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Psicanálise

Filme Lou Andreas Salomé (2016)

Por | Cultura, Gênero, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Lou Andreas Salomé, nascida na Rússia imperial em 1861 é, sem dúvida, uma das personalidades mais marcantes e polêmicas da cultura europeia e do momento político do início do século XX. A escritora  transita sobre os temas do amor, sexo e erotismo de maneira inteiramente genuína enfrentando tabus e preconceitos, colocando-se como uma mulher apaixonada pela vida e pela liberdade de ser ela mesma, rompendo totalmente com os padrões de comportamento esperados para a sua época. Teve relacionamentos com filósofos e poetas importantes, porém, perseguia o ideal do amor com liberdade, tendo sido o grande amor de Friederich Nietzsche. Em 1911 conhece Freud, faz  análise com ele e apaixona-se pela psicanálise. O filme, além de nos apresentar a sua biografia, nos permite mergulhar no caldo da cultura europeia efervescente entre o final do século XIX e começo do século XX, quando apenas algumas mulheres tinham conquistado ainda um espaço no mundo da intelectualidade masculina. Foi uma das primeiras psicanalistas mulheres e seus escritos estão mais atuais do que nunca, causam impacto nos debates filosóficos, sociológicos e psicanalíticos especialmente sobre as questões que giram em torno do feminismo, de gênero e do narcisismo.

O filme é excelente, nos coloca em contato com questões tão coletivas e tão particulares ao mesmo tempo e incita-nos a muitas reflexões. O escolhi especialmente em homenagem ao dia do psicanalista, dia 06 de maio, data de nascimento de Sigmund Freud. Um dos aspectos cenográficos  mais marcantes do filme, é a possibilidade de cenas reais relacionadas ao passado da personagem, simplesmente “brotarem” de fotografias antigas, análogo ao processo da análise, como um arquivo de traços de memória embutidos em flashes fotográficos, que vão aos poucos, se conectando, um a um, e reorganizando uma história autobiográfica, com toda a emoção que é possível ser tocada a partir destas revivescências.

 

 

Catarina Rabello
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae 

Dificuldades profissionais: Psicoterapia ou Coaching?

Por | Carreira profissional, Coaching, Dinâmicas disfuncionais, Psicanálise, Psicologia do Trabalho, Psicoterapia | Nenhum Comentário

 

Algumas vezes vivenciamos um conflito entre o querer vencer e o poder atuar de forma adequada para realizar um sonho ou alcançar uma meta. Às vezes até mesmo a motivação torna-se insuficiente e deixamos de acreditar em nossos objetivos. Por quê isso acontece de vez em quando?

Independente das questões externas que podem interferir no sucesso profissional, temos que considerar os aspectos relacionados ao perfil psicológico individual que  podem igualmente interferir nos bons resultados de projetos profissionais. Somos seres racionais, porém, transitamos nos espaços grupais com toda a nossa bagagem emocional e carregamos todos os problemas emocionais mal resolvidos aonde quer que estejamos. Portanto, nos deparamos com o fato inexorável de que a vida profissional está intimamente ligada à história pessoal e somos movidos nas relações de trabalho pelos mesmos mecanismos psíquicos que utilizamos em outras relações, pois estes fazem parte da estrutura psíquica que nos determina e com a qual nos reconhecemos como seres individuais únicos. O ambiente de trabalho é um campo fértil para se reproduzirem as dinâmicas disfuncionais e os conflitos de relacionamento mal resolvidos que vivenciamos há muito tempo atrás, nas raízes das dinâmicas e histórias familiares, somados aos conflitos internos subjetivos e inconscientes que se projetam e se reatualizam na vida profissional, sem que tenhamos a menor consciência de que estes processos fazem parte das interações no ambiente de trabalho. Logo, empreender em um projeto profissional exige um grau suficiente de habilidades no contato com o outro, exige um certo grau de autoconhecimento e um considerável grau de resiliência para saber lidar com os diferentes fatores estressantes que naturalmente surgem nas relações de trabalho.

