All Posts By

Catarina Rabello

O Sonho Devorador

Por | Abordagem psicanalítica, Sonhos | Nenhum Comentário

 

Gilles Deleuze, em “O Ato de Criação” elogia a ideia que o cineasta Vincente Minnelli tem sobre o sonho. Diz ele: “A grande ideia de Minnelli sobre o sonho é que ele diz respeito sobretudo àqueles que não sonham. O sonho daqueles que sonham diz respeito àqueles que não sonham. Por que isso lhes diz respeito? Porque sempre que há o sonho do outro, há perigo. O sonho das pessoas é sempre um sonho devorador, que ameaça nos engolir. Que os outros sonhem é algo perigoso. O sonho é uma terrível vontade de potência. Cada um de nós é mais ou menos vítima do sonho dos outros. Desconfiem do sonho do outro, porque se vocês forem apanhados no sonho do outro, estarão em maus lençóis.”

“O sonho é uma terrível vontade de potência”. O desejo de poder pode cegar, pode destruir, pode nos anular, porque este é um desejo que, em grandes proporções, torna-se incompatível com a ética, e em última análise, com a vida. Teremos para sempre marcadas em nossa história as tristes tragédias de Mariana e Brumadinho, um povo engolido pelo sonho devorador de algumas poucas pessoas. Face a esta constatação, é preciso fazer frente. É preciso dar voz a quem merece ser ouvido, é preciso reconstruir a vida, recuperar a capacidade de sonhar, tecer um sonho que possa ser compartilhado, não um sonho devorador e ameaçador, mas um sonho agregador, que diminua a dor, e que resgate da ética do bem viver a sua máxima potência. Ajudar a resgatar, de fragmento a fragmento, a capacidade de sonhar, daqueles que não acreditam mais em sua força e potencialidade, exigirá um trabalho árduo da sociedade, que tende ao silenciar do seu grito com o passar do tempo. Analisemos os sonhos devoradores, eles demandam de nós atitudes reais e realistas para ajudarmos a transformar toda esta realidade de pesadelos, perda de sentidos e perda de identidade, em novas perspectivas do olhar.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
contato@psicatarina.com

Adolescência, riscos e conflitos

Por | Abordagem psicanalítica, Adolescentes, Depressão do adolescente, Prevenção ao suicídio, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Terapia familiar | Nenhum Comentário

O período da adolescência requer cuidados tão específicos que, muitas vezes, os pais sentem-se desorientados quanto à melhor forma de abordagem para  ajudar os seus filhos. O processo de amadurecimento do adolescente segue um ritmo marcado pelas condições do ambiente biopsicossocial, envolve aspectos da história que são permeados pelo contexto das dinâmicas familiares, suas falhas, seus padrões de comunicação e modos de interagir, está sujeito às influências  socioculturais que incidem nos valores e costumes familiares, e sofre os efeitos da turbulência de pulsões e conflitos inconscientes. Se o adolescente passa a sofrer demais com os desafios que lhe são impostos, se ele é acometido por situações de bullying ou abusos, se a sua autoimagem e autoestima vão sendo rebaixadas por vivências frustradas, mal sucedidas ou traumáticas e ele passa a ter dificuldades em relacionar-se com amigos e familiares,  este período pode  transformar-se em um grande obstáculo à conquista de espaço, com dificuldades no estabelecimento de sua identidade, podendo surgir bloqueios, inibições e sintomas de depressão, ansiedade, pânico, condutas agressivas consigo mesmo e com o outro. Neste momento não podemos negar que o adolescente necessita uma ajuda, mesmo que, a princípio, tente esconder ou não revele os seus sentimentos e dificuldades explicitamente. Este período exige uma energia tão grande do adolescente para processar todas as suas transformações, ideais e frustrações, que, em certos momentos, parece ser mais frágil e infantil do que realmente é. Por outro lado os pais ou responáveis,  ao  observarem que seus filhos estão mudando radicalmente de comportamento com mudanças significativas de humor, condutas agressivas ou estão cada vez mais fechados em um profundo isolamento afetivo, ao não compreenderem o que está acontecendo, perguntam-se a si mesmos onde foi que eles erraram, sentindo-se culpados, mas não sabendo como ajudá-los. Muitas vezes as dinâmicas familiares não favorecem o diálogo, o que torna a convivência familiar com o adolescente  ainda mais difícil e desoladora.

