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Trauma psíquico

O Trauma sob o olhar psicanalítico

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Trauma é um termo de origem grega (traûma) que significa ferida, dano ou avaria, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos danosos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico, prejudicando o seu funcionamento e a sua integração.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses, segundo Freud, encontramos traços de memória de experiências traumáticas inconscientes que surgem no discurso do paciente em análise e que foram vividas em momentos precoces do seu desenvolvimento infantil, quando a linguagem ainda incipiente, ou o psiquismo ainda imaturo, não dispunham de recursos suficientes para elaborar a intensidade do impacto psíquico produzido pelo trauma.

Sinais mnêmicos da experiência traumática, como sinais de angústia, medos, sintomas de depressão e ansiedade, segundo o olhar psicanalítico, podem passar a fazer parte integrante do psiquismo produzindo efeitos que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado, já que o inconsciente é uma instância psíquica atemporal.

O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente associada a uma memória emocional que não  se manifesta necessariamente vinculada aos fatos que a geraram, profundamente marcada no aparelho psíquico, passe a ser contornada pela linguagem e passe a fazer parte de um conteúdo psíquico com representação simbólica.  Desta forma, cria-se na análise uma oportunidade  de trabalhar o conteúdo psíquico traumático e o trauma pode deixar de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia sem nomeação, para tornar-se um registro simbolizado de vivências que podem agora, ao invés de serem repetidas de forma contínua e patológica, serem elaboradas e reintegradas de maneira a permitir um funcionamento psíquico saudável.

 

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

 Assim como as formações do inconsciente reatualizam um trauma que foi vivido há muito tempo atrás, em uma linguagem metafórica, os fósseis representam os elos que nos indicam as pistas do modo de vida de seres extintos há milhões de anos. Os fósseis são os vestígios de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram se cristalizando e fazendo parte integrante das rochas, permitindo com que os paleontólogos através dos seus estudos, possam concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta, podendo recolher, reorganizar e analisar os sinais dos eventos ocorridos em uma era em que a humanidade ainda não dispunha de recursos tecnológicos para registrá-los.

O psicanalista por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, mantêm-se vivos no inconsciente, produzindo efeitos atualizados através de sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas psíquicos. Em um processo psicanalítico, através da escuta e análise do discurso do paciente, das interpretações e intervenções psicanalíticas, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente. No texto “Recordar, Repetir e Elaborar” (1914), Freud  situa-nos frente aos três pilares fundamentais do trabalho da análise, indicando os caminhos pelos quais o paciente percorre em um processo analítico para elaborar as suas vivências traumáticas, libertar-se das fixações que o aprisionam e tratar bloqueios, sintomas e inibições que em alguns momentos críticos da sua história de vida, puderam ocasionar dificuldades e transtornos.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicoterapeuta adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Coach de Carreira membro da Sociedade Brasileira de Coaching


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