Resiliência e Subjetividade na Cultura dos Alebrijes Mexicanos

Por 22 de janeiro de 2018Cultura

Circulando pela cultura  mexicana descobri algo bem interessante sobre o simbolismo dos alebrijes, aquelas representações artísticas em forma de pequenas ou grandes esculturas de madeira e papel machê simbolizando pássaros, aves, animais ferozes, serpentes ou dragões multi coloridos, com pinturas essencialmente vibrantes e alegres. Os alebrijes condensam muitas formas animais ao mesmo tempo, como se pudéssemos reunir em uma única forma híbrida de vida animal todos os poderes contidos na diversidade das espécies, necessários e essenciais para o ser humano sentir-se protegido e enfrentar com segurança os perigos da vida.

Faz parte das crenças mexicanas  proveniente dos grupos indígenas nativos encontrar-se com o seu próprio alebrije, figura mítica e única que deve acompanhar a pessoa desde o dia do seu nascimento até a morte. Cada pessoa tem o seu alebrije único e ímpar, diferente de todos os outros, e que pode ser descoberto ao longo da vida. Os alebrijes quando personificados em figuras de animais contém em seus detalhes os elementos simbólicos necessários que promovem proteção e defesa ao seu portador, sendo como um guia de cuidados e prosperidade à pessoa que o recebe a partir do nascimento.

A cultura dos alebrijes contém em si uma parte importante da história do povo mexicano, relacionado ao universo simbólico cultural e espiritual transmitido de geração em geração. Podemos observar nos alebrijes a presença constante de alguns elementos básicos, como a alegria promovida pela beleza das formas e cores da natureza, a força, a garra e a auto-defesa dos animais selvagens na luta pela sobrevivência representado, por exemplo,  pela língua proeminente das serpentes e a presença muito frequente de asas, mesmo naquelas representações de animais que naturalmente não  as contém. As asas representam a liberdade, não exatamente relacionada a uma liberdade incondicional, mas a uma liberdade que se realiza  ao nível do pensar e do sentir.

A expressão da liberdade está contida na subjetividade do ser humano, mas precisa ser conquistada e trabalhada. Quando a subjetividade humana em seu desenvolvimento sofre algum processo de repressão, trauma ou inibição, podem surgir conflitos, sintomas ou bloqueios que prejudicam o pleno desenvolvimento da individualidade e dos potenciais humanos, levando a pessoa a sentir-se frágil, desamparada ou incapaz de transpor as barreiras que poderiam ser transpostas se ela se sentisse mais segura e autoconfiante. A crença nos alebrijes pode ser compreendida como uma força espiritual e até mesmo simbolicamente terapêutica, que vai de encontro às necessidades do psiquismo, que impede com que a pessoa se sinta totalmente só e indefesa em função dos problemas da vida, e siga fortalecida, enfrentando os desafios com uma resiliência suficientemente forte e capaz de conduzir à auto-realização. Podemos ver no filme de animação mexicano “Coco” recém lançado pela Pixel/Disney várias cenas onde o personagem principal, Miguel, recebe a ajuda do seu alebrije para enfrentar as situações de perigo, e consegue ir em busca de seus sonhos e ideais, apesar de todas as resistências impostas pelo meio. Se compreendermos a mitologia da cultura mexicana expressa na arte dos alebrijes, poderemos ter um olhar bem mais cuidadoso a estas representações simbólicas e até mesmo poderíamos fazer um exercício de criatividade para ter um maior acesso à subjetividade e ao inconsciente: Como poderia ser construído o meu alebrije e quais os elementos ele deveria conter para que eu me sentisse mais forte, capaz e protegido?

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

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