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Depressão e Psicoterapia

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Um novo estudo canadense sobre depressão publicado no periódico “The Lancet Psychiatry” nesta segunda-feira revela que a depressão crônica altera as células cerebrais da glia, as microglias , que são células responsáveis pelo suporte e proteção do sistema nervoso central. O estudo liderado pelo neurocientista Jeff  Meyer aponta para a presença maior de inflamação nas microglias em pacientes com depressão crônica por mais de dez anos, que não receberam tratamento com psicofármacos.

No livro “Integrando Psicoterapia e Psicofarmacologia – Manual para Clínicos” (2015) o Doutor em Neurociências Irismar Reis de Oliveira apresenta vários estudos comprovando a eficácia das psicoterapias associadas às terapias farmacológicas, quanto ao potencial de modificarem de forma significativa as sinapses neuronais. Estudos envolvendo  as abordagens psicoterapêuticas tanto cognitivo-comportamentais como psicodinâmicas comprovam que os efeitos terapêuticos incidem diretamente no funcionamento cerebral dos pacientes estudados.

Nas terapias psicodinâmicas inclui-se a psicanálise, que é uma abordagem psicoterápica que enfoca a reelaboração de experiências traumáticas, permitindo uma reorganização psíquica que leva o paciente a reintegrar-se com sua história e com seus potenciais de desenvolvimento. Estes fatores sendo trabalhados produzem efeitos semelhantes a um novo aprendizado nas áreas cerebrais associadas à aprendizagem e à memória.  Os estudos concluíram que pacientes com depressão moderada se beneficiavam com a associação dos tratamentos psicoterápico e psicofarmacológico, e os pacientes com depressão leve poderiam ser tratados apenas com psicoterapia.

Certamente o avanço das pesquisas em neurociências tende a aproximar cada vez mais as diferentes abordagens de tratamento nos casos das depressões e outros transtornos psiquiátricos. A partir de um olhar psicanalítico, observo que os pacientes com casos de depressão que fazem análise concomitantemente ou não com o tratamento farmacológico, dependendo da gravidade do caso, desenvolvem maiores recursos psíquicos, utilizam melhor os seus mecanismos de defesa, modificam  o olhar frente às vicissitudes da vida, tendem a elaborar as angústias do passado e passam a se situar melhor no momento presente e com maior grau de resiliência. Estes efeitos terapêuticos têm uma repercussão direta nas características da depressão, já que esta psicopatologia por essência, torna o paciente fixado às vivências de perdas e desencadeia uma série de sintomas relacionados à tendência ao isolamento e suas consequências.

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06

Psicanalista membro efetivo Instituto Sedes Sapientiae Neuroeducadora CEFAC

Sobre a Consciência: “E o Cérebro Criou o Homem” Antonio Damásio

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

O neurocientista Antonio Damásio em seu livro  “E o Cérebro Criou o Homem” (2009) propõe-se a descrever a neurobiologia da consciência e utiliza-se do termo “testemunha” para referir-se à qualidade da mente consciente. Segundo o autor, a consciência funciona como uma testemunha da mente e esta, resultante dos processos cerebrais, compõe juntamente com a linguagem o que chamamos de self ou imagem de si mesmo. As imagens não se referem apenas ao plano visual , mas a todas as imagens sensoriais que resultam de diferentes fontes de percepção, como auditivas, olfativas, cinestésicas ou táteis, bem como provenientes de diferentes processamentos cerebrais, como linguísticos, lógicos ou matemáticos.

Para compreendermos como o cérebro torna a mente consciente Damásio utiliza-se da biologia evolucionária, explicando que a mente consciente tem passado também por um processo evolutivo sujeito a especializações necessárias e aprendizagens decorrentes da seleção natural. O corpo é a estrutura de base para a formação da consciência, que se desenvolve a partir das imagens formadas no cérebro em forma de mapas representacionais.

Como se originam os sentimentos? Damásio nos alerta: os primeiros sentimentos originam-se do tronco cerebral e não do córtex cerebral e estão relacionados ao sentimentos mais elementares como o sentimento de estar acordado ou de estar vivo. O segundo nível de self refere-se ao self central, ou seja, a relação da consciência com tudo que esteja ligado a um contexto central e atual. Por último, Damásio descreve o self autobiográfico, aquele que confere à imagem de si mesmo um olhar histórico-temporal das imagens do passado e do presente para antever o futuro, incluindo as interpretações subjetivas das experiências vividas.

O autor refere-se à consciência como uma grandiosa “obra sinfônica” capaz de coordenar informações e funções provenientes de vários níveis cerebrais e de suas relações entre o corpo, o córtex cerebral e as estruturas subcorticais. O funcionamento da consciência somente é interrompido pelo sono, por anestesia, por disfunção cerebral ou pela morte.

 

Mecanismos para administrar e preservar a vida não são exclusivos dos humanos. Pelo contrário, estão presentes inclusive entre seres unicelulares. Porém, a consciência humana confere ao homem a capacidade de criar novas maneiras de conviver nas esferas da sociedade e da cultura. A vasta capacidade da consciência permite que o ser humano faça escolhas. Mesmo que, em boa parte, suas escolhas estejam permeadas por complexos níveis inconscientes de funcionamento mental, o ser humano é capaz de afirmar o seu livre arbítrio.

A partir dos estudos sobre a consciência abre-se um vasto campo de pesquisas e novas possibilidades de articulação entre as neurociências e outras áreas da ciência e da cultura, incluindo-se a psicanálise com o seu olhar sobre os efeitos do inconsciente na estrutura do psiquismo, nas escolhas individuais, nas visões de mundo e de self, e, inclusive, sobre a consciência! A interrelação entre consciência e o funcionamento inconsciente da mente, segundo a abordagem da psicanálise, é o que permite a cada pessoa o acesso à sua subjetividade particular, ao seu perfil emocional e aos seus mecanismos de defesa através do tratamento psicanalítico.

 

 

Ao celebrar mais um ano do meu blog, agora completando o décimo ano, estou reinaugurando o meu site, que agora está mais bonito, mais moderno e mais fácil de entrar em contato comigo! Estou escrevendo novas postagens e também reatualizando as postagens antigas que foram mais significativas e que contribuíram para a compreensão de vários temas relacionados à saúde mental.

Sinto-me orgulhosa por ter conseguido cuidar do meu blog até hoje como uma mãe coruja, que não descuida da sua prole, mantendo-se alerta e permanentemente consciente de sua responsabilidade. Agradeço aos leitores por compartilharem este espaço com comentários que ampliam a nossa capacidade de reflexão e compreensão sobre o bom funcionamento do psiquismo, com idéias e informações que venham acolher as necessidades de cada um e contribuir para uma qualidade de vida melhor.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

Consultório São Paulo
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