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Psicanálise

Filme “A Fortunate Man”

Por | Dinâmicas disfuncionais, Psicanalise, Psicanálise e cultura | Nenhum Comentário

“A Fortunate Man” é um drama dinamarquês dirigido por Bille August em 2018. O filme foi baseado no romance de oito volumes traduzido para o inglês “Lucky Per”. O autor do romance, Henrik Pontoppidan, escreveu a obra entre 1898 e 1904, o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1917.

O drama desenvolve-se sobre o tema “ser afortunado”, “ter sorte” x “ser feliz”. Aliás, em dinamarquês, a mesma palavra “Lykke”, refere-se tanto à sorte como à felicidade. O filme nos remete também ao termo sorte como destino, transportando-nos às raízes da infância como determinantes de um destino de infortúnios pessoais, marcadas no inconsciente como lembranças encobridoras e segredos familiares, que permeiam as percepções, memórias e fantasias infantis. Em “Romances familiares” e “Lembranças encobridoras”, como entre outros textos, Freud nos apresenta sobre a importância dos primeiros anos de vida na estruturação do psiquismo e sobre as determinações inconscientes, desejo e memórias reprimidas que interagem no funcionamento mental. Numa sociedade aristocrática dinamarquesa do início do século XX, marcada por fortes tendências religiosas e político-filosóficas, o personagem principal,  Peter Sidenius, tenta desesperadamente encontrar-se com a sua sorte, seu destino,  sua subjetividade. Entre os inúmeros conflitos com a família, tenta desligar-se de suas raízes de origem cristã, mas sofre com os efeitos psíquicos que este rompimento lhe causa. Tenta quase como um mecanismo de compensação, realizar um projeto de engenharia de grande porte que iria valorizar a sua cidade natal tentando estabelecer uma enorme ligação através de canais, barragens e estações entre as regiões mais pobres e as regiões mais ricas da Dinamarca, utilizando-se do aproveitamento e transformação das energias das marés e eólica em energia elétrica. Entretanto, este projeto torna-se inviável quando se vê obrigado a submeter-se aos valores e ao poder financeiro da alta burguesia dinamarquesa. Encontra-se na fase adulta e próximo à meia idade ainda tendo que lidar com os mesmos conflitos que trazia da infância, e não dispondo de recursos psíquicos para elaborá-los, recolhe-se em uma vida solitária, circulando ao longo da vida entre o sucesso, o narcisismo e a catástrofe. Um filme lindíssimo, que nos remete a inúmeras reflexões e problematizações que permeiam as idéias dos pensadores do início do século XX. O filme nos aproxima dos traços culturais e sociais da sociedade europeia do início do século XX e às questões subjetivas que se delineiam em forma de profundos dramas associados aos conflitos familiares que são marcados pela infância. Estes que independem de uma época, mas se reatualizam nas dinâmicas intergeracionais familiares, como nos coloca a metáfora do relógio, um dos símbolos fundamentais do filme remetendo-nos à atemporalidade do inconsciente.

Inconsciente, um lugar secreto

Por | Abordagem psicanalítica, Inconsciente, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

No filme “Jardim Secreto” (1993), direção de Agnieszka Holland, clássico do cinema adaptado do conto infanto-juvenil escrito por Francis Burnett em 1911, uma frase se destaca entre todas as representações e se impõe como um mote: “Se você olhar bem, verá que todo mundo é um jardim”. Toda a nossa vida é um jardim potencialmente apto a germinar e crescer, desde que lhe sejam oferecidos os cuidados e requisitos essenciais, assim como um bebê em sua condição de dependência absoluta não sobreviveria em meio a um desamparo na sua radicalidade mais concreta. No filme as imagens arquivadas do jardim secreto trazem as lembranças da balança que causou a queda e por consequência o óbito da mãe ainda grávida. Esta cena congelada transformou o jardim em um lugar inacessível, proibido e duramente abandonado. No momento em que ocorre o nascimento do filho e este coincide com a morte materna, desencadeia-se uma sequência de situações que marcam uma interrupção à vida de relações, e a criança fica à mercê do isolamento e das fantasias paternas de ameaça de morte. O menino passa então a ser “protegido” e fica resguardado em seu próprio quarto como se estivesse em uma prisão ou em uma bolha, onde até mesmo a luz do sol passa a ser interpretada como uma séria ameaça à sua saúde e à sua vida.

O abandono neste filme é retratado como uma experiência comum a vários personagens, tanto crianças como adultos, mas em especial, às crianças, que vão descobrindo pouco a pouco, formas de sobreviverem ao desamparo. Cada um deles se organiza de maneira particular, e em meio a tanta aridez afetiva, surgem quase como que em um passe de mágica, soluções ora sintomáticas, ora criativas para superar a dor do abandono, do desamparo e da solidão. A aridez afetiva na infância pode desencadear poderosas e rígidas couraças que passam a se transformar em verdadeiras estruturas defensivas para pensar e interpretar o real. Felizmente em “Jardim Secreto” também escondem-se novas possibilidades e o jardim não sucumbe apenas porque o jardineiro da família, mesmo sem autorização, continua cuidando do jardim fechado e trancado, de forma secreta. Ainda restava muita vida naquele jardim aparentemente morto, e o jardineiro sabia que deveria ser discreto para não ser visto apenas como um funcionário desobediente às ordens de seu patrão e correr o risco ser afastado de sua função, já que sabia da importância da sua atuação e vivia intensamente o seu trabalho como uma verdadeira missão.