Coaching é um processo que permite identificar quais são os aspectos que contribuem para uma baixa motivação e apresenta as ferramentas para sanar algumas falhas que vão do planejamento à execução de um projeto de trabalho. Entretanto, questões psicológicas como autoestima baixa, medo de arriscar, ansiedade quanto ao futuro, ou dificuldades no contato com o outro e no trabalho em equipe, quando não tratadas, podem levar a experiências negativas de insucessos sucessivos, podem desencadear sintomas psíquicos como ansiedade e depressão ou sintomas psicossomáticos, e até mesmo a estagnação do desenvolvimento pessoal e a desistência de sonhos e metas. Neste caso, indica-se a psicoterapia.

 

Acreditar em si mesmo é um requisito importante para toda pessoa que quer empreender ou tem um projeto a executar, mas em alguns casos este requisito precisa ser muito bem trabalhado psicologicamente. Em especial, quando o profissional passou por algumas situações de decepção ou fracasso e tornou-se refém de uma autoestima muito baixa, perdeu a autoconfiança, desenvolveu medos e bloqueios, ou pelo contrário, percebeu-se como uma pessoa fortemente movida pela impulsividade, torna-se quase impossível enfrentar novos desafios mantendo os níveis necessários de equilíbrio emocional e resiliência, sem a ajuda de um profissional capacitado em saúde mental.

Quando as dificuldades relacionadas à insegurança, ao medo, à baixa autoestima ou
 quando a impulsividade e o descontrole emocional se sobrepõem às dificuldades de planejamento e execução para alcançar a auto-realização no campo profissional, deve-se indicar uma psicoterapia prévia ao processo de coaching. Ou seja, quando surgem questões psíquicas que impedem a concretização dos resultados esperados, ou o alcance de metas torna-se prejudicado pelos problemas psicológicos associados às dificuldades da trajetória profissional, deve-se
dar a devida importância a este fator e buscar atendimento especializado
com um psicoterapeuta ou psicanalista.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP30103/ 06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
(mais de 20 anos de experiência profissional)
Coach de Carreira SBC ( Sociedade Brasileira de Coaching)


Consultório: São Paulo
(11) 970434427
contato@psicatarina.com
Perdizes: R. Cardoso de Almeida, 1005
Tatuapé: R. Serra de Botucatu. 48

O Trauma sob o olhar psicanalítico

Por | Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Trauma é um termo de origem grega (traûma) que significa ferida, dano ou avaria, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos danosos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico, prejudicando o seu funcionamento e a sua integração.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses, segundo Freud, encontramos traços de memória de experiências traumáticas inconscientes que surgem no discurso do paciente em análise e que foram vividas em momentos precoces do seu desenvolvimento infantil, quando a linguagem ainda incipiente, ou o psiquismo ainda imaturo, não dispunham de recursos suficientes para elaborar a intensidade do impacto psíquico produzido pelo trauma.

Sinais mnêmicos da experiência traumática, como sinais de angústia, medos, sintomas de depressão e ansiedade, segundo o olhar psicanalítico, podem passar a fazer parte integrante do psiquismo produzindo efeitos que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado, já que o inconsciente é uma instância psíquica atemporal.

O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente associada a uma memória emocional que não  se manifesta necessariamente vinculada aos fatos que a geraram, profundamente marcada no aparelho psíquico, passe a ser contornada pela linguagem e passe a fazer parte de um conteúdo psíquico com representação simbólica.  Desta forma, cria-se na análise uma oportunidade  de trabalhar o conteúdo psíquico traumático e o trauma pode deixar de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia sem nomeação, para tornar-se um registro simbolizado de vivências que podem agora, ao invés de serem repetidas de forma contínua e patológica, serem elaboradas e reintegradas de maneira a permitir um funcionamento psíquico saudável.

