Category

Prevenção ao suicídio

Adolescência, riscos e conflitos

Por | Abordagem psicanalítica, Adolescentes, Depressão do adolescente, Prevenção ao suicídio, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Terapia familiar | Nenhum Comentário

O período da adolescência requer cuidados tão específicos que, muitas vezes, os pais sentem-se desorientados quanto à melhor forma de abordagem para  ajudar os seus filhos. O processo de amadurecimento do adolescente segue um ritmo marcado pelas condições do ambiente biopsicossocial, envolve aspectos da história que são permeados pelo contexto das dinâmicas familiares, suas falhas, seus padrões de comunicação e modos de interagir, está sujeito às influências  socioculturais que incidem nos valores e costumes familiares, e sofre os efeitos da turbulência de pulsões e conflitos inconscientes. Se o adolescente passa a sofrer demais com os desafios que lhe são impostos, se ele é acometido por situações de bullying ou abusos, se a sua autoimagem e autoestima vão sendo rebaixadas por vivências frustradas, mal sucedidas ou traumáticas e ele passa a ter dificuldades em relacionar-se com amigos e familiares,  este período pode  transformar-se em um grande obstáculo à conquista de espaço, com dificuldades no estabelecimento de sua identidade, podendo surgir bloqueios, inibições e sintomas de depressão, ansiedade, pânico, condutas agressivas consigo mesmo e com o outro. Neste momento não podemos negar que o adolescente necessita uma ajuda, mesmo que, a princípio, tente esconder ou não revele os seus sentimentos e dificuldades explicitamente. Este período exige uma energia tão grande do adolescente para processar todas as suas transformações, ideais e frustrações, que, em certos momentos, parece ser mais frágil e infantil do que realmente é. Por outro lado os pais ou responáveis,  ao  observarem que seus filhos estão mudando radicalmente de comportamento com mudanças significativas de humor, condutas agressivas ou estão cada vez mais fechados em um profundo isolamento afetivo, ao não compreenderem o que está acontecendo, perguntam-se a si mesmos onde foi que eles erraram, sentindo-se culpados, mas não sabendo como ajudá-los. Muitas vezes as dinâmicas familiares não favorecem o diálogo, o que torna a convivência familiar com o adolescente  ainda mais difícil e desoladora.

Os conflitos dos adolescentes podem estar associados a questões de identidade pessoal e sexual, dificuldades de autoaceitação, dificuldades com o próprio corpo, problemas de relacionamento com o grupo da mesma faixa etária, baixa estima, compulsões, inibições, sintomas psicossomáticos, dependências, e conflitos extremamente difíceis de serem elaborados por envolverem as questões de relacionamento consigo mesmo dependente da estrutura psíquica e dos mecanismos do funcionamento inconsciente. Em função da grande invasão da internet já muito cedo na vida de crianças e adolescentes,  alguns têm se tornado reféns de propostas, desafios e comentários de redes sociais que podem ser prejudiciais e até desagregadores da saúde mental. Dado um grau elevado de vulnerabilidade emocional do adolescente, em estado de sofrimento, em isolamento ou em conflito com a sua autoestima, pode tornar-se uma presa fácil para  crenças, fantasias e cultivo de um imaginário onde o desejado desafio proposto pela internet possa levar a sérios riscos de envolvimento com pessoas, condutas e comportamentos doentios, estando em risco de compartilhar e ser incentivado, como outros adolescentes, a comportamentos patológicos associados a transtornos psiquiátricos, como o cortar-se, o autoflagelo, a anorexia, e até mesmo o suicídio, como uma forma de sentir-se aceito por uma comunidade que lhe promete um compartilhamento de uma dor que não consegue expressar de outra forma.

Aos primeiros sinais de depressão ou alterações de comportamento do adolescente, como aumento do isolamento, irritabilidade, dificuldades de concentração e aprendizagem, desânimo ou agressividade, deve-se procurar a ajuda de um profissional da saúde mental capacitado para avaliar e tratar, considerando que, o adolescente inserido no contexto das dinâmicas familiares com seus problemas e suas disfuncionalidades, pode ser atendido também por uma abordagem de terapia familiar.  Uma das tentativas iniciais seria ajudar o adolescente a aceitar uma ajuda terapêutica, pela qual pudesse sentir-se acolhido em seu sofrimento e posteriormente pudesse situar-se criticamente em um mundo que, ao mesmo tempo que o seduz com promessas libertadoras, pode produzir experiências de bloqueio e aprisionamento irreversíveis. Tais riscos podem ser evitados com uma observação cuidadosa e uma postura de proteção efetiva à saúde global do adolescente. O adolescente merece ser ouvido em sua integralidade, ser respeitado em sua individualidade, sentir-se amado, protegido e acolhido em suas dúvidas e vulnerabilidades, entretanto, isso nem sempre é possível no ambiente familiar. Ao mesmo tempo em que vive em busca constante de aceitação, tem que lidar com enormes conflitos, instabilidades e inseguranças generalizadas. A escuta cuidadosa, o diálogo atento e uma atitude acolhedora  por parte de uma equipe de saúde constituem um dos enormes pilares para ajudar o adolescente na sua busca de segurança, afeto e integração saudável consigo mesmo.

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista
contato@psicatarina.com