra-cabeças de registros esparsos de pedaços de cenas, imagens e falas, que foram sendo pouco a pouco resignificados pelo impacto afetivo das novas relações que foram surgindo em sua vida. Descobre enfim que o amor pode ser compartilhado e não apenas vivido de maneira solitária, traçando uma trilha de buscas, encontros e descobertas.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Terapeuta de Casais, Famílias, Adolescentes e Adultos

Consultório São Paulo-SP
(11) 970434427

 

Associação entre Obesidade e Tabagismo

Por | Obesidade, Saúde pública, Tabagismo, Transtornos alimentares | Nenhum Comentário

 

 

Em pesquisa realizada no Reino Unido e publicada em 16/maio/18 pela BMJ, ScienceDaily “Obesity linked to increased risk of taking up smoking and smoking frequency”, cientistas franceses e ingleses descobriram uma base comum neurobiológica entre a obesidade e a adição ao tabaco e as suas implicações clínicas na saúde pública, concluindo que pessoas com maior tendência genética para a obesidade apresentam mais chances de serem fumantes.

É conhecido popularmente que os pacientes que conseguem se libertar da dependência do cigarro tendem a ganhar peso com a transferência da compulsão do fumo para a compulsão alimentar. Entretanto, no estudo citado os pesquisadores franceses e ingleses descobriram através de estudos genéticos do grupo de genética epidemiológica da Internacional Agency for Research on Cancer, em Lyon, França, realizados com 450.000 sujeitos de dois estudos, que para cada unidade a mais de índice de massa corporal (IMC) determinada geneticamente, existe um risco 18% maior de ser fumante ou ex-fumante. A pesquisa revelou também uma tendência de aumento da frequência do uso do cigarro relacionada à obesidade, com aumento de quase um cigarro por dia para o aumento de cada unidade de massa corporal. Os pesquisadores descobriram polimorfismos em um grupo de genes que sugerem uma base biológica comum para comportamentos aditivos, como a adição à nicotina e compulsão alimentar.

As pesquisas sobre a relação entre obesidade e fumo são difíceis de realizar devido às interferências do estilo de vida dos sujeitos pesquisados, como atividade física, sedentarismo, hábitos alimentares, níveis de estresse e outros. Entretanto, os resultados destes estudos genéticos sugerem que o comportamento compulsivo alimentar aumenta a probabilidade do comportamento tabagista, e não vice-versa.

Sabemos que a obesidade e o tabagismo são problemas importantes de saúde pública a nível mundial que estão associados a patologias crônicas com alto índice de risco de mortalidade como o câncer e as patologias cardíacas. Os resultados obtidos nesta pesquisa podem ter implicações importantes nas políticas públicas de saúde e elaboração de estratégias de controle de peso e prevenção do tabagismo. A importância de hábitos saudáveis e educação em saúde para a prevenção de doenças crônicas a todas as faixas etárias, especialmente às populações jovens, já que nesta pesquisa a média de idade do início do tabagismo foi 17 anos, deve ser alvo de estudos, debates e ações de conscientização social.