 

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

 Assim como as formações do inconsciente reatualizam um trauma que foi vivido há muito tempo atrás, em uma linguagem metafórica, os fósseis representam os elos que nos indicam as pistas do modo de vida de seres extintos há milhões de anos. Os fósseis são os vestígios de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram se cristalizando e fazendo parte integrante das rochas, permitindo com que os paleontólogos através dos seus estudos, possam concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta, podendo recolher, reorganizar e analisar os sinais dos eventos ocorridos em uma era em que a humanidade ainda não dispunha de recursos tecnológicos para registrá-los.

O psicanalista por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, mantêm-se vivos no inconsciente, produzindo efeitos atualizados através de sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas psíquicos. Em um processo psicanalítico, através da escuta e análise do discurso do paciente, das interpretações e intervenções psicanalíticas, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente. No texto “Recordar, Repetir e Elaborar” (1914), Freud  situa-nos frente aos três pilares fundamentais do trabalho da análise, indicando os caminhos pelos quais o paciente percorre em um processo analítico para elaborar as suas vivências traumáticas, libertar-se das fixações que o aprisionam e tratar bloqueios, sintomas e inibições que em alguns momentos críticos da sua história de vida, puderam ocasionar dificuldades e transtornos.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicoterapeuta adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Coach de Carreira membro da Sociedade Brasileira de Coaching


Consultório São Paulo:   (11) 970434427

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Perdizes  R. Ministro Godói, 1301
Tatuapé   R. Serra de Botucatu, 48

Sobre a Consciência: “E o Cérebro Criou o Homem” Antonio Damásio

Por | Neurociências, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

O neurocientista Antonio Damásio em seu livro  “E o Cérebro Criou o Homem” (2009) propõe-se a descrever a neurobiologia da consciência e utiliza-se do termo “testemunha” para referir-se à qualidade da mente consciente. Segundo o autor, a consciência funciona como uma testemunha da mente e esta, resultante dos processos cerebrais, compõe juntamente com a linguagem o que chamamos de self ou imagem de si mesmo. As imagens não se referem apenas ao plano visual , mas a todas as imagens sensoriais que resultam de diferentes fontes de percepção, como auditivas, olfativas, cinestésicas ou táteis, bem como provenientes de diferentes processamentos cerebrais, como linguísticos, lógicos ou matemáticos.

Para compreendermos como o cérebro torna a mente consciente Damásio utiliza-se da biologia evolucionária, explicando que a mente consciente tem passado também por um processo evolutivo sujeito a especializações necessárias e aprendizagens decorrentes da seleção natural. O corpo é a estrutura de base para a formação da consciência, que se desenvolve a partir das imagens formadas no cérebro em forma de mapas representacionais.

Como se originam os sentimentos? Damásio nos alerta: os primeiros sentimentos originam-se do tronco cerebral e não do córtex cerebral e estão relacionados ao sentimentos mais elementares como o sentimento de estar acordado ou de estar vivo. O segundo nível de self refere-se ao self central, ou seja, a relação da consciência com tudo que esteja ligado a um contexto central e atual. Por último, Damásio descreve o self autobiográfico, aquele que confere à imagem de si mesmo um olhar histórico-temporal das imagens do passado e do presente para antever o futuro, incluindo as interpretações subjetivas das experiências vividas.

O autor refere-se à consciência como uma grandiosa “obra sinfônica” capaz de coordenar informações e funções provenientes de vários níveis cerebrais e de suas relações entre o corpo, o córtex cerebral e as estruturas subcorticais. O funcionamento da consciência somente é interrompido pelo sono, por anestesia, por disfunção cerebral ou pela morte.

 

Mecanismos para administrar e preservar a vida não são exclusivos dos humanos. Pelo contrário, estão presentes inclusive entre seres unicelulares. Porém, a consciência humana confere ao homem a capacidade de criar novas maneiras de conviver nas esferas da sociedade e da cultura. A vasta capacidade da consciência permite que o ser humano faça escolhas. Mesmo que, em boa parte, suas escolhas estejam permeadas por complexos níveis inconscientes de funcionamento mental, o ser humano é capaz de afirmar o seu livre arbítrio.

A partir dos estudos sobre a consciência abre-se um vasto campo de pesquisas e novas possibilidades de articulação entre as neurociências e outras áreas da ciência e da cultura, incluindo-se a psicanálise com o seu olhar sobre os efeitos do inconsciente na estrutura do psiquismo, nas escolhas individuais, nas visões de mundo e de self, e, inclusive, sobre a consciência! A interrelação entre consciência e o funcionamento inconsciente da mente, segundo a abordagem da psicanálise, é o que permite a cada pessoa o acesso à sua subjetividade particular, ao seu perfil emocional e aos seus mecanismos de defesa através do tratamento psicanalítico.

 

 

Ao celebrar mais um ano do meu blog, agora completando o décimo ano, estou reinaugurando o meu site, que agora está mais bonito, mais moderno e mais fácil de entrar em contato comigo! Estou escrevendo novas postagens e também reatualizando as postagens antigas que foram mais significativas e que contribuíram para a compreensão de vários temas relacionados à saúde mental.

Sinto-me orgulhosa por ter conseguido cuidar do meu blog até hoje como uma mãe coruja, que não descuida da sua prole, mantendo-se alerta e permanentemente consciente de sua responsabilidade. Agradeço aos leitores por compartilharem este espaço com comentários que ampliam a nossa capacidade de reflexão e compreensão sobre o bom funcionamento do psiquismo, com idéias e informações que venham acolher as necessidades de cada um e contribuir para uma qualidade de vida melhor.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Atendimento a adultos, adolescentes, casais e famílias
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do I. Sedes Sapientiae

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Olhar de frente para si mesmo Requer ousadia e serenidade

Por | Cultura, Família, Psicanálise, Reflexões | Nenhum Comentário

Os processos de psicoterapia são compreendidos como processos de autoconhecimento. Entretanto, para quem nunca fez uma terapia, este conceito parece estranho e muito vago. O que seria o autoconhecimento na área psíquica? Segundo a abordagem psicanalítica, o autoconhecimento vai muito além de conhecer as suas emoções e controlá-las quando necessário, implica descobrir sob quais mecanismos inconscientes está regido o seu psiquismo. A partir de um trabalho rigoroso de escuta do discurso do paciente o psicanalista pode ajudá-lo a descobrir as representações simbólicas que são arquivadas no inconsciente e funcionam como as motivações de suas emoções, sentimentos, pensamentos, sonhos e sintomas.

Segundo a teoria freudiana as leis do inconsciente funcionam sob os mecanismos da condensação e do deslocamento, que são mecanismos linguísticos e lógicos que se sobrepõem à logica da consciência, gerando os conteúdos inconscientes, aqueles que foram de certa maneira ocultados  da consciência frente aos limites do mundo interno e externo, às ambivalências e contradições humanas. O inconsciente é uma instância psíquica que nos move frente ao complexo universo dos afetos, desejos, ideais e emoções, e que nos leva a reagir de maneira automática e repetitiva diante das tensões cotidianas.

O sonho foi para Freud o caminho por excelência da descoberta do inconsciente e dos seus mecanismos. Os sonhos para o olhar psicanalítico permitem um acesso a conteúdos reprimidos que aparecem em imagens visuais e linguísticas distorcidas que se configuram nas cenas do sonho, como se o sonho realizasse uma verdadeira produção teatral, porém, com valor de realidade, o real do inconsciente. Tanto os personagens como as situações vividas no sonho têm uma íntima relação com conteúdos simbólicos reprimidos que podem vir a ser interpretados analiticamente, ou seja, fazem parte do funcionamento mental e neurolinguístico que segue uma lógica determinada, a lógica do inconsciente. Estamos, portanto, próximos ao campo da lógica e da linguística no processo analítico do autoconhecimento.

Olhar para si mesmo é um processo ousado? 

Sim, porque implica colocar as certezas a respeito de si mesmo e as suas justificativas em dúvida. Todos nós compomos histórias que nos levam a justificar como somos. A psicanálise permite ao paciente enxergar os pontos cegos na sua maneira de ser e se relacionar. Também permite elaborar psiquicamente as dores que se mantém provocando tristezas, angústias, ansiedades ou sintomas que são, por vezes, incapacitantes.

A iguana verde é um réptil dócil e extremamente tranquilo. É capaz de ficar horas na mesma posição contemplando o ambiente ao seu redor. Ela é mais verde quando jovem e vai mudando de cor conforme a idade até ficar totalmente acinzentada. A iguana sofre transformações com a idade, o que injustamente a leva a ser alvo de exemplos pejorativos no imaginário social quando chamamos alguém de “camaleão”. Na verdade, é saudável que possamos mudar a nossa autoimagem, que possamos reconhecer os efeitos da nossa história nas nossas falhas e possamos ressignificar algumas experiências difíceis, pois este processo pode coincidir com o amadurecimento tão desejado e com um novo olhar para a vida, menos rancoroso, mais paciente, mais esperançoso e mais autoconfiante.

Um projeto de autoconhecimento através da análise exige
serenidade e ousadia, 
persistência, escuta e observação.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Os Pais como Espelho e Neurônios-espelho

Por | Família, Neurociências | Nenhum Comentário

O que são neurônios-espelho?

 São aqueles neurônios que nos permitem apreender o mundo pela observação e constitui uma das formas mais simples e eficazes de aprendizado, esta que se dá pelo processo de imitação. Com as crianças menores esse processo de aprendizagem é bem perceptível. A criança utiliza os neurônios-espelho para aprender a assimilar os comportamentos do adulto. Entretanto, quando a criança reproduz um comportamento que é inaceitável para o seu educador e passa a ser repreendida pelo mesmo, não compreende o porquê da repreensão e percebe uma incongruência na pessoa que a educa. Ela descobre precocemente que o adulto nem sempre faz o que ele ensina e isto pode dificultar a aprendizagem dos valores e princípios éticos aos quais está sendo exposta. Esta ambivalência na postura dos adultos pode gerar conflitos intrapsíquicos na criança e confusões nos seus critérios de avaliação entre o certo e o errado, dificultando o seu desenvolvimento cognitivo, social e emocional.

Há inúmeros motivos que podem deixar os pais irritados e estressados, porém, os pais que não conseguem controlar a sua agressividade perante os filhos, seja em atos ou em palavras, estão se colocando como um espelho prejudicial à criança. Quando ela expressa e reproduz a agressividade utilizando-se de determinados comportamentos e palavras próprias do adulto, é fácil identificar que houve um aprendizado. Mas o adulto, no papel de educador evita reconhecer a sua função de espelho na formação do psiquismo infantil, porque isto exige necessariamente uma reflexão sobre a sua postura, a forma de se expressar e a necessidade de mudança de atitudes que ele manifesta frente à criança. Os pais e educadores que reconhecem que as crianças tem o adulto como a sua referência máxima e o seu modelo primordial como espelho na formação do psiquismo, desde o início do processo educativo, tendem a desenvolver uma consciência mais plena e a assumir um cuidado maior sobre as suas falas, reações e atitudes frente à criança. Desta forma, podem conduzir melhor a apreensão dos valores éticos e morais, elementos primordiais para uma boa socialização infantil. Estes valores são transmitidos pelas falas, atitudes dos adultos e pelas suas reações emocionais. Devido a estes fatores, fique em alerta: uma criança pode estar aprendendo com você um modelo por vezes incongruente de como se relacionar e se situar no mundo nos momentos de descontrole emocional. 

E quanto à autoestima? Um conceito tão utilizado no cotidiano social, mas as pessoas costumam esquecer que as bases da autoestima e autoimagem formam-se desde a mais tenra infância! A partir de tudo o que a criança ouve e percebe sobre a imagem que os pais e educadores formam sobre ela e expressam em forma de elogios, críticas, repreensões e desabafos quando estão saturados de problemas, ela vai compondo a sua autoimagem porque ela acredita no que é transmitido a ela. É necessário ter mais consciência da função educativa do adulto como um verdadeiro espelho à criança!! 

Se os neurônios-espelho são tão importantes para o aprendizado das funções sociais, a sua deficiência pode causar severos transtornos neste aprendizado. Estudos e pesquisas com crianças portadoras do transtorno do espectro autista indicam que elas podem apresentar deficiência nos neurônios-espelho, o que representa um fator importante no deficit de desenvolvimento
da criança autista para uma interação social de qualidade e aprendizagem por imitação.

 O adulto que tem condições emocionais de oferecer-se como um bom espelho à criança está contribuindo pra ela construir uma autoimagem positiva. Seja um espelho limpo ou um espelho com distorções, a criança assimilará o seu comportamento, aprenderá com o seu exemplo e reproduzirá as condutas que revelam um padrão adulto de ser.

Como assim?? Os valores éticos, as expressões de afeto, os preconceitos, as atitudes agressivas, os humores, as reações negativas, as formas de se relacionar com o outro e com o ambiente são aprendidos pela criança a partir de um modelo oferecido pelo adulto e reproduzido pelos neurônios-espelho?

As neurociências indicam que sim!! E a psicanálise confirma e acrescenta que os traços de memórias inconscientes registrados pela criança ajudam a compor o que se tornará na fase adulta a sua subjetividade.

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
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Psicologia em casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral)

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O paciente acometido pelo AVC (Acidente Vascular Cerebral) pode apresentar sequelas motoras, alterações de linguagem e distúrbios psíquicos. Os danos psicológicos mais comuns do AVC estão ligados a sintomas depressivos, como apatia, desânimo, tristeza, irritabilidade, baixa tolerância a frustrações e perda da autoestima, o que leva o paciente a perder a esperança na recuperação plena de suas funções e reduzir os seus esforços para o processo de reabilitação. Os sintomas de linguagem compreendem desde um quadro de afasia até alterações na movimentação dos órgãos fono-articulatórios gerando dificuldades de fala, mastigação, deglutição, alterações de memória, compreensão e expressão.

Sintomas depressivos e alterações do humor

Os sintomas depressivos podem retardar o processo de recuperação na área funcional, cognitiva e motora, interferindo negativamente na recuperação da marcha, memória, fala e escrita. Os familiares podem observar alterações no comportamento do paciente que são difíceis de contornar, pois é comum o aumento da irritabilidade e agressividade frente às suas limitações físicas e motoras e às dificuldades da família em compreender e encontrar maneiras adequadas para lidar com o paciente. O sucesso da reabilitação depende de múltiplos fatores como gravidade e extensão da lesão, faixa etária,  estrutura psíquica do paciente, estrutura familiar e fatores sócio/econômico/culturais.

Entre os profissionais que compõem a equipe de reabilitação do paciente pós- AVC encontramos o psicólogo, o fonoaudiólogo e o fisioterapeuta, os quais, em parceria, podem assumir uma postura única visando a potencialização de recursos internos do paciente para a aceitação dos limites e melhora da autoestima, fator coadjuvante e fundamental para a recuperação das funções motoras ligadas à marcha, às atividades de vida diária e à comunicação oral e escrita. Algumas limitações podem ser incapacitantes e duradouras, outras podem ser minimizadas com a reabilitação, contudo todas podem causar um enorme desgaste emocional para o paciente e sua família. Em casos em que os sintomas psíquicos perduram ou intensificam-se torna-se necessário um acompanhamento psiquiátrico associado à psicoterapia.

Orientação familiar e psicologia

A orientação familiar é fundamental para facilitar a aceitação e adaptação às novas condições de vida do paciente, agora com as sequelas e perdas decorrentes do AVC, o que pode interferir no comportamento do paciente e provocar conflitos de opiniões entre os familiares quanto à melhor conduta. A família está sujeita às mudanças impostas pelas sequelas do paciente acometido pelo AVC, sendo a perda da independência e autonomia do paciente um dos problemas mais difíceis de aceitar e administrar no meio familiar. Em especial, se a família já enfrentava conflitos de relacionamento com o paciente ou com os familiares entre si, as questões de como assumir os cuidados com o paciente podem se complicar ainda mais.

Como a Fonoaudiologia foi a minha primeira carreira profissional, tenho bastante experiência em casos de AVC. Não atendo mais como fonoaudióloga. Hoje o meu trabalho é direcionado para o atendimento psicológico e psicanalítico e orientação familiar em casos de alterações psíquicas associadas a transtornos neurológicos. Também utilizo a abordagem de Coaching para a reintegração social e profissional aos pacientes com sequelas neurológicas.

 

Catarina Rabello
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Trauma sob o olhar da Psicanálise

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Trauma é um termo de origem grega que significa ferida, sendo utilizado principalmente pelo campo da medicina. A psicanálise transpôs este termo para o plano psíquico, explicando o trauma como uma consequência de um choque emocional violento capaz de produzir efeitos sobre o psiquismo como um todo. O trauma pode advir de uma única vivência muito violenta ou da somatória de experiências de grande impacto psíquico que se fixam e não conseguem ser metabolizadas pelo aparelho psíquico.

Nas bases etiológicas das neuroses e psicoses encontramos sinais de experiências traumáticas que foram vividas num momento  precoce da vida durante o desenvolvimento infantil quando a linguagem ainda incipiente não podia ser utilizada para traduzir a intensidade do impacto psíquico do trauma. Os traumas também podem associar-se a sintomas depressivos e de ansiedade, colocando-se como reforçadores dos transtornos de pânico, do estresse pós-traumático, das depressões e outras patologias.

Sinais mnêmicos da experiência traumática podem passar a fazer parte do psiquismo produzindo sintomas que expressam-se de maneira constante e repetitiva, sendo uma tentativa insistente do aparelho psíquico a liberação da energia livre que ainda não pode ser simbolizada, independente do tempo em que o trauma foi desencadeado.  O trabalho psicanalítico favorece um caminho para que a experiência traumática infantil fortemente emocional e profundamente marcada no aparelho psíquico passe a ser contornada pela linguagem. Desta forma, cria-se uma oportunidade  de reintegração do conteúdo psíquico traumático e o trauma deixa de ser uma fonte de recorrência de sintomas de angústia e ansiedade sem nomeação para tornar-se um registro simbolizado do passado.

Qual seria a semelhança entre o trauma e os fósseis que encontramos incrustados nas rochas?

Assim como o trauma, os fósseis nos dão as pistas de um modo de vida de seres extintos há milhões de anos atrás. Os fósseis são os restos de animais ou vegetais que ficaram depositados intactos sobre o solo e gradativamente foram enrijecendo e fazendo parte integrante das rochas, permitindo que os paleontólogos possam hoje, através dos seus estudos, concluir sobre a história do desenvolvimento do planeta numa era em que os historiadores ainda não existiam.

O psicanalista, por sua vez, é o profissional que pode acompanhar esta busca através da interpretação dos restos mnêmicos da história do paciente, que, ao contrário dos fósseis, se mantém vivos no inconsciente produzindo efeitos atualizados como sonhos de angústia, pesadelos, atos falhos e sintomas. Em um processo psicanalítico, através da escuta cuidadosa do discurso do paciente e das interpretações e intervenções do analista, a experiência traumática pode vir a ser elaborada pelo psiquismo e deixar de se apresentar de maneira repetitiva, incompreensível e dolorosa ao paciente.

 

Catarina Rabello
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