A empresa familiar apresenta peculiaridades que propiciam a seus integrantes um estado de segurança maior. Entretanto, esta segurança pode ser abalada pelos conflitos internos, que ocasionalmente se intensificam quando os familiares apresentam pontos de vista muito diferentes.
Estudos sobre a empresa familiar referem como um dos maiores problemas a sucessão patrimonial. Um processo de sucessão não muito bem trabalhado, não planejado ou até mesmo não muito desejado ou esclarecido, pode gerar sérios conflitos, os quais, se não forem tratados, podem levar à dissolução da empresa ou até mesmo da família, em casos extremos.
A abordagem psicoterápica da família de empresa familiar exige do profissional uma gama de estratégias e um olhar abrangente, desde como abordar o sujeito individual até o grupo familiar e social com suas características próprias. O psicoterapeuta deve dominar um espectro de teorias e técnicas que permitam analisar o sistema familiar com uma leitura sistêmica e psicodinâmica.
A abordagem da teoria sistêmica prevê compreender todos os fatores que interferem no sistema familiar, desde as origens socioculturais até a historia da família nuclear, com seus pares e duplas de relacionamento dentro do sistema maior. As origens socioculturais indicam não somente valores e crenças transgeracionais, mas a reprodução de hábitos e padrões de linguagem e comunicação. A forma como as interações evoluem ao longo da história familiar é determinante nas buscas de consenso no ambiente profissional. Os conflitos intergeracionais tão comuns no ambiente familiar facilmente se reproduzem no ambiente profissional da empresa familiar, gerando uma dificuldade dos integrantes em separar os focos de desentendimentos entre as questões pessoais e as relativas às competências individuais.
As questões emocionais envolvidas são as mais difíceis de lidar e as menos discutidas com a devida profundidade nos artigos sobre a administração de conflitos do grupo familiar na empresa. Nos artigos referentes à administração de empresas, apontam-se os núcleos dos conflitos como gerados basicamente pelos problemas de comunicação. Entretanto, a dificuldade em mudar e transformar os padrões comunicativos das famílias exige compreender a psicodinâmica grupal, incluindo sempre um olhar para a subjetividade de cada integrante, com suas características ligadas ao ciclo de vida em que se encontra, as dificuldades intergeracionais, os papéis e funções que cada um assume dentro e fora da empresa, e, em especial as questões inconscientes que se manifestam de forma latente, como repetições nas formas de interpretar e reagir frente à atuação do outro.
O psicoterapeuta deve saber circular pelo sistema do grupo familiar e poder acolher as intensas demandas individuais de apelo pela falta de compreensão. Este aspecto em geral faz parte do discurso familiar como um todo, e a falta de compreensão mútua produz e reforça as falhas de entendimento em momentos de crises e conflitos familiares. A terapia se torna dinâmica quando o terapeuta consegue se aproximar das questões individuais de cada familiar presente, tentando facilitar um olhar mais amplo daquele que se encontra fixado em um ponto específico do problema que o grupo esteja debatendo. Para tanto, deve fazer uso de técnicas terapêuticas diversas. Eu costumo utilizar técnicas da arteterapia e do psicodrama em dinâmicas cujo foco seja o autoconhecimento. As técnicas da arteterapia aproximam as pessoas do grupo, pois o uso de códigos de linguagem diferentes da fala, que costuma ser carregada de falhas de escuta e expressão, facilita o reencontrar-se com uma linguagem mais harmônica, integrando a expressão artística a uma representação emocional. Falar de emoções não é nada fácil, porque temos uma tendência cultural a reprimirmos a emoção e racionalizarmos com subterfúgios frágeis e repetitivos. Compreender estes processos incluindo os conceitos teóricos da psicanálise, entre os principais, o conceito de inconsciente e como ele se manifesta, se transforma na ferramenta básica de um terapeuta que pretende trabalhar com grupos de empresas familiares. À medida que o terapeuta faz parte do grupo e o ajuda a lidar melhor com suas diferenças, diminuem os estados críticos de tensão familiar, e os integrantes começam a usufruir de maneira mais justa da contribuição que cada um pode oferecer ao bom funcionamento da empresa.
Catarina Denise Rabello Osoegawa
Psicanalista