Os conflitos dos adolescentes podem estar associados a questões de identidade pessoal e sexual, dificuldades de autoaceitação, dificuldades com o próprio corpo, problemas de relacionamento com o grupo da mesma faixa etária, baixa estima, compulsões, inibições, sintomas psicossomáticos, dependências, e conflitos extremamente difíceis de serem elaborados por envolverem as questões de relacionamento consigo mesmo dependente da estrutura psíquica e dos mecanismos do funcionamento inconsciente. Em função da grande invasão da internet já muito cedo na vida de crianças e adolescentes,  alguns têm se tornado reféns de propostas, desafios e comentários de redes sociais que podem ser prejudiciais e até desagregadores da saúde mental. Dado um grau elevado de vulnerabilidade emocional do adolescente, em estado de sofrimento, em isolamento ou em conflito com a sua autoestima, pode tornar-se uma presa fácil para  crenças, fantasias e cultivo de um imaginário onde o desejado desafio proposto pela internet possa levar a sérios riscos de envolvimento com pessoas, condutas e comportamentos doentios, estando em risco de compartilhar e ser incentivado, como outros adolescentes, a comportamentos patológicos associados a transtornos psiquiátricos, como o cortar-se, o autoflagelo, a anorexia, e até mesmo o suicídio, como uma forma de sentir-se aceito por uma comunidade que lhe promete um compartilhamento de uma dor que não consegue expressar de outra forma.

Aos primeiros sinais de depressão ou alterações de comportamento do adolescente, como aumento do isolamento, irritabilidade, dificuldades de concentração e aprendizagem, desânimo ou agressividade, deve-se procurar a ajuda de um profissional da saúde mental capacitado para avaliar e tratar, considerando que, o adolescente inserido no contexto das dinâmicas familiares com seus problemas e suas disfuncionalidades, pode ser atendido também por uma abordagem de terapia familiar.  Uma das tentativas iniciais seria ajudar o adolescente a aceitar uma ajuda terapêutica, pela qual pudesse sentir-se acolhido em seu sofrimento e posteriormente pudesse situar-se criticamente em um mundo que, ao mesmo tempo que o seduz com promessas libertadoras, pode produzir experiências de bloqueio e aprisionamento irreversíveis. Tais riscos podem ser evitados com uma observação cuidadosa e uma postura de proteção efetiva à saúde global do adolescente. O adolescente merece ser ouvido em sua integralidade, ser respeitado em sua individualidade, sentir-se amado, protegido e acolhido em suas dúvidas e vulnerabilidades, entretanto, isso nem sempre é possível no ambiente familiar. Ao mesmo tempo em que vive em busca constante de aceitação, tem que lidar com enormes conflitos, instabilidades e inseguranças generalizadas. A escuta cuidadosa, o diálogo atento e uma atitude acolhedora  por parte de uma equipe de saúde constituem um dos enormes pilares para ajudar o adolescente na sua busca de segurança, afeto e integração saudável consigo mesmo.

 

 

Catarina Rabello

Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista
contato@psicatarina.com

Psicoterapia x psicanálise: um modo de lapidar o ser

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Psicoterapia Adolescentes e Adultos, Psicoterapia Perdizes, Psicoterapia Tatuapé, Terapia de Casais Perdizes, Terapia de Casais Tatuapé, Terapia familiar sistêmica | Nenhum Comentário

Lapidação é um processo complexo que visa potencializar as características de beleza e valor das pedras preciosas, gemas e diamantes. Os diamantes estão entre as gemas mais valiosas que encontramos na natureza. Eles apresentam formas geométricas em sua forma bruta, porém, a riqueza e o valor do diamante se tornam cada vez maiores, quanto maior o grau de pureza e maior o número de facetas lapidadas na pedra bruta, produzindo efeitos de luz e  brilho que a pedra pode refletir. A lapidação brilhante significa que um diamante apresenta 58 facetas, ou seja, sofreu 58 cortes até definir a qualidade do seu brilho ímpar, que lhe confere a sua  identidade característica.

Quando tratamos de um texto escrito, também podemos lapidá-lo, encontrando as melhores palavras e buscando os melhores meios de expressão, mais claros, mais belos e mais valiosos. E quanto ao ser bruto que encontramos em nossas escondidas cavernas psíquicas, permeadas de restos e poeiras do passado, que prejudicam o nosso brilho e o aproveitamento de nossos valores mais preciosos?

Encontrar-se com a psicoterapia psicanalítica pode ser um processo tão valioso e complexo como o processo da lapidação brilhante, exigindo da dupla terapeuta e paciente um cuidado especial neste trabalho, que requer muita técnica, experiência, manejo adequado, delicadeza, paciência, mas muita firmeza e determinação em um manejo, que, de certa forma, assemelha-se ao trabalho do artesão na tarefa de ajudar o paciente a lapidar o que lhe impede de extrair o melhor de si mesmo.

