Interlocuções entre psicanálise e coaching

Por 27 de fevereiro de 2018Coaching, Cultura, Psicanálise

Estou comemorando 10 anos do meu blog e este é o meu primeiro post do novo site. Aproveito este espaço para apresentá-lo  a você e o convido a visitá-lo!

Escolhi o tema “Interlocuções entre Psicanálise e Coaching” aproveitando o momento atual em que se discute nas redes sociais a questão polêmica sobre os limites entre a atuação do coaching e as psicoterapias em geral. O coaching como  metodologia de desenvolvimento pessoal tem se expandido em progressão geométrica na sociedade brasileira e as vertentes de sua aplicação têm se tornado cada vez mais amplas. A metodologia do coaching passou a dialogar com outros campos do saber, em especial, com o saber psicológico e  sua atuação na área clínica. Na medida em que o objeto do coaching visa a mudança de comportamento dirigida à realização de desejos, sonhos, ideais e metas, ele se aproxima bastante das abordagens em psicologia clínica que também visam a mudança de comportamento, inclusive utilizando conceitos teóricos da TCC (terapia cognitivo-comportamental).

Por outro lado, conhecendo o objeto da psicanálise, o inconsciente e suas vicissitudes, os psicanalistas se perguntam: haveria uma  maneira de detectar os limites entre uma dificuldade pessoal trabalhada em um processo de coaching e as dificuldades que fazem parte de uma estrutura psíquica mais ampla?

Em minha experiência profissional de mais de vinte e cinco anos como psicóloga e psicanalista, penso que o limite é tênue entre a metodologia do coaching e as metodologias das psicoterapias, no que se refere à escuta e condução do profissional que as aplica, já que ambas trabalham com os potenciais humanos que precisam ser desenvolvidos, ampliados, tratados e/ou aperfeiçoados, e estas nuances, na atuação prática e no vínculo com o cliente, podem se confundir.

Por exemplo, ao utilizarmos a técnica e ferramenta poderosa do coaching para uma análise pessoal de potencialidades, que é a análise de SWOT, nos defrontamos com um dos aspectos mais difíceis de analisar da natureza humana, que são os pontos fracos de uma pessoa que busca o sucesso. Os  pontos fracos em um processo de coaching devem ser conduzidos com a utilização de técnicas objetivas pelo coach a partir da sua constatação, a fim de ajudar o seu cliente, o coachee a sanar as suas dificuldades e superar os obstáculos.

E quanto a um processo de análise psicanalítica? Os pontos fracos do cliente se espalham como os galhos de uma árvore frondosa e aparecem pelos meandros do discurso, distribuídos em suas mais diversas formas, chegando até às raízes e delineando o que nós, os psicanalistas, chamamos de subjetividade. Os pontos fracos podem ser identificados desde dificuldades que podem parecer simples, como por exemplo, uma dificuldade em elencar prioridades e estabelecer metas, até uma dificuldade a nível mais complexo, como uma baixa autoestima. Se compreendermos que um problema de autoestima está intimamente ligado a uma autoimagem que foi construída ao longo do  desenvolvimento psíquico de uma pessoa e suas raízes se apresentam nos registros inconscientes provenientes da infância, vemos que estamos diante de questões bem complexas do psiquismo. E estas, para serem tratadas, exigem uma análise mais aprofundada.

Então quais seriam os limites entre uma atuação e outra, já que toda a promoção de bem-estar da pessoa consigo mesma pode ser considerada terapêutica? Aqui vale a distinção entre os termos terapêutico e psicoterapêutico. Psicoterapia é uma metodologia de tratamento psíquico e pode ser aplicada somente pelo psicólogo e pelo médico psiquiatra, ao passo que terapêutica é toda prática que promove melhores níveis de saúde. Um processo de coaching que promove realização pessoal pode ser considerado terapêutico, na medida em que o cliente, ao alcançar as suas metas, pode ter os seus níveis de qualidade de vida e de saúde ampliados.

Talvez um bom critério a ser observado neste debate seja: Quando o coach  propõe-se a ajudar o seu coachee a progredir e consegue identificar que as dificuldades do seu cliente extrapolam o âmbito da objetividade ou percebe que este não responde bem às técnicas e ferramentas utilizadas no processo de coaching, este pode ser o momento certo de encaminhar este cliente para uma psicoterapia. Quem sabe este debate possa favorecer um diálogo mais aberto e uma parceria  mais eficaz nas condutas dos profissionais  envolvidos, a fim de ajudarem os seus clientes nos objetivos a serem alcançados.

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