Todos somos vítimas de experiências traumáticas em momentos precoces da vida em maior ou menor grau e, de uma forma ou outra, em torno delas criamos armaduras de proteção, ora suficientes, ora exageradas, ora congruentes, ora desajustadas. Estas soluções encontramos através de equações simbólicas inconscientes, e assim criamos  mecanismos que nos permitem viver em estado de alerta permanente. O psicanalista argentino Luis Chiozza define três níveis da vida de relação; a vida pública, a vida íntima e a vida secreta. Circulamos continuamente por estes três níveis de relação, sendo a vida pública aquela que nos retrata e nos identifica de maneira seletiva para o outro em geral. A vida íntima é aquela que nos permite sermos conhecidos mais profundamente somente por poucas pessoas com as quais temos um relacionamento íntimo, e a vida secreta envolve todo um universo de experiências, sensações e pensamentos que faz parte de um mundo secreto subjetivo, em parte consciente e em grande parte inconsciente, que não é compartilhado com ninguém.

O inconsciente habita o nosso mundo secreto com suas leis gerais da lógica do inconsciente produzindo inúmeras teorias que são comprovadas a partir de cálculos e experimentações que misturam o presente e o passado, com seus traços de memória e suas representações psíquicas, o que resulta em uma lógica com características diversas da lógica da razão. São tão complexos estes cálculos, que uma vez estabelecidos, cristalizam-se como verdades absolutas regendo linhas de pensamento e de conduta reativa a tudo o que afeta o ser, de maneira muito particular. Em nosso mundo secreto só temos acesso a uma pequena parte desses cálculos, e o que nos apresenta para nós mesmos são resultantes de tentativas de busca de um apaziguamento entre estas tantas linhas teóricas de pensamento que a mente é capaz de produzir. Habita este mundo secreto também a vida das emoções, percepções, devaneios e fantasias, um misto de imaginário e realidade, um universo onírico que, de forma semelhante ao jardineiro do “Jardim Secreto”, não aceita nem ordens nem proibições, mas se mantém alimentando e cuidando do jardim à sua maneira. A vida mental secreta desenvolve-se às vezes sem limites e por este motivo corre o risco de interferir no crescimento saudável do ser e na harmonia entre os três níveis de relações, podendo manter os incontáveis conflitos intrapsíquicos em um nível tão elevado que são capazes de produzir efeitos psicopatológicos graves, severo desgaste do equilíbrio mente/corpo e supressão da energia vital.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

Psicoterapia, resiliência e saúde mental

Por | Abordagem psicanalítica, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Terapia de casais, Terapia familiar | Nenhum Comentário

Assim como o girassol busca pela iluminação do sol para crescer e florescer, a busca pela saúde encontra-se intrínseca ao ser humano. Desde que nenhuma condição atmosférica, do solo ou da própria planta prejudique o seu desenvolvimento, o girassol mantém o seu potencial criativo e estético pelas suas cores vibrantes e seu porte radiante. Acontece que algumas situações específicas e danosas podem  gerar retração, pontos de fixação e até mesmo bloqueio do desenvolvimento que, a princípio, deveria ser saudável.

O mesmo podemos observar ao longo  do desenvolvimento psíquico. Algo vivido da ordem traumática como experiências e vivências infantis que podem causar danos ao psiquismo, podem transformar-se em um obstáculo radical ao pleno desenvolvimento do indivíduo, à paralisação de sua potencialidade criativa, ao não florescimento de sua capacidade de resiliência, e cristalizar-se como um impedimento ao processo natural de busca do bem-estar consigo mesmo e com o ambiente.

Muitas vezes um broto de um girassol não consegue se desenvolver pela falta de algumas condições ambientais adequadas, porém, quem se interessa pela produção do girassol, naturalmente estuda detalhadamente todos os aspectos que possam interferir no seu processo de cultivo e crescimento.

Quando pensamos no processo de aprendizagem infantil, costumamos lembrar com maior foco das questões da aprendizagem escolar e esquecemos, não raras vezes, que a criança está passando por um processo de aprendizagem global, inclusive das habilidades necessárias à socialização, da capacidade de resiliência para a superação de conflitos e frustrações. Todo este desenvolvimento exige dos educadores um conhecimento profundo do que representa o psiquismo infantil, suas nuances psico-afetivas, sua possibilidade de gerenciar emoções, seu potencial de percepção, processamento e absorção do mundo adulto, com todas as suas razões e incoerências. Entretanto, quando os educadores se vêem obrigados a olhar as dificuldades que uma criança vem enfrentando no seu dia-a-dia, passam a dar mais valor a esta etapa do desenvolvimento e precisam mudar seus hábitos e condutas educativas, sentem-se impotentes para reverter situações familiares que já mostram sinais de adoecimento. A falta de conhecimento sobre a psicologia infantil pode levar a erros grosseiros dos educadores que podem prejudicar a construção da autoestima e autoimagem infantil, podem levar ao cultivo de medos e terrores, à inibição da criatividade, e até à impossibilidade de auto-aceitação, se não souberem lidar com equilíbrio com as falhas infantis.