Conhecer a si próprio e encontrar-se com o que pode haver de mais bruto e originário em si mesmo pode causar uma certa dor, uma certa angústia, um sentimento de insegurança frente ao novo, assim como uma resistência do paciente em acreditar que o processo de “lapidação” psíquica em uma análise possa ajudá-lo a recuperar um brilho perdido. A lapidação consiste basicamente em um processo de finos cortes que potencializam a irradiação da luz, e no psiquismo, analogamente, poderíamos pensar em como modificar e ajudar o paciente a se libertar de alguns mecanismos de defesa não mais eficientes, insuficientes ou que contribuem para o  aprisionamento da sua identidade e subjetividade. Em alguns casos o abandonar mecanismos mais primitivos e arraigados, que vem ofuscar o brilho de uma relação mais positiva com a vida, com o outro e consigo mesmo, pode ser interpretado como uma perda de identidade. Vivemos sob os reflexos de experiências dolorosas do passado, que podem se reproduzir em novas fontes de sofrimento, porém, já sem o contato consciente com as memórias antigas, acreditamos que sofremos pelas situações de vida atuais, e então todo o brilho que se esconde atrás de marcas e restos de rochas, se ofusca  e se cristaliza como barreiras impedindo a projeção do ser de maneira saudável no mundo.

As gemas minerais são resultantes de transformações geológicas de milhões de anos. Daí a famosa frase de Jules Roger Sauer: “Pedras preciosas: uma colheita que jamais se repete”.  A transformação da pedra bruta em pedra polida, porém, requer a interferência humana, de alguém que se especializou  no ofício da lapidação e na busca do brilho perfeito. Se pensarmos que este brilho já existe em potencial, poderemos delegar ao profissional da lapidação apenas uma parte do mérito do resultado final do brilhante ou do diamante lapidado. Enfim, não basta saber lapidar, é preciso encontrar-se com o diamante que se esconde entranhado nas rochas, é preciso empreender em todo um processo de garimpagem, filtragem e limpeza gradativa até o processo final de lapidação. É preciso acreditar que um tratamento psicoterápico psicanalítico possa aliar-se ao mais valioso e profundo brilho de um ser que se mostra muito opacificado pelos insucessos, frustrações e repetições sintomáticas sobre algo que não se desfaz sozinho. Pelo contrário, algo que se cristaliza a cada dia como uma desesperança, requer decisivamente a intervenção precisa de um outro com habilidades específicas e especializadas no processo de recuperação da saúde psíquica.

No mês do Janeiro Branco vamos contribuir para que mais pessoas possam empreender em um processo de psicoterapia significativo, que facilite a auto-valorização pessoal e o reencontro com a subjetividade ampliando as possibilidades de ligações saudáveis com a vida. Observe sinais de depressão em pessoas conhecidas e não se omita em sugerir um acompanhamento em saúde mental.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/6
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Consultório: (11) 971121432
Tatuapé: R. Serra de Botucatu, 48
Perdizes: R. Ministro Godoy, 1301

Psicanálise, interpretação e linguagem

Por | Atendimento psicanalítico, Linguagem, Linguagem e inconsciente, Psicanálise, Psicanálise e linguagem | Nenhum Comentário

 

Somos seres de linguagem, interpretantes e interpretados, e isto ocorre continuamente, mesmo em casos em que o silêncio prepondera. Analisar e compreender os caminhos que levam às angústias e sofrimentos humanos não se torna uma tarefa fácil de desenvolver, visto a complexidade dos atalhos e tramas simbólicas que envolvem o ser desde o seu nascimento até a morte.

Freud, Lacan e Saussure percorreram uma jornada teórica distinta ao mundo da linguagem humana para nos oferecer um contorno à análise e compreensão deste fenômeno tão essencial que nos confere a qualidade de humanos. A qualidade humana de criar signos e transformá-los em linguagens e culturas tão diversas, nos caracteriza como seres diferenciados no mundo animal. Ferdinand Saussure, o linguista e filósofo suíço, falecido em 22 de fevereiro de 1913, nos apresentou a tese básica da linguagem e a relação simbólica significante/significado, propondo que a cada símbolo pertencente a uma determinada língua, haveria uma relação entre a sua apresentação sonora ou visual (significante) e a sua significação (significado). De Saussure a Chomsky, teorias linguísticas a respeito da linguagem e seus efeitos na cultura, nas sociedades e na civilização, vêm sendo desenvolvidas a passos largos.