Pais e educadores que repetem os modelos educativos nos quais moldaram suas personalidades resistem a questionamentos de suas incoerências, e, ao não conseguirem estabelecer um equilíbrio entre as demandas pessoais e as demandas geradas pelas dinâmicas familiares, sentem-se perdidos e atuam como se estivessem em um laboratório, onde o ensaio-e-erro é permitido. Dinâmicas familiares em que se perdem os referenciais de equilíbrio emocional podem prejudicar o desenvolvimento da capacidade infantil e futuramente do adulto, de resiliência. Entretanto, as questões que permeiam uma convivência familiar estão impregnadas de vivências e experiências mal resolvidas que marcaram as histórias dos pais e/ou educadores e mantêm-se arquivadas em redutos da memória inconsciente. Os conflitos transgeracionais tendem a se repetir até que algum evento muito impactante na história familiar possa reorganizar os elos desta cadeia de repetições incorrigíveis e inconscientes, aos quais os pais também foram expostos de maneira imperativa e indefesa.

Sem dúvida, hoje a psicanálise e as neurociências detêm muita informação para colaborar para um conhecimento mais aprofundado dos requisitos essenciais para o desenvolvimento psíquico infantil com saúde, qualidade e construção de valores e ferramentas necessárias à condução de um adulto saudável, resiliente e capaz de alcançar o bem-estar. A psicoterapia familiar e a psicoterapia de casais também podem representar possibilidades valiosas que contribuem para a reordenação das dinâmicas familiares, tanto no âmbito de tratamento como de prevenção. Casais e famílias que encontram um espaço terapêutico para elaborarem suas percepções, dúvidas e questionamentos, podem construir ambientes  emocionais mais favoráveis ao desenvolvimento familiar e individual de seus integrantes com mais equilíbrio e fluidez nas relações de afeto.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Psicanalista Crp 30103/06

Psicanálise e Psicoterapia
Terapia de Casais
Terapia Familiar

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Adolescência, riscos e conflitos

Por | Abordagem psicanalítica, Adolescentes, Depressão do adolescente, Prevenção ao suicídio, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Terapia familiar | Nenhum Comentário

O período da adolescência requer cuidados tão específicos que, muitas vezes, os pais sentem-se desorientados quanto à melhor forma de abordagem para  ajudar os seus filhos. O processo de amadurecimento do adolescente segue um ritmo marcado pelas condições do ambiente biopsicossocial, envolve aspectos da história que são permeados pelo contexto das dinâmicas familiares, suas falhas, seus padrões de comunicação e modos de interagir, está sujeito às influências  socioculturais que incidem nos valores e costumes familiares, e sofre os efeitos da turbulência de pulsões e conflitos inconscientes. Se o adolescente passa a sofrer demais com os desafios que lhe são impostos, se ele é acometido por situações de bullying ou abusos, se a sua autoimagem e autoestima vão sendo rebaixadas por vivências frustradas, mal sucedidas ou traumáticas e ele passa a ter dificuldades em relacionar-se com amigos e familiares,  este período pode  transformar-se em um grande obstáculo à conquista de espaço, com dificuldades no estabelecimento de sua identidade, podendo surgir bloqueios, inibições e sintomas de depressão, ansiedade, pânico, condutas agressivas consigo mesmo e com o outro. Neste momento não podemos negar que o adolescente necessita uma ajuda, mesmo que, a princípio, tente esconder ou não revele os seus sentimentos e dificuldades explicitamente. Este período exige uma energia tão grande do adolescente para processar todas as suas transformações, ideais e frustrações, que, em certos momentos, parece ser mais frágil e infantil do que realmente é. Por outro lado os pais ou responáveis,  ao  observarem que seus filhos estão mudando radicalmente de comportamento com mudanças significativas de humor, condutas agressivas ou estão cada vez mais fechados em um profundo isolamento afetivo, ao não compreenderem o que está acontecendo, perguntam-se a si mesmos onde foi que eles erraram, sentindo-se culpados, mas não sabendo como ajudá-los. Muitas vezes as dinâmicas familiares não favorecem o diálogo, o que torna a convivência familiar com o adolescente  ainda mais difícil e desoladora.

Os conflitos dos adolescentes podem estar associados a questões de identidade pessoal e sexual, dificuldades de autoaceitação, dificuldades com o próprio corpo, problemas de relacionamento com o grupo da mesma faixa etária, baixa estima, compulsões, inibições, sintomas psicossomáticos, dependências, e conflitos extremamente difíceis de serem elaborados por envolverem as questões de relacionamento consigo mesmo dependente da estrutura psíquica e dos mecanismos do funcionamento inconsciente. Em função da grande invasão da internet já muito cedo na vida de crianças e adolescentes,  alguns têm se tornado reféns de propostas, desafios e comentários de redes sociais que podem ser prejudiciais e até desagregadores da saúde mental. Dado um grau elevado de vulnerabilidade emocional do adolescente, em estado de sofrimento, em isolamento ou em conflito com a sua autoestima, pode tornar-se uma presa fácil para  crenças, fantasias e cultivo de um imaginário onde o desejado desafio proposto pela internet possa levar a sérios riscos de envolvimento com pessoas, condutas e comportamentos doentios, estando em risco de compartilhar e ser incentivado, como outros adolescentes, a comportamentos patológicos associados a transtornos psiquiátricos, como o cortar-se, o autoflagelo, a anorexia, e até mesmo o suicídio, como uma forma de sentir-se aceito por uma comunidade que lhe promete um compartilhamento de uma dor que não consegue expressar de outra forma.

Aos primeiros sinais de depressão ou alterações de comportamento do adolescente, como aumento do isolamento, irritabilidade, dificuldades de concentração e aprendizagem, desânimo ou agressividade, deve-se procurar a ajuda de um profissional da saúde mental capacitado para avaliar e tratar, considerando que, o adolescente inserido no contexto das dinâmicas familiares com seus problemas e suas disfuncionalidades, pode ser atendido também por uma abordagem de terapia familiar.  Uma das tentativas iniciais seria ajudar o adolescente a aceitar uma ajuda terapêutica, pela qual pudesse sentir-se acolhido em seu sofrimento e posteriormente pudesse situar-se criticamente em um mundo que, ao mesmo tempo que o seduz com promessas libertadoras, pode produzir experiências de bloqueio e aprisionamento irreversíveis. Tais riscos podem ser evitados com uma observação cuidadosa e uma postura de proteção efetiva à saúde global do adolescente. O adolescente merece ser ouvido em sua integralidade, ser respeitado em sua individualidade, sentir-se amado, protegido e acolhido em suas dúvidas e vulnerabilidades, entretanto, isso nem sempre é possível no ambiente familiar. Ao mesmo tempo em que vive em busca constante de aceitação, tem que lidar com enormes conflitos, instabilidades e inseguranças generalizadas. A escuta cuidadosa, o diálogo atento e uma atitude acolhedora  por parte de uma equipe de saúde constituem um dos enormes pilares para ajudar o adolescente na sua busca de segurança, afeto e integração saudável consigo mesmo.

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista
contato@psicatarina.com

Psicoterapia x psicanálise: um modo de lapidar o ser

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Psicoterapia Perdizes, Psicoterapia Tatuapé, Terapia de Casais Perdizes, Terapia de Casais Tatuapé, Terapia familiar sistêmica | Nenhum Comentário

Lapidação é um processo complexo que visa potencializar as características de beleza e valor das pedras preciosas, gemas e diamantes. Os diamantes estão entre as gemas mais valiosas que encontramos na natureza. Eles apresentam formas geométricas em sua forma bruta, porém, a riqueza e o valor do diamante se tornam cada vez maiores, quanto maior o grau de pureza e maior o número de facetas lapidadas na pedra bruta, produzindo efeitos de luz e  brilho que a pedra pode refletir. A lapidação brilhante significa que um diamante apresenta 58 facetas, ou seja, sofreu 58 cortes até definir a qualidade do seu brilho ímpar, que lhe confere a sua  identidade característica.

Quando tratamos de um texto escrito, também podemos lapidá-lo, encontrando as melhores palavras e buscando os melhores meios de expressão, mais claros, mais belos e mais valiosos. E quanto ao ser bruto que encontramos em nossas escondidas cavernas psíquicas, permeadas de restos e poeiras do passado, que prejudicam o nosso brilho e o aproveitamento de nossos valores mais preciosos?

Encontrar-se com a psicoterapia psicanalítica pode ser um processo tão valioso e complexo como o processo da lapidação brilhante, exigindo da dupla terapeuta e paciente um cuidado especial neste trabalho, que requer muita técnica, experiência, manejo adequado, delicadeza, paciência, mas muita firmeza e determinação em um manejo, que, de certa forma, assemelha-se ao trabalho do artesão na tarefa de ajudar o paciente a lapidar o que lhe impede de extrair o melhor de si mesmo.

Conhecer a si próprio e encontrar-se com o que pode haver de mais bruto e originário em si mesmo pode causar uma certa dor, uma certa angústia, um sentimento de insegurança frente ao novo, assim como uma resistência do paciente em acreditar que o processo de “lapidação” psíquica em uma análise possa ajudá-lo a recuperar um brilho perdido. A lapidação consiste basicamente em um processo de finos cortes que potencializam a irradiação da luz, e no psiquismo, analogamente, poderíamos pensar em como modificar e ajudar o paciente a se libertar de alguns mecanismos de defesa não mais eficientes, insuficientes ou que contribuem para o  aprisionamento da sua identidade e subjetividade. Em alguns casos o abandonar mecanismos mais primitivos e arraigados, que vem ofuscar o brilho de uma relação mais positiva com a vida, com o outro e consigo mesmo, pode ser interpretado como uma perda de identidade. Vivemos sob os reflexos de experiências dolorosas do passado, que podem se reproduzir em novas fontes de sofrimento, porém, já sem o contato consciente com as memórias antigas, acreditamos que sofremos pelas situações de vida atuais, e então todo o brilho que se esconde atrás de marcas e restos de rochas, se ofusca  e se cristaliza como barreiras impedindo a projeção do ser de maneira saudável no mundo.

As gemas minerais são resultantes de transformações geológicas de milhões de anos. Daí a famosa frase de Jules Roger Sauer: “Pedras preciosas: uma colheita que jamais se repete”.  A transformação da pedra bruta em pedra polida, porém, requer a interferência humana, de alguém que se especializou  no ofício da lapidação e na busca do brilho perfeito. Se pensarmos que este brilho já existe em potencial, poderemos delegar ao profissional da lapidação apenas uma parte do mérito do resultado final do brilhante ou do diamante lapidado. Enfim, não basta saber lapidar, é preciso encontrar-se com o diamante que se esconde entranhado nas rochas, é preciso empreender em todo um processo de garimpagem, filtragem e limpeza gradativa até o processo final de lapidação. É preciso acreditar que um tratamento psicoterápico psicanalítico possa aliar-se ao mais valioso e profundo brilho de um ser que se mostra muito opacificado pelos insucessos, frustrações e repetições sintomáticas sobre algo que não se desfaz sozinho. Pelo contrário, algo que se cristaliza a cada dia como uma desesperança, requer decisivamente a intervenção precisa de um outro com habilidades específicas e especializadas no processo de recuperação da saúde psíquica.

No mês do Janeiro Branco vamos contribuir para que mais pessoas possam empreender em um processo de psicoterapia significativo, que facilite a auto-valorização pessoal e o reencontro com a subjetividade ampliando as possibilidades de ligações saudáveis com a vida. Observe sinais de depressão em pessoas conhecidas e não se omita em sugerir um acompanhamento em saúde mental.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/6
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Consultório: (11) 971121432
Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48
Perdizes: R. Ministro Godoy, 1301

Psicanálise, interpretação e linguagem

Por | Atendimento psicanalítico, Linguagem, Linguagem e inconsciente, Psicanálise, Psicanálise e linguagem | Nenhum Comentário

 

Somos seres de linguagem, interpretantes e interpretados, e isto ocorre continuamente, mesmo em casos em que o silêncio prepondera. Analisar e compreender os caminhos que levam às angústias e sofrimentos humanos não se torna uma tarefa fácil de desenvolver, visto a complexidade dos atalhos e tramas simbólicas que envolvem o ser desde o seu nascimento até a morte.

Freud, Lacan e Saussure percorreram uma jornada teórica distinta ao mundo da linguagem humana para nos oferecer um contorno à análise e compreensão deste fenômeno tão essencial que nos confere a qualidade de humanos. A qualidade humana de criar signos e transformá-los em linguagens e culturas tão diversas, nos caracteriza como seres diferenciados no mundo animal. Ferdinand Saussure, o linguista e filósofo suíço, falecido em 22 de fevereiro de 1913, nos apresentou a tese básica da linguagem e a relação simbólica significante/significado, propondo que a cada símbolo pertencente a uma determinada língua, haveria uma relação entre a sua apresentação sonora ou visual (significante) e a sua significação (significado). De Saussure a Chomsky, teorias linguísticas a respeito da linguagem e seus efeitos na cultura, nas sociedades e na civilização, vêm sendo desenvolvidas a passos largos.

Dando um salto da linguística à psicanálise, encontramos em Sigmund Freud, a partir do final do século XIX uma teoria que tenta explicar os mecanismos do desenvolvimento e funcionamento psíquico a partir das experiências e vivências infantis, as quais são extremamente sensíveis e dependentes dos efeitos da linguagem do adulto sobre a mente infantil e como as suas marcas permanecem vivas no inconsciente e no psiquismo adulto. Freud considera não somente a linguagem comunicada por atos, gestos, sintomas e palavras, mas principalmente, aquela que subjaz ao conteúdo manifesto da linguagem, e se manifesta como efeitos do inconsciente, associada a diferentes intensidades e direcionamentos da energia psíquica. De Freud a Lacan temos um novo grande salto teórico, que nos permite integrar a linguística de Saussure à psicanálise de Freud, sendo proposta por Lacan uma verdadeira e impactante releitura teórica. Jacques Lacan, psicanalista e teórico francês, subverte a relação significante/significado, afirmando: “O inconsciente é estruturado como linguagem”, e como tal, se depara com uma sequência infindável de significantes que se ligam uns aos outros no percurso de uma história subjetiva, com seus conteúdos em redes complexas de possibilidades interpretativas, deixando na correlação com o significado apenas rastros e pistas indeléveis, cambiantes, sutis e pertencentes a uma lógica diferenciada da lógica convencional. Lacan nos impacta em sua afirmação, subvertendo a ordem cartesiana: “Penso onde não existo e existo onde não penso”. Ou seja, agora coloca a primazia do significante sobre o significado. O significado passa a ser, a partir de Lacan, apenas um efeito simbólico da cadeia de significantes infindáveis enredados e ramificados ao longo de toda uma vida.

Temos aqui um único e brevíssimo flash do que seria este labirinto em que nos encontramos ora perdidos, ora acreditando que encontramos uma saída: Somos seres apenas resultantes dos efeitos de linguagem que nos tornaram impregnados da imagem do outro ou existe algo que nos define em nossa singularidade? Como podemos nos situar entre tudo o que nos estrutura e tudo o que nos afeta no cotidiano, desde as questões mais íntimas até aquelas que nos envolvem no todo da coletividade? No espaço entre a percepção consciente e o que nos toca no mais profundo das emoções, entre a reflexão e a ação, vivemos em um labirinto de forças e influências, tanto provenientes do mundo interno psíquico como do mundo externo ao eu, todas permeadas por complexas redes de significação e valores. O que realmente deveríamos focar como prioridade humana e onde se encontra o significado que dá consistência ao viver e à existência humana?

Há que percorrer um labirinto pessoal, instintivo, racional, emocional, consciente, inconsciente, porém, insubstituível e definitivamente, intransferível em direção à construção de uma subjetividade que fundamente os requisitos para a auto-aceitação e a autovalorização, com a consistência psíquica que as vicissitudes da vida exigem de nós, seres de linguagem.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

Consultório: São Paulo (SP) Brasil
(11) 971.121432

Perdizes: R. Ministro Godói, 1301
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O processo psicanalítico: sonhos, metáforas e reflexões

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Reflexões, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O processo psicanalítico, assim como o percurso de uma viagem ou até mesmo a interpretação de um sonho envolve muitos momentos que não são estáticos, pelo contrário, o movimento que se produz e que é impulsionado na dinâmica terapêutica é o que permite ao paciente a evolução em sua caminhada de conhecimento, reconhecimento e elaboração de suas dúvidas, angústias e conflitos.

Acessar os mecanismos psíquicos exige uma abertura para um olhar de maneira ampla. Assim como uma viagem nos proporciona olhares através de diferentes ângulos e profundidades e os seus registros podem ser revelados por tomadas fotográficas nos seus mínimos detalhes e pormenores, assim a análise permite rever alguns pontos específicos onde a memória ficou cristalizada em suas distorcidas interpretações e possibilita reordená-las, quando e onde quer que seja desejado, dirigindo a estas um foco diferente e uma iluminação própria. Simultaneamente, é  importante valorizar as imagens que já puderam ser tratadas, cuidadas, que apresentam um bom resultado e desvendam capacidades que se encontravam adormecidas, assim como fazemos quando temos a oportunidade de obter tomadas fotográficas em horários diferentes do dia, os seus coloridos se modificam conforme a incidência da luz do sol, e tudo parece estar diferente, apesar de ser o registro de um mesmo ambiente. Estar disponível a esta viagem ao inconsciente e verificar quais as possibilidades de reorganizar e dar sentido às imagens que surgem desconexas como em um sonho, não é uma tarefa fácil, mas exige esta mesma disponibilidade que precisamos ter ao empreender em uma longa viagem, a capacidade de aceitar um tanto de surpresas e incertezas e despertar a capacidade de lidar com o novo, pois o viver exige-nos sermos capazes de lidar com o novo, e esta é uma vertente da verdadeira resiliência.

Presenciar momentos de nitidez nas imagens que se sucedem em um percurso analítico produz uma sensação de completude muito parecida ao encontro e à comunicação que realizamos em uma viagem quando nos encontramos com paisagens surpreendentes. Somente após um longo percurso é que podemos olhar quantas foram as voltas que demos, quantas curvas perigosas por onde passamos, quantas subidas e descidas, quantas e quantas vezes paramos para olhar o infinito e nos permitimos sermos invadidos por uma sensação de encantamento diante da imensa complexidade da vida e do nosso mundo repleto de imagens que ora se integram, ora se complementam, formando um enredo e contando uma história muito particular! Esta viagem, sem dúvidas, não tem como nos trazer de volta ao que éramos antes, se, de fato… tomarmos os devidos cuidados. As metas da análise, assim como da interpretação de um sonho, ou de uma viagem, incluem encontrar-se com uma gestalt, que possa ser única, representável e capaz de elevar a capacidade de dar sentido e produzir uma fruição, assim como nos sentimos quando podemos fruir de uma obra de arte que realmente nos toca, pois diante deste contato, nos sentimos mais humanos e podemos dar mais valor aos sensíveis e delicados momentos de uma grande emoção.

Quais são os cuidados necessários? Assim como o condutor em uma viagem deve conhecer bem o caminho e ser habilitado perfeitamente a empreender em condições seguras uma viagem, assim se exige de um analista, que seja capaz de acompanhar seguramente o processo analítico de seu paciente, que conheça as leis do funcionamento mental, que esteja apto à condução segura em pontos arriscados e temerosos do seu percurso, que permita ao seu paciente escolher as imagens que ele queira tomar como significativas, que o motive a continuar descobrindo novos encontros com a sua subjetividade, e que o faça de maneira inédita, singular, profunda e em especial, resultante em sentidos que reforcem a alegria em desvendar-se a si mesmo e situar-se, ao mesmo tempo, na imensidão das possibilidades de construir o próprio percurso e traçar a sua própria trajetória.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae

Contato: (11) 97043 4427
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Indicações da Psicanálise Perdizes e Tatuapé

Por | Abordagem psicanalítica, Autoimagem e autoestima, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Estamos sendo capturados a todo momento por um universo cujo volume incessante de imagens e informações direcionam, de certa forma, os nossos desejos, pensamentos, sonhos e emoções. Estar imerso neste mundo de riqueza de linguagens e velocidades diversas pode nos levar a uma maior vulnerabilidade psíquica e, consequentemente, à perda de contato com os aspectos mais subjetivos do ser.

As perguntas “Quem sou?” e “O que preciso para ser feliz?”  estão sendo respondidas a todo o momento por uma quantidade enorme de demandas externas que nos cercam. Entretanto, a linguagem interna dos sentimentos, sensações, desejos e emoções, muitas vezes não consegue ser capturada com tanta clareza como os signos linguísticos que nos invadem continuamente pelos meios da comunicação digital.

As sensações de angústia, tristeza, ansiedade, medo, incerteza e insatisfação podem ocupar o espaço interno mental sem que o indivíduo tenha consciência da importância da conexão consigo mesmo, com as suas questões subjetivas, ou com os efeitos das marcas de sua história de vida no psiquismo.

A falta de sintonia entre as demandas psíquicas internas e as demandas do mundo externo pode levar a idealizações dissociadas da realidade, produzindo um desgaste da autoimagem e autoestima. As dificuldades emocionais ligadas aos insucessos em lidar com os desafios da vida podem desencadear sintomas psíquicos associados às depressões, medos e ansiedades, que comprometem o desenvolvimento global do indivíduo e o processo de escolhas que remetem à realização de um sonho de felicidade almejada.

Poder falar de si mesmo em um processo terapêutico é uma oportunidade de reconectar-se com o ser subjetivo que encontra-se permeado de expectativas e frustrações por vezes muito intensas, contraditórias ou duradouras. De certa forma, o que possibilita com que uma pessoa conviva tanto tempo com um elevado grau de angústia, sofrimento e insatisfação está relacionado ao seu potencial de resiliência. Entretanto, o equilíbrio emocional pode tornar-se frágil e desgastado pela ineficácia das defesas internas, que já não conseguem suportar o nível de estresse psíquico. Ao surgirem sintomas de depressão, ansiedade, medo, pânico, ou sintomas de origem psicossomática, que prejudicam significativamente a qualidade de vida,  a pessoa se dirige finalmente à procura de uma ajuda terapêutica. Entretanto, se esta procura de ajuda é adiada por muito tempo e por diversos motivos, maiores se tornam os desdobramentos de uma falta de sintonia do paciente consigo mesmo, tornando mais complexas as suas dificuldades e mais cristalizadas as suas sintomatologias.

Na abordagem psicanalítica, os sintomas psíquicos ou psicossomáticos, aqueles que associam as questões inconscientes aos sintomas físicos, podem ser analisados e interpretados como indicativos de dificuldades importantes em conciliar os conflitos provenientes da luta entre as questões da subjetividade inconsciente.  Estes conflitos podem ter origem até nas vivências mais remotas da infância e as suas representações podem ser trazidas à consciência através da escuta analítica e serem trabalhadas através da análise.

A psicoterapia de abordagem psicanalítica pode ajudar o paciente a reconciliar-se consigo mesmo, com sua história de vida e seus traumas, identificar os valores que orientam a sua vida, resgatar os recursos psíquicos que lhe permitam lidar melhor com a sua subjetividade inconsciente, recuperar ou desenvolver a capacidade de manter o equilíbrio corpo/mente e seguir no desenvolvimento de seus potenciais para a auto-realização, saúde e bem-estar.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Neuroeducadora CEFAC

Consultório: São Paulo-SP
(11) 970434427
contato@psicatarina.com

 

Filme Lou Andreas Salomé (2016)

Por | Cultura, Gênero, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Lou Andreas Salomé, nascida na Rússia imperial em 1861 é, sem dúvida, uma das personalidades mais marcantes e polêmicas da cultura europeia e do momento político do início do século XX. A escritora  transita sobre os temas do amor, sexo e erotismo de maneira inteiramente genuína enfrentando tabus e preconceitos, colocando-se como uma mulher apaixonada pela vida e pela liberdade de ser ela mesma, rompendo totalmente com os padrões de comportamento esperados para a sua época. Teve relacionamentos com filósofos e poetas importantes, porém, perseguia o ideal do amor com liberdade, tendo sido o grande amor de Friederich Nietzsche. Em 1911 conhece Freud, faz  análise com ele e apaixona-se pela psicanálise. O filme, além de nos apresentar a sua biografia, nos permite mergulhar no caldo da cultura europeia efervescente entre o final do século XIX e começo do século XX, quando apenas algumas mulheres tinham conquistado ainda um espaço no mundo da intelectualidade masculina. Foi uma das primeiras psicanalistas mulheres e seus escritos estão mais atuais do que nunca, causam impacto nos debates filosóficos, sociológicos e psicanalíticos especialmente sobre as questões que giram em torno do feminismo, de gênero e do narcisismo.

O filme é excelente, nos coloca em contato com questões tão coletivas e tão particulares ao mesmo tempo e incita-nos a muitas reflexões. O escolhi especialmente em homenagem ao dia do psicanalista, dia 06 de maio, data de nascimento de Sigmund Freud. Um dos aspectos cenográficos  mais marcantes do filme, é a possibilidade de cenas reais relacionadas ao passado da personagem, simplesmente “brotarem” de fotografias antigas, análogo ao processo da análise, como um arquivo de traços de memória embutidos em flashes fotográficos, que vão aos poucos, se conectando, um a um, e reorganizando uma história autobiográfica, com toda a emoção que é possível ser tocada a partir destas revivescências.

 

 

Catarina Rabello
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae 

Dificuldades profissionais: Psicoterapia ou Coaching?

Por | Carreira profissional, Coaching, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Psicologia do Trabalho, Psicoterapia | Nenhum Comentário

 

Algumas vezes vivenciamos um conflito entre o querer vencer e o poder atuar de forma adequada para realizar um sonho ou alcançar uma meta. Às vezes até mesmo a motivação torna-se insuficiente e deixamos de acreditar em nossos objetivos. Por quê isso acontece de vez em quando?

Independente das questões externas que podem interferir no sucesso profissional, temos que considerar os aspectos relacionados ao perfil psicológico individual que  podem igualmente interferir nos bons resultados de projetos profissionais. Somos seres racionais, porém, transitamos nos espaços grupais com toda a nossa bagagem emocional e carregamos todos os problemas emocionais mal resolvidos aonde quer que estejamos. Portanto, nos deparamos com o fato inexorável de que a vida profissional está intimamente ligada à história pessoal e somos movidos nas relações de trabalho pelos mesmos mecanismos psíquicos que utilizamos em outras relações, pois estes fazem parte da estrutura psíquica que nos determina e com a qual nos reconhecemos como seres individuais únicos. O ambiente de trabalho é um campo fértil para se reproduzirem as dinâmicas disfuncionais e os conflitos de relacionamento mal resolvidos que vivenciamos há muito tempo atrás, nas raízes das dinâmicas e histórias familiares, somados aos conflitos internos subjetivos e inconscientes que se projetam e se reatualizam na vida profissional, sem que tenhamos a menor consciência de que estes processos fazem parte das interações no ambiente de trabalho. Logo, empreender em um projeto profissional exige um grau suficiente de habilidades no contato com o outro, exige um certo grau de autoconhecimento e um considerável grau de resiliência para saber lidar com os diferentes fatores estressantes que naturalmente surgem nas relações de trabalho.

Coaching é um processo que permite identificar quais são os aspectos que contribuem para uma baixa motivação e apresenta as ferramentas para sanar algumas falhas que vão do planejamento à execução de um projeto de trabalho. Entretanto, questões psicológicas como autoestima baixa, medo de arriscar, ansiedade quanto ao futuro, ou dificuldades no contato com o outro e no trabalho em equipe, quando não tratadas, podem levar a experiências negativas de insucessos sucessivos, podem desencadear sintomas psíquicos como ansiedade e depressão ou sintomas psicossomáticos, e até mesmo a estagnação do desenvolvimento pessoal e a desistência de sonhos e metas. Neste caso, indica-se a psicoterapia.

 

Acreditar em si mesmo é um requisito importante para toda pessoa que quer empreender ou tem um projeto a executar, mas em alguns casos este requisito precisa ser muito bem trabalhado psicologicamente. Em especial, quando o profissional passou por algumas situações de decepção ou fracasso e tornou-se refém de uma autoestima muito baixa, perdeu a autoconfiança, desenvolveu medos e bloqueios, ou pelo contrário, percebeu-se como uma pessoa fortemente movida pela impulsividade, torna-se quase impossível enfrentar novos desafios mantendo os níveis necessários de equilíbrio emocional e resiliência, sem a ajuda de um profissional capacitado em saúde mental.

Quando as dificuldades relacionadas à insegurança, ao medo, à baixa autoestima ou
 quando a impulsividade e o descontrole emocional se sobrepõem às dificuldades de planejamento e execução para alcançar a auto-realização no campo profissional, deve-se indicar uma psicoterapia prévia ao processo de coaching. Ou seja, quando surgem questões psíquicas que impedem a concretização dos resultados esperados, ou o alcance de metas torna-se prejudicado pelos problemas psicológicos associados às dificuldades da trajetória profissional, deve-se
dar a devida importância a este fator e buscar atendimento especializado
com um psicoterapeuta ou psicanalista.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP30103/ 06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
(mais de 20 anos de experiência profissional)
Coach de Carreira SBC ( Sociedade Brasileira de Coaching)


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