Dando um salto da linguística à psicanálise, encontramos em Sigmund Freud, a partir do final do século XIX uma teoria que tenta explicar os mecanismos do desenvolvimento e funcionamento psíquico a partir das experiências e vivências infantis, as quais são extremamente sensíveis e dependentes dos efeitos da linguagem do adulto sobre a mente infantil e como as suas marcas permanecem vivas no inconsciente e no psiquismo adulto. Freud considera não somente a linguagem comunicada por atos, gestos, sintomas e palavras, mas principalmente, aquela que subjaz ao conteúdo manifesto da linguagem, e se manifesta como efeitos do inconsciente, associada a diferentes intensidades e direcionamentos da energia psíquica. De Freud a Lacan temos um novo grande salto teórico, que nos permite integrar a linguística de Saussure à psicanálise de Freud, sendo proposta por Lacan uma verdadeira e impactante releitura teórica. Jacques Lacan, psicanalista e teórico francês, subverte a relação significante/significado, afirmando: “O inconsciente é estruturado como linguagem”, e como tal, se depara com uma sequência infindável de significantes que se ligam uns aos outros no percurso de uma história subjetiva, com seus conteúdos em redes complexas de possibilidades interpretativas, deixando na correlação com o significado apenas rastros e pistas indeléveis, cambiantes, sutis e pertencentes a uma lógica diferenciada da lógica convencional. Lacan nos impacta em sua afirmação, subvertendo a ordem cartesiana: “Penso onde não existo e existo onde não penso”. Ou seja, agora coloca a primazia do significante sobre o significado. O significado passa a ser, a partir de Lacan, apenas um efeito simbólico da cadeia de significantes infindáveis enredados e ramificados ao longo de toda uma vida.

Temos aqui um único e brevíssimo flash do que seria este labirinto em que nos encontramos ora perdidos, ora acreditando que encontramos uma saída: Somos seres apenas resultantes dos efeitos de linguagem que nos tornaram impregnados da imagem do outro ou existe algo que nos define em nossa singularidade? Como podemos nos situar entre tudo o que nos estrutura e tudo o que nos afeta no cotidiano, desde as questões mais íntimas até aquelas que nos envolvem no todo da coletividade? No espaço entre a percepção consciente e o que nos toca no mais profundo das emoções, entre a reflexão e a ação, vivemos em um labirinto de forças e influências, tanto provenientes do mundo interno psíquico como do mundo externo ao eu, todas permeadas por complexas redes de significação e valores. O que realmente deveríamos focar como prioridade humana e onde se encontra o significado que dá consistência ao viver e à existência humana?

Há que percorrer um labirinto pessoal, instintivo, racional, emocional, consciente, inconsciente, porém, insubstituível e definitivamente, intransferível em direção à construção de uma subjetividade que fundamente os requisitos para a auto-aceitação e a autovalorização, com a consistência psíquica que as vicissitudes da vida exigem de nós, seres de linguagem.

 

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae

Consultório: São Paulo (SP) Brasil
(11) 971.121432

Perdizes: R. Ministro Godói, 1301
contato@psicatarina.com

Psicologia em casos de AVC

Por | Neuroplasticidade, Psicanálise e AVC, Psicologia e AVC, Psicoterapia e AVC | Nenhum Comentário

 

O paciente acometido pelo AVC (Acidente Vascular Cerebral) pode apresentar sequelas motoras, alterações de linguagem e distúrbios psíquicos. Os danos psicológicos mais comuns do AVC estão ligados a sintomas depressivos, como apatia, desânimo, tristeza, irritabilidade, pensamentos negativos, baixa tolerância a frustrações e perda da autoestima, o que leva o paciente a perder a esperança na recuperação de suas funções e reduzir os seus esforços para o processo de reabilitação. Os sintomas de linguagem compreendem desde um quadro de afasia até alterações na movimentação dos órgãos fono-articulatórios gerando dificuldades de fala, mastigação, deglutição, alterações de memória, compreensão e expressão.

Sintomas depressivos e alterações do humor do paciente pós-AVC

Os sintomas depressivos podem retardar o processo de recuperação na área funcional, cognitiva e motora, interferindo negativamente na reabilitação global do paciente, seja da marcha, memória, linguagem de fala e/ou escrita. Os familiares podem observar alterações no comportamento do paciente que são difíceis de contornar, pois é comum o aumento da irritabilidade, alterações do humor, impaciência e agressividade frente às limitações físicas e motoras e às dificuldades da família em compreender e encontrar maneiras adequadas para lidar com o paciente, que muito frequentemente sente-se infantilizado. O sucesso da reabilitação depende de múltiplos fatores como gravidade e extensão da lesão, faixa etária, estrutura psíquica do paciente, estrutura familiar e fatores sócio-econômico-culturais.

Neuroplasticidade em casos pós-AVC

Entre os principais profissionais que compõem a equipe de reabilitação do paciente pós-AVC encontramos o psicólogo, o fonoaudiólogo e o fisioterapeuta, os quais, em parceria, podem assumir uma postura única visando a recuperação neuropsíquica do paciente para a reabilitação das funções motoras ligadas à marcha, às atividades de vida diária, à comunicação oral e escrita e à potencialização de recursos internos do paciente para a aceitação dos limites, adaptação às mudanças de estilo de vida, melhora da autoestima e do quadro geral. Algumas limitações podem ser incapacitantes e duradouras, outras podem ser minimizadas com a reabilitação e todo o trabalho terapêutico conduz a potencializar o processo da neuroplasticidade, ou seja, reorganizar as áreas cerebrais para a retomada ou desenvolvimento de funções neurológicas. Contudo, este trabalho pode ter um resultado mais lento do que o paciente espera, e todas as particularidades podem causar um enorme desgaste emocional tanto para o paciente como para sua família. Em casos em que os sintomas psíquicos perduram ou intensificam-se, torna-se necessário um acompanhamento psiquiátrico associado à psicoterapia.

Orientação familiar e Psicoterapia ao paciente pós-AVC

A orientação familiar é fundamental para facilitar a aceitação e adaptação às novas condições de vida do paciente com sequelas e perdas decorrentes do AVC. É bem frequente uma mudança de comportamento do paciente, que torna-se ora deprimido, ora agressivo com as suas dificuldades em sentir-se compreendido. As mudanças de rotina abalam a estrutura familiar, podendo desencadear conflitos familiares quanto à melhor conduta, sobre quem irá assumir os cuidados do paciente após o seu retorno da internação, como irão administrar todas as tarefas. A família está sujeita às mudanças impostas pelas sequelas do AVC, sendo a perda da independência e autonomia do paciente um dos problemas mais difíceis de aceitar e administrar no meio familiar. Em especial, se a família já enfrentava anteriormente ao AVC conflitos de relacionamento com o paciente ou com os familiares entre si, as questões relacionadas aos cuidados com o mesmo podem complicar-se ainda mais, pois nem sempre é possível encontrar uma solução onde todos os envolvidos concordem entre si.

Como atendi na área de Fonoaudiologia por muitos anos, tenho bastante experiência em casos de AVC. Após a minha formação em Psicologia e Psicanálise passei a não atender mais como fonoaudióloga e hoje o meu trabalho é direcionado para o atendimento em psicoterapia em casos de alterações psíquicas associadas a transtornos neurológicos e pós-AVC. Em especial, o meu trabalho como psicoterapeuta visa ajudar o paciente pós-AVC a tratar dos sintomas de ansiedade, depressão, dificuldades de relacionamento e autoestima, além da orientação e terapia familiar, quando necessário. Este trabalho pode ajudar o paciente a visualizar um novo horizonte onde caibam suas angústias e esperanças, sua história de vida revalorizada e sua autoimagem reelaborada.

(Texto reeditado pela autora)

Catarina Rabello
Psicóloga Crp30103/06
Especialização em Neuroeducação CEFAC
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Psicoterapia psicanalítica
Terapia e Orientação Familiar
Coaching Pessoal Profissional e Liderança pela Sociedade Brasileira de Coaching (SBC)


Consultório São Paulo (Brasil)
(11) 97043442
contato@psicatarina.com
Perdizes: R. Ministro Godói, 1301
Tatuapé:  R. Serra de Botucatu, 48

O processo psicanalítico: sonhos, metáforas e reflexões

Por | Abordagem psicanalítica, Psicanálise, Reflexões, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O processo psicanalítico, assim como o percurso de uma viagem ou até mesmo a interpretação de um sonho envolve muitos momentos que não são estáticos, pelo contrário, o movimento que se produz e que é impulsionado na dinâmica terapêutica é o que permite ao paciente a evolução em sua caminhada de conhecimento, reconhecimento e elaboração de suas dúvidas, angústias e conflitos.

Acessar os mecanismos psíquicos exige uma abertura para um olhar de maneira ampla. Assim como uma viagem nos proporciona olhares através de diferentes ângulos e profundidades e os seus registros podem ser revelados por tomadas fotográficas nos seus mínimos detalhes e pormenores, assim a análise permite rever alguns pontos específicos onde a memória ficou cristalizada em suas distorcidas interpretações e possibilita reordená-las, quando e onde quer que seja desejado, dirigindo a estas um foco diferente e uma iluminação própria. Simultaneamente, é  importante valorizar as imagens que já puderam ser tratadas, cuidadas, que apresentam um bom resultado e desvendam capacidades que se encontravam adormecidas, assim como fazemos quando temos a oportunidade de obter tomadas fotográficas em horários diferentes do dia, os seus coloridos se modificam conforme a incidência da luz do sol, e tudo parece estar diferente, apesar de ser o registro de um mesmo ambiente. Estar disponível a esta viagem ao inconsciente e verificar quais as possibilidades de reorganizar e dar sentido às imagens que surgem desconexas como em um sonho, não é uma tarefa fácil, mas exige esta mesma disponibilidade que precisamos ter ao empreender em uma longa viagem, a capacidade de aceitar um tanto de surpresas e incertezas e despertar a capacidade de lidar com o novo, pois o viver exige-nos sermos capazes de lidar com o novo, e esta é uma vertente da verdadeira resiliência.

Presenciar momentos de nitidez nas imagens que se sucedem em um percurso analítico produz uma sensação de completude muito parecida ao encontro e à comunicação que realizamos em uma viagem quando nos encontramos com paisagens surpreendentes. Somente após um longo percurso é que podemos olhar quantas foram as voltas que demos, quantas curvas perigosas por onde passamos, quantas subidas e descidas, quantas e quantas vezes paramos para olhar o infinito e nos permitimos sermos invadidos por uma sensação de encantamento diante da imensa complexidade da vida e do nosso mundo repleto de imagens que ora se integram, ora se complementam, formando um enredo e contando uma história muito particular! Esta viagem, sem dúvidas, não tem como nos trazer de volta ao que éramos antes, se, de fato… tomarmos os devidos cuidados. As metas da análise, assim como da interpretação de um sonho, ou de uma viagem, incluem encontrar-se com uma gestalt, que possa ser única, representável e capaz de elevar a capacidade de dar sentido e produzir uma fruição, assim como nos sentimos quando podemos fruir de uma obra de arte que realmente nos toca, pois diante deste contato, nos sentimos mais humanos e podemos dar mais valor aos sensíveis e delicados momentos de uma grande emoção.

Quais são os cuidados necessários? Assim como o condutor em uma viagem deve conhecer bem o caminho e ser habilitado perfeitamente a empreender em condições seguras uma viagem, assim se exige de um analista, que seja capaz de acompanhar seguramente o processo analítico de seu paciente, que conheça as leis do funcionamento mental, que esteja apto à condução segura em pontos arriscados e temerosos do seu percurso, que permita ao seu paciente escolher as imagens que ele queira tomar como significativas, que o motive a continuar descobrindo novos encontros com a sua subjetividade, e que o faça de maneira inédita, singular, profunda e em especial, resultante em sentidos que reforcem a alegria em desvendar-se a si mesmo e situar-se, ao mesmo tempo, na imensidão das possibilidades de construir o próprio percurso e traçar a sua própria trajetória.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo Departamento de Psicanálise Instituto Sedes Sapientiae

Contato: (11) 97043 4427
contato@psicatarina.com

 

Filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain” (França/2001)

Por | Psicanálise e cinema, Psicanálise e cultura, Subjetividade e autoconhecimento | Nenhum Comentário

 

O filme “O Fabuloso Destino de Amèlie Poulain”, de Guillaume Laurant e direção de Jean-Pierre Jeunet ( França/2001) protagonizado por Audrey Tautou, é lindo, profundo e encantador. Reúne sensibilidade, humor, uma fotografia maravilhosa e uma história dramática de uma menina que tinha tudo para ser triste, mas que descobriu ao longo da vida a arte de expressar amor e  estabelecer vínculos afetivos, apesar dos sentimentos de solidão que permearam toda sua infância e adolescência. Amèlie tornou-se curiosa, imaginativa e muito empática, talvez fruto das vivências do profundo desamparo familiar, que marcou uma impossibilidade na infância de ser reconhecida como uma criança normal com necessidades de afeto, um olhar mais cuidadoso e experiências mais ricas de interação social.

Amèlie passou por todo um processo de autodescoberta de sua sensorialidade, sensualidade e sensibilidade amorosa, buscando respostas às vicissitudes da vida, o que a transformou em uma pessoa extremamente observadora, sensível, curiosa e empática a todos os dissabores daqueles de quem se aproximava, quer tivessem problemas de ordem amorosa, mental ou psicológica, quer fossem portadores de problemas e deficiências físicas, como a linda cena onde acompanha um cego ao atravessar uma rua e se permite ser os olhos dele ao caminhar, contando-lhe sobre os pormenores e sensações que o ambiente era capaz de lhe proporcionar.

O filme traz à tona uma possibilidade de circularmos entre o real e o imaginário, entre o sonho e a fantasia de forma leve, especialmente alegre, inusitada e profundamente criativa, em um roteiro muito delicadamente trabalhado e cativante de transformação pessoal, onde os personagens que carregavam as suas frustrações cristalizadas foram dissolvendo-as, cada um ao seu tempo e conforme o seu seu perfil psicológico particular, sempre com a ajuda de Amèlie.

Quando Amèlie se propõe a ajudar o outro a reconciliar-se com seu passado e sua  história, é pega de surpresa pela sua capacidade de apaixonar-se e descobre-se também no mesmo processo de reconciliação consigo mesma, com sua subjetividade e  com sua própria história. A partir daí Amèlie é capaz de abrir mão de suas defesas e sair do anonimato para poder expressar-se mais aberta e livremente em um processo lento e gradativo, onde vai delicadamente abandonando seus medos e inibições, aqueles que foram modelados por experiências  da infância em que não pode ser vista nem ouvida, onde o sentir-se amada como merecia precisou passar por uma reconstrução análoga a um quebra-cabeças de registros esparsos de pedaços de cenas, imagens e falas, que foram sendo pouco a pouco resignificados pelo impacto afetivo das novas relações que foram surgindo em sua vida. Descobre enfim que o amor pode ser compartilhado e não apenas vivido de maneira solitária, traçando uma trilha de buscas, encontros e descobertas.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga CRP 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Terapeuta de Casais, Famílias, Adolescentes e Adultos

Consultório São Paulo-SP
(11) 970434427

 

Associação entre Obesidade e Tabagismo

Por | Obesidade, Saúde pública, Tabagismo, Transtornos alimentares | Nenhum Comentário

 

 

Em pesquisa realizada no Reino Unido e publicada em 16/maio/18 pela BMJ, ScienceDaily “Obesity linked to increased risk of taking up smoking and smoking frequency”, cientistas franceses e ingleses descobriram uma base comum neurobiológica entre a obesidade e a adição ao tabaco e as suas implicações clínicas na saúde pública, concluindo que pessoas com maior tendência genética para a obesidade apresentam mais chances de serem fumantes.

É conhecido popularmente que os pacientes que conseguem se libertar da dependência do cigarro tendem a ganhar peso com a transferência da compulsão do fumo para a compulsão alimentar. Entretanto, no estudo citado os pesquisadores franceses e ingleses descobriram através de estudos genéticos do grupo de genética epidemiológica da Internacional Agency for Research on Cancer, em Lyon, França, realizados com 450.000 sujeitos de dois estudos, que para cada unidade a mais de índice de massa corporal (IMC) determinada geneticamente, existe um risco 18% maior de ser fumante ou ex-fumante. A pesquisa revelou também uma tendência de aumento da frequência do uso do cigarro relacionada à obesidade, com aumento de quase um cigarro por dia para o aumento de cada unidade de massa corporal. Os pesquisadores descobriram polimorfismos em um grupo de genes que sugerem uma base biológica comum para comportamentos aditivos, como a adição à nicotina e compulsão alimentar.

As pesquisas sobre a relação entre obesidade e fumo são difíceis de realizar devido às interferências do estilo de vida dos sujeitos pesquisados, como atividade física, sedentarismo, hábitos alimentares, níveis de estresse e outros. Entretanto, os resultados destes estudos genéticos sugerem que o comportamento compulsivo alimentar aumenta a probabilidade do comportamento tabagista, e não vice-versa.

Sabemos que a obesidade e o tabagismo são problemas importantes de saúde pública a nível mundial que estão associados a patologias crônicas com alto índice de risco de mortalidade como o câncer e as patologias cardíacas. Os resultados obtidos nesta pesquisa podem ter implicações importantes nas políticas públicas de saúde e elaboração de estratégias de controle de peso e prevenção do tabagismo. A importância de hábitos saudáveis e educação em saúde para a prevenção de doenças crônicas a todas as faixas etárias, especialmente às populações jovens, já que nesta pesquisa a média de idade do início do tabagismo foi 17 anos, deve ser alvo de estudos, debates e ações de conscientização social.

 

Indicações da Psicanálise Perdizes e Tatuapé

Por | Abordagem psicanalítica, Autoimagem e autoestima, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

Estamos sendo capturados a todo momento por um universo cujo volume incessante de imagens e informações direcionam, de certa forma, os nossos desejos, pensamentos, sonhos e emoções. Estar imerso neste mundo de riqueza de linguagens e velocidades diversas pode nos levar a uma maior vulnerabilidade psíquica e, consequentemente, à perda de contato com os aspectos mais subjetivos do ser.

As perguntas “Quem sou?” e “O que preciso para ser feliz?”  estão sendo respondidas a todo o momento por uma quantidade enorme de demandas externas que nos cercam. Entretanto, a linguagem interna dos sentimentos, sensações, desejos e emoções, muitas vezes não consegue ser capturada com tanta clareza como os signos linguísticos que nos invadem continuamente pelos meios da comunicação digital.

As sensações de angústia, tristeza, ansiedade, medo, incerteza e insatisfação podem ocupar o espaço interno mental sem que o indivíduo tenha consciência da importância da conexão consigo mesmo, com as suas questões subjetivas, ou com os efeitos das marcas de sua história de vida no psiquismo.

A falta de sintonia entre as demandas psíquicas internas e as demandas do mundo externo pode levar a idealizações dissociadas da realidade, produzindo um desgaste da autoimagem e autoestima. As dificuldades emocionais ligadas aos insucessos em lidar com os desafios da vida podem desencadear sintomas psíquicos associados às depressões, medos e ansiedades, que comprometem o desenvolvimento global do indivíduo e o processo de escolhas que remetem à realização de um sonho de felicidade almejada.

Poder falar de si mesmo em um processo terapêutico é uma oportunidade de reconectar-se com o ser subjetivo que encontra-se permeado de expectativas e frustrações por vezes muito intensas, contraditórias ou duradouras. De certa forma, o que possibilita com que uma pessoa conviva tanto tempo com um elevado grau de angústia, sofrimento e insatisfação está relacionado ao seu potencial de resiliência. Entretanto, o equilíbrio emocional pode tornar-se frágil e desgastado pela ineficácia das defesas internas, que já não conseguem suportar o nível de estresse psíquico. Ao surgirem sintomas de depressão, ansiedade, medo, pânico, ou sintomas de origem psicossomática, que prejudicam significativamente a qualidade de vida,  a pessoa se dirige finalmente à procura de uma ajuda terapêutica. Entretanto, se esta procura de ajuda é adiada por muito tempo e por diversos motivos, maiores se tornam os desdobramentos de uma falta de sintonia do paciente consigo mesmo, tornando mais complexas as suas dificuldades e mais cristalizadas as suas sintomatologias.

Na abordagem psicanalítica, os sintomas psíquicos ou psicossomáticos, aqueles que associam as questões inconscientes aos sintomas físicos, podem ser analisados e interpretados como indicativos de dificuldades importantes em conciliar os conflitos provenientes da luta entre as questões da subjetividade inconsciente.  Estes conflitos podem ter origem até nas vivências mais remotas da infância e as suas representações podem ser trazidas à consciência através da escuta analítica e serem trabalhadas através da análise.

A psicoterapia de abordagem psicanalítica pode ajudar o paciente a reconciliar-se consigo mesmo, com sua história de vida e seus traumas, identificar os valores que orientam a sua vida, resgatar os recursos psíquicos que lhe permitam lidar melhor com a sua subjetividade inconsciente, recuperar ou desenvolver a capacidade de manter o equilíbrio corpo/mente e seguir no desenvolvimento de seus potenciais para a auto-realização, saúde e bem-estar.

 

 

Catarina Rabello
Psicóloga Crp 30103/06
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae
Neuroeducadora CEFAC

Consultório: São Paulo-SP
(11) 970434427
contato@psicatarina.com

 

Filme Lou Andreas Salomé (2016)

Por | Cultura, Gênero, Psicanálise | Nenhum Comentário

 

 

Lou Andreas Salomé, nascida na Rússia imperial em 1861 é, sem dúvida, uma das personalidades mais marcantes e polêmicas da cultura europeia e do momento político do início do século XX. A escritora  transita sobre os temas do amor, sexo e erotismo de maneira inteiramente genuína enfrentando tabus e preconceitos, colocando-se como uma mulher apaixonada pela vida e pela liberdade de ser ela mesma, rompendo totalmente com os padrões de comportamento esperados para a sua época. Teve relacionamentos com filósofos e poetas importantes, porém, perseguia o ideal do amor com liberdade, tendo sido o grande amor de Friederich Nietzsche. Em 1911 conhece Freud, faz  análise com ele e apaixona-se pela psicanálise. O filme, além de nos apresentar a sua biografia, nos permite mergulhar no caldo da cultura europeia efervescente entre o final do século XIX e começo do século XX, quando apenas algumas mulheres tinham conquistado ainda um espaço no mundo da intelectualidade masculina. Foi uma das primeiras psicanalistas mulheres e seus escritos estão mais atuais do que nunca, causam impacto nos debates filosóficos, sociológicos e psicanalíticos especialmente sobre as questões que giram em torno do feminismo, de gênero e do narcisismo.

O filme é excelente, nos coloca em contato com questões tão coletivas e tão particulares ao mesmo tempo e incita-nos a muitas reflexões. O escolhi especialmente em homenagem ao dia do psicanalista, dia 06 de maio, data de nascimento de Sigmund Freud. Um dos aspectos cenográficos  mais marcantes do filme, é a possibilidade de cenas reais relacionadas ao passado da personagem, simplesmente “brotarem” de fotografias antigas, análogo ao processo da análise, como um arquivo de traços de memória embutidos em flashes fotográficos, que vão aos poucos, se conectando, um a um, e reorganizando uma história autobiográfica, com toda a emoção que é possível ser tocada a partir destas revivescências.

 

 

Catarina Rabello
Psicanalista membro efetivo